Divisão que se aprofundou depois da eleição presidencial do ano passado emperra formação de bloco único na Câmara para avaliar projetos do governo Bolsonaro
Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo
Líderes de partidos de oposição a Jair Bolsonaro estimam ter entre 160 e 180 cadeiras na Câmara. O número seria suficiente para, no limite máximo, barrar a aprovação de emendas à Constituição e inviabilizar reformas. No mínimo, já poderia complicar a vida do governo – que ainda enfrenta dificuldades para montar uma base sólida de apoio na Casa. Isso seria verdade se a oposição estivesse unida, algo que não ocorreu até agora.
Disputas pela hegemonia no campo da esquerda – que nos últimos anos esteve sempre nas mãos do PT–, por espaços e postos no Parlamento e diferenças regionais ou de concepção estratégica estão por trás da falta de coesão das esquerdas. Outra forte razão é a perspectiva de candidaturas opostas nas eleições de 2022.
A divisão repete o segundo turno da campanha presidencial do ano passado, quando Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede) apoiaram Fernando Haddad (PT), enquanto Ciro Gomes (PDT) resistiu a compor uma frente para enfrentar Bolsonaro. Seu partido acabou oferecendo “apoio crítico” ao candidato petista. A distância se aprofundou durante a disputa pelos cargos da mesa diretora da Câmara. Neste caso, os parlamentares se dividiram quanto ao apoio à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Fernando Haddad discursa durante evento para celebrar os 39 anos do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo Foto: Sebastião Moreira/ EFE“Existe uma diferença de tática sobre como enfrentar Bolsonaro, isso é inegável. No caso de Ciro e do PCdoB, isso se expressou no apoio ao Maia”, disse o presidente do PSOL, Juliano Medeiros. Ele vai insistir na proposta de um fórum de presidentes dos partidos, apresentada no início de 2018 e logo abandonada por falta de adesões.
Divisões. Os partidos se dividem em dois grupos. De um lado, o bloco liderado por PCdoB e PDT, que afirmam defender uma oposição “responsável” ao governo Bolsonaro, de olho nos votos que essa estratégia pode trazer entre eleitores de centro-esquerda. Eles integram um bloco na Câmara com outros seis partidos que totaliza 83 votos, mas admitem que alguns deles devem compor a base do governo.
De outro lado, estão PT, PSB, PSOL e Rede, com 97 cadeiras, que defendem uma oposição sistemática a Bolsonaro. Eles dizem contar ainda com parlamentares desgarrados de siglas como MDB, PSDB, Solidariedade, PPS, PV, PROS, PP e Podemos, que se dizem insatisfeitos com o governo federal.
A divisão afeta até as mobilizações de rua. Diante da dificuldade para ampliar as adesões para além do campo da esquerda, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem partidos e movimentos de esquerda, desistiram da ideia de criar uma aliança em defesa de bandeiras da democracia que, na avaliação dos dois grupos, estariam sob ameaça com o novo governo. “Não há disposição política para uma frente permanente”, disse Raimundo Bonfim, da Frente Brasil Popular.
Bonfim confirma que os motivos para o distanciamento são a opção de Ciro e do PDT por buscarem setores do eleitorado de centro, o incômodo causado pelo hegemonismo do PT e o afastamento do PCdoB em relação ao PT.
As frentes também não contam com a participação de entidades ligadas ao PCdoB na jornada de manifestações contra a reforma da Previdência, programada para este mês. A União Nacional dos Estudantes (UNE), historicamente ligada à sigla, não compareceu a três reuniões da Frente Brasil Popular.
Filiada ao PCdoB, a presidente da UNE, Marianna Dias, disse que a entidade não participou das reuniões por motivos “operacionais”: a organização da Bienal de Cultura da entidade, que foi realizada em Salvador.
Lula. Segundo os políticos, a oposição deve se unir apenas em torno de temas pontuais, como a reforma da Previdência, mas não vai formar um bloco homogêneo. “Vamos nos rearticular em torno da Previdência. Já estamos mantendo conversas bilaterais”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE). O presidente do PDT, Carlos Lupi, vai na mesma linha. “Temos divisões de comportamento, mas não de visão estratégica.”
Já o PSB, com seus 32 deputados e três governadores, vai defender a unidade na luta contra a reforma da Previdência, mas deve manter distância do “Lula Livre”. “A proposta (da reforma) é tão ruim que não tem como ter divisão”, disse o presidente da sigla, Carlos Siqueira. “Achamos lamentável o ex-presidente estar preso, mas o ‘Lula Livre’ é uma campanha mais específica do PT”, disse ele.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da minoria na Câmara, minimiza o racha e elenca uma série de ações conjuntas marcadas para os próximos meses, como uma greve geral em 1.º de maio. “O ‘Lula Livre’ é uma bandeira central da democracia. O que o Ciro acha disso não importa. Estamos todos juntos na oposição ao Bolsonaro.”
Disputa por direção petista opõe Gleisi a governadores
Não bastassem as dificuldades para negociar um acordo com os demais partidos de oposição, o PT – que elegeu a maior bancada da Câmara e teve 47 milhões de votos no segundo turno da eleição presidencial – ainda precisa resolver suas próprias diferenças internas.
A disputa pela presidência do partido já começou. A atual presidente, Gleisi Hoffmann, deve tentar a reeleição. A deputada federal conta com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e de grupos organizados como o Movimento dos Sem Terra (MST), mas enfrenta resistências dentro de sua própria corrente, a Construindo um Novo Brasil (CNB).
Um grupo de governadores ligados à corrente defende um nome do Nordeste para presidir o PT. Os nomes colocados na mesa são os do senador Humberto Costa (PE) e do deputado José Guimarães (CE).
No ano passado, a ala da CNB contrária à Gleisi tentou emplacar o candidato derrotado à Presidência, Fernando Haddad, como sucessor da deputada, mas Lula vetou a articulação.
As diversas alas do PT não conseguem chegar a um acordo nem mesmo sobre o calendário para escolha das novas direções. A única certeza é que um plebiscito interno será realizado para decidir se o partido mantém o modelo de eleições diretas ou se volta a adotar o sistema de escolha de delegados.
Além disso, o PT tenta apaziguar a relação entre Gleisi e Haddad, hoje a maior figura do partido depois de Lula. A relação, que nunca foi boa, azedou de vez depois da tentativa frustrada de emplacar Haddad como presidente do PT.
Na última reunião da executiva nacional do partido, no dia 9 de fevereiro, os dois bateram boca por causa da viagem de Gleisi a Caracas para a posse de Nicolás Maduro.
No dia seguinte, Gleisi anunciou que Haddad seria o coordenador dos Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas do PT, mas o ex-prefeito recusou a tarefa.
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Estadão
O SACO DE BONDADES QUE O CONGRESSO PRECISA APROVAR
XVIII- 99/18 – 06.03.2019
XVIII- 99/18 – 06.03.2019
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LEGISLATIVO AINDA EM FÉRIAS
Bem diferente dos países de primeiro mundo, e inclusive até de muitos que fazem parte do segundo e terceiro, o Legislativo do nosso empobrecido Brasil ainda não deu o ar da graça em 2019. Pelo que se sabe, ou se especula, tudo leva a crer que, finalmente, o início dos trabalhos começa na próxima semana. A conferir.
DECRETO-LEI E MEDIDAS PROVISÓRIAS
O fato é que diante desta flagrante, irresponsável e nojenta paralisia, o Poder Executivo, para poder governar minimamente, de acordo com o que prometeu durante a campanha eleitoral, não teve alternativa senão a de editar o decreto-lei que flexibiliza a POSSE de armas, além de algumas importantes Medidas Provisórias.
O curioso é que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao invés de abrir a Casa para discussão dos projetos de real interesse do País, que não são poucos, preferiu manifestar o seu aborrecimento ao se deparar com as Medidas Provisórias, alegando que o papel do Executivo é o de governar e não legislar.
Pois, nem mesmo sabendo (imagino que saiba) do quanto o Brasil necessita de REFORMAS para poder sair da grave CRISE ECONÔMICO/FINANCEIRA que está metido, o presidente da Câmara Federal ainda se dignou a dar início aos trabalhos em 2019.
OCDE
Ora, enquanto os deputados curtem as férias (a atual corresponde ao Carnaval) espero que tomem conhecimento de que, inobstante o ridículo desempenho de 1,1% do nosso PIB em 2018, a OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – achou por bem CORTAR a sua estimativa de alta do PIB Brasileiro de 2019, de 2,1% para 1,9%.
Mais: para 2020 (se as REFORMAS DA PREVIDÊNCIA E A TRIBUTÁRIA- forem aprovadas), a estimativa de crescimento é de apenas 2,4%.
SACO DE BONDADES
Este, infelizmente, é o triste quadro da economia e das finanças do nosso País, que só ganhará uma nova e boa moldura se o Congresso se debruçar sobre os problemas e aprovar as soluções que estão propostas. Apenas estas DUAS REFORMAS, é bom que se diga, representam o correto SACO DE BONDADES que o Brasil está necessitando.
ESPAÇO PENSAR+
Eis o artigo do pensador Rodrigo Constantino, com o título -ATIRAR NO MENSAGEIRO OU NA MENSAGEM?-
O presidente Jair Bolsonaro, especialmente por meio de suas redes sociais “controladas” pelo filho Carlos, parece não ter muita noção da “liturgia do cargo”. Inspira-se demais talvez em Trump, que também sofre de certa incontinência verbal. “Entre o estímulo e a resposta, o homem tem a liberdade de escolha”, disse Viktor Frankl. Mas entre o estímulo e o tweet, Trump e Bolsonaro colocam pouquíssimo freio. Deveriam.
O presidente Jair Bolsonaro, especialmente por meio de suas redes sociais “controladas” pelo filho Carlos, parece não ter muita noção da “liturgia do cargo”. Inspira-se demais talvez em Trump, que também sofre de certa incontinência verbal. “Entre o estímulo e a resposta, o homem tem a liberdade de escolha”, disse Viktor Frankl. Mas entre o estímulo e o tweet, Trump e Bolsonaro colocam pouquíssimo freio. Deveriam.
Bolsonaro postou um vídeo tosco com uma cena lamentável em que uma figura abjeta faz obscenidades em local público durante um bloco de carnaval, e termina com outro fazendo xixi em sua cabeça. O vídeo, claro, gerou muita polêmica, levou várias hashtags de apoio e crítica ao topo dos trendings, e dividiu reações. O que pensar disso?
Para começo de conversa, o homem é presidente da República, tem quase 3,5 milhões de seguidores no Twitter, e sabe-se lá quantos são menores de idade. Não combina com o cargo, com a imagem institucional que ele representa, e ponto final. É simplesmente errado um presidente fazer isso, o que justifica tantas críticas que ele recebeu, inclusive de gente à direita. Foi, para dizer o mínimo, algo de muito mau gosto.
Mas… igualmente estranho é certas figuras, mais à esquerda, atacarem tanto o mensageiro e ignorarem totalmente a mensagem. Bolsonaro não criou a cena; ela a reproduziu. O que ele mostrou aconteceu, e acontece. Cada vez mais. Até em universidades! Leiam A corrupção da inteligência, de Flávio Gordon. A degradação moral em nosso país tem sido absurda, promovida por “intelectuais”, por artistas, por relativistas morais que se acham moderninhos, mas não passam de bestas lutando para levar a humanidade de volta ao animalesco.
A revolta com o ato do presidente é legítima. Mas a ausência de revolta com o que ele expôs, e que de fato representa um problema crescente, é algo um tanto suspeito. Os “progressistas” não acham que “vale tudo”? Não incentivam de certa forma esse comportamento bizarro como se fosse sinal de liberdade de expressão? Não valorizam o excesso de subjetivismo, a quebra de todos os tabus, o desafio rebelde (e infantil) a todas as normas da sociedade? Não acham lindo quando feministas fazem cocô em uma foto de Bolsonaro como forma de “protesto”? Então qual a grande surpresa? O que não pode é mostrar isso?
Permita-me discordar da imensa maioria nas redes sociais nessa polêmica. Ou por outra: concordar com a imensa maioria, mas juntando os dois lados! Sem partidarismo, sem hipocrisia, lutando para manter a coerência. Tenho “mixed feelings” com esse episódio.
Se, por um lado, junto-me aos que não aceitam um presidente postar algo tão asqueroso em seu Twitter, o que não é condizente com sua função, por outro lado me solidarizo com quem celebra a exposição de tanta baixaria como estímulo para reflexão de quão longe a destruição dos nossos valores foi.
Acho que Mario Sabino resumiu muito bem: “Acho que o presidente da República deveria pensar se os conteúdos dos seus tweets podem ser vistos por menores de idade. É uma regra simples. Quanto aos vagabundos do vídeo, cadê a polícia?” É possível condenar ambas as coisas: a decisão de Bolsonaro de publicar o vídeo, e o comportamento inaceitável daqueles que estão no vídeo, filhotes da destruição moral promovida pela esquerda.
No mais, talvez fosse prudente retirar Carlos do comando do Twitter. O presidente pode dar um Lego para ele ou algum outro brinquedo mais inofensivo…
FRASE DO DIA
Quando você segura o sucesso , você prejudica aqueles que precisam de ajuda.
Margaret Thatcher
Margaret Thatcher



