AdsTerra

banner

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Fida Goulart Macedo

Irmã mais velha de Jango morre aos 97 anos em Porto Alegre

Morreu no dia12 Fida Goulart Macedo, irmã do ex-presidente João Goulart e da mulher do ex-governador Leonel Brizola, Neusa. Era mãe do publicitário Luiz Macedo, um dos fundadores da agência de publicidade MPM, destacada no mercado brasileiro nos anos 70 e 80.

Nascida em São Borja, ela tinha 97 anos e foi vítima de falência múltipla dos órgãos. Registrada como Elfrides, era a mais velha de sete irmãos. Na juventude, costumava cuidar dos menores e era a responsável nas brincadeiras.
  • Gostava de ser chamada de tia Fida e, como era 12 anos mais velha, ensinou as primeiras letras ao Jango, lá na Fazenda Nossa Senhora do Socorro – diz a irmã Yolanda.

Filha de Vicentina Marques e Vicente Rodrigues Goulart, estudou no Colégio das Irmãs Teresinas, em Itaqui, à época um dos melhores da região. Dona Fida morou grande parte de sua vida na fazenda principal da família, em São Borja, onde o marido, Joaquim Faria Macedo, era um dos responsáveis. Mudaram-se para Porto Alegre nos anos 40.
  • Bastante ligada à família, Dona Fida é definida como uma mulher independente e calma.
  • Era uma mulher de bom senso, a voz dela era acatada em todas as oportunidades pela família – destaca o filho Luiz.

Apesar de pertencer a uma família de políticos, nunca participou ativamente da vida pública.
  • Ela sempre esteve distante da política, acompanhava mas não se envolvia. Mesmo assim, nunca deixou de votar. Ela fazia questão em ir – conta a filha Terezinha.

Católica, costumava frequentar a Igreja Auxiliadora, onde colaborava com as quermesses e visitava os doentes. Em casa, costurava casacos de crochês e pintava porcelanas. Dona Fida convivia muito bem com as pessoas mais jovens e era admirada pelos netos.
  • Ela era reservada, não perguntava como ia a tua vida nem dava conselhos, mas todos sabiam que por traz disso tinha uma pessoa doce e que conseguia aglutinar a família – conta o neto Ivan.

Fonte: Zero Hora, página 47 de 23 de julho de 2004.

domingo, 18 de julho de 2004

Uma brava nação, por Sérgio da Costa Franco*

Data Nacional do Uruguai – 18/07/1830

Ni enemigos le humillan la frente,
Ni opresores le imponen el pié.
(Versos do hino nacional uruguaio)

Dezoito de julho, data do juramento da sua Constituição de 1830 é a data nacional do Uruguai. E o fato de termos nascido na fronteira de Jaguarão, onde brasileiros e uruguaios convivem fraternalmente, e de termos trabalhado na fronteira de Quaraí, junto à simpática e acolhedora cidade de Artigas, arrolou-nos definitivamente entre os amigos e admiradores da República Oriental.
O Uruguai, com escassos 180 mil quilômetros quadrados, o equivalente a dois terços do Rio Grande do Sul, parece um desses milagres pouco explicáveis da geopolítica. O fato de haver resistido às pretensões expansionistas de dois vizinhos poderosos – Argentina e Brasil – exige algo mais que meras explicações casuísticas. A posse de um porto acessível e de águas profundas, melhor que o seu concorrente da outra margem do Prata, desenha-se como a matriz principal da vocação autonomista dos orientais, cujo destino mais lógico teria sido a vinculação com as Províncias Unidas do Rio da Prata. Por outro lado, se não fosse Montevidéu um seguro porto para a navegação oceânica, enquanto o nosso Rio Grande era um cemitério de navios e de vidas, é bem possível que a transitória incorporação da Cisplatina ao Brasil pudesse ter perdurado. Mas a História não se faz de hipóteses e de discursos condicionais. Os uruguaios hão de concordar em que sua nação tudo deve ao seu porto, onde, aliás, se concentra quase a metade da população do país. Também é pacífico que a diplomacia britânica, interessada na existência de um Estado-tampão entre Argentina e Brasil, foi a madrinha da independência uruguaia. Porém, o fato de o Uruguai ter atravessado 176 anos de vida independente sem submeter-se à gula e às ambições de seus vizinhos revela uma nação de personalidade, de identidade própria e de aspirações autônomas. Mesmo que, ao nascer, tenha sido acalentada pela poderosa Inglaterra – um criador que, ao longo do temo, perdeu o controle de suas criaturas...
Entretanto, o que mais cabe admirar, na história do Uruguai, é a sua devoção à educação popular, mormente a partir da grande reforma escolar de 1876, empreendida por José Pedro Varela. Adotando os princípios da gratuidade e da laicidade da escola pública, o jovem José Pedro Varela, que faleceu aos 34 anos de idade, iniciou em seu país uma verdadeira revolução, responsável por maiúscula transformação na vida cultural. Em sua exposição de motivos, Varela registrava que, nos últimos 45 anos, houvera 19 revoluções no país, e que, desde a independência, nem 10 livros tinham sido editados. Revoluções e maus governos, segundo ele, seriam corolários da ignorância popular. Apesar da reação do clero, do bispo de Montevidéu, dos políticos que perdiam a faculdade de nomear e desnomear professores, a reforma foi implantada, com pulso firme pelo presidente Latorre, um autoritário de visão reformista e modernizante. E o fato é que, por longos anos, foi modelar a instrução pública no Uruguai, causando inveja aos brasileiros da fronteira, cujas aulas, por vezes, não bastavam para atender à população em idade escolar, obrigando-nos à suma vergonha de matricular crianças brasileiras na escola de “allá”.
Em verdade, nunca tivemos no Rio Grande do Sul um programa eficiente de educação, como o que se implantou na República Oriental. Nem conseguimos atingir os índices de escolaridade e alfabetização alcançados na pátria de Artigas. Só esse fato justifica homenagem muito calorosa ao Uruguai em sua data nacional.


*Historiador


Fonte: Zero Hora, página 17 de 18 de julho de 2004.

quarta-feira, 14 de julho de 2004

A desigualdade intelectual

Radiografia da desigualdade
Estudo classifica participação de países na produção científica mundial. Brasil é 23º

A produção científica de ponta é marcada por uma esmagadora assimetria entre os países do mundo. Um grupo de 31 nações – incluindo o Brasil – é responsável por 98% dos artigos mais citados em revistas especializadas nos últimos anos. Os outros 162 países do globo respondem por apenas 2% desses artigos. A desigualdade é ainda mais impressionante se considerarmos apenas oito países de maior produção científica: esse grupo concentra 84,5% dos artigos mais citados.
A conclusão é de um levantamento publicado em 15 de julho na revista Nature, em que David Ling, da Agência de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, compara e analisa a participação de cada país na produção científica mundial. O britânico levou em conta dados relativos ao período entre 1993 e 2002, compilados pelo Thomson ISI, instituto responsável por reunir informações sobre mais de 8000 periódicos publicados em 36 línguas.
A análise de King se concentrou nos 31 países responsáveis por praticamente toda a ciência de ponta no mundo – definida como o grupo de 1% de artigos de cada especialidade mais citados por ano. A lista é encabeçada pelos Estados Unidos, que têm participação em 62,76% dos artigos mais citados. Completam o 'top-10 da ciência' Reino Unido, Alemanha, Japão, França, Canadá, Itália, Suíça, Holanda e Austrália.
Com a participação em apenas 0,5% dos artigos mais citados, o Brasil aparece na 23ª posição, atrás de China (19º), Coreia do Sul (20º), Polônia (21º) e Índia (22º). A lista com os 31 países de maior produção científica conta com um único representante africano: a África do Sul, na 29ª colocação. Na 30ª posição, o Irã é o único país do mundo islâmico.
A participação brasileira é um pouco mais significativa se considerado o total de artigos publicados nos periódicos indexados. Nesse ranking, o país ocupa 17ª colocação, com participação em 1,21% do total de artigos. Mas a posição do país poderia ser bem mais baixa se tivesse sido usado um critério que medisse a transformação do conhecimento científico em tecnologia e inovação – como o número de pacientes, por exemplo. Em levantamento recente da ONU para avaliar as realizações tecnológicas de 72 países, o Brasil ficou na 43ª posição.
Embora receba críticas, o critério adotado por King – número de artigos publicados em periódicos indexados e número de citações – é o mais utilizado em estudos para medir a participação relativa na produção científica mundial. O britânico considera que o amplo volume de artigos considerados no levantamento possa compensar eventuais distorções provocadas pelo critério de avaliação.
Em seu artigo, King especula sobre as razões por trás da disparidade entre países constatada: “O desenvolvimento econômico sustentável nos mercados globais altamente competitivos requer um engajamento direto na geração de conhecimento”, diagnostica. “Mesmo melhoras modestas na saúde pública, saneamento básico, alimentação e transporte requerem capacidade em engenharia, tecnologia, medicina, negócios, economia e ciências sociais que estão além do alcance de mutos países.”

Fonte: Bernardo Esteves
Ciência Hoje Online

14/07/2004