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EUA já não vivem segregação institucionalizada, mas devem avançar, diz ativista

Sessenta anos depois da prisão da afro-americana Rosa Parks pela recusa a se levantar de um assento no ônibus coletivo que era reservado aos brancos na cidade de Monterrey (Alabama), os Estados Unidos já não vivem a segregação institucionalizada e têm todo o aparato legal para combater a desigualdade. O problema, no entanto, persiste e fica claro quando se observa a violência policial contra negros. Outro fator é que os negros ainda não estão em pé de igualdade com os brancos no mercado de trabalho.
Essa é a visão de analistas e entidades que atuam em defesa dos direitos civis nos Estados Unidos. “Se olhamos o passado, vemos o quanto caminhamos. É só olhar para o presidente Barack Obama, que elegemos duas vezes. Mas se olhamos o presente, vemos que ainda há um caminho longo a trilhar”, afirmou à Agência Brasil a ativista afro-americana Jacqueline Leathers.
Ela faz uma comparação entre os anos de Rosa Parks e a atualidade e lembra que os direitos civis saíram de um estado em que a segregação era lei. Escolas eram separadas pela cor da pele e as destinadas aos negros eram muito inferiores. Havia restaurantes exclusivos para negros e para brancos, banheiros públicos e bebedouros eram separados e o transporte público reservava assentos na parte da frente aos brancos e na parte de trás à população negra.
"Obviamente isso mudou", diz Jacqueline. Mas, segundo ela, ainda há segregação de forma mais velada e o tema é delicado. “A população negra continua sendo mais vulnerável. Começamos em uma base desigual e continuamos atrás. "Negros têm desempenho inferior nas escolas, tem menores salários e em média tem empregos inferiores aos brancos”, acrescenta.
Os índices de desemprego, por exemplo, mostram que os negros são mais vulneráveis em momentos de recessão. O último censo norte-americano trouxe um estudo com um paralelo entre os desempregados durante a crise de 2008. Cerca de 18.2% da população negra perderam o emprego, 10 pontos percentuais a mais que a população branca (8%).
Violência policial
Os casos de Ferguson e Baltimore são episódios recentes que mostraram a tensão racial entre os grupos e despertaram marchas e protestos, pacíficos ou violentos, contra a maneira pela qual policiais agiram com dois jovens negros. Freddie Gray morreu em abril em Baltimore, golpeado por policiais quando estava sob custódia e Michael Brown, em Ferguson, no Missouri, levou um tiro de um policial branco.
Na época o presidente Barack Obama chamou a atenção para o caso e disse que era claro que a “tensão existia e que a conduta policial precisava ser revista e avaliada”.  Pouco depois, a Procuradoria de San Francisco mandou investigar mensagens trocadas entre policiais que se referiam a detidos negros com palavras racistas, sugerindo tratamento inadequado e violento com os presos.
“Há mais casos de abuso de poder, de violência com os negros e há uma cultura de associar o negro à criminalidade. Há muito mais negros detidos que brancos”, lembrou Jacqueline.
Segundo pesquisas de organizações de direitos civis norte-americanas, 40% dos detentos do país são afro-americanos, 33% são brancos.
Mudança de mentalidade
O ensino público nos Estados Unidos inclui no currículo a história dos direitos civis. Crianças do ensino fundamental, por exemplo, em escolas de Atlanta sabem dizer, aos 6 ou 7 anos, quem foi Martin Luther King (líder do movimento dos direitos civis dos negros). Em várias escolas, crianças brancas e negras brincam juntas e dividem o mesmo espaço.

Para a ativista, o problema é manter o que as crianças aprendem na escola, em casa e em outros contextos sociais. “Se a criança aprende na escola sobre igualdade, ela verá o outro como igual, mas em casa, ela pode encontrar o comportamento racista dominante e terá um conflito mais à frente. Isso a criança leva, vai passando adiante o racismo e o ressentimento”, comenta Jacqueline.