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O dilema grego, por Rogério Mendelski

A Grécia jamais teria entrado na zona do euro se dependesse apenas da Alemanha, pois desde que os gregos se candidataram para fazer parte dos países ricos da Europa que os alemães alertavam para a frágil economia dos pretendentes. Theo Waigel, ministro da Economia da Alemanha, entendia que a Grécia era um país de economia semi agrária, sem indústrias fortes e incapaz de fazer frente ao poder econômico da França e da própria Alemanha.
O temor da Alemanha, que comandava a criação do euro, uma moeda forte para enfrentar o dólar, não aceitava a Grécia com seu sistema de gestão nacional considerado pouco sério pelo padrões rígidos europeus e sem condições de entrar num projeto de moeda única para a nova comunidade internacional que estava em formação.
Muito parecida com o Brasil, a Grécia sempre foi uma desordem geral pelos seus desgovernos com privilégios inaceitáveis para servidores públicos e mamatas para alguns tipos de aposentadoria.
Quando foi aceita na zona do euro, em 2001, a Grécia do dracma desvalorizado adotou o euro como moeda e achou que era rica, pois passaria a tomar empréstimos numa moeda forte, sem fazer os ajustes de austeridade necessários. A farra, pelo contrário, foi ainda maior. Mesmo assim, recebeu empréstimos bilionários e se endividou além de sua capacidade batendo um recorde de endividamento – 105% do seu PIB.
Hoje, a Grécia assumiu que está quebrada, não por culpa dos “capitalistas exploradores” da zona do euro, mas porque acreditou que estava rica sem ter suado e trabalhado para adquirir essa condição.
A austeridade exigida para fazer cortes nos privilégios foi ignorada e os governos foram frouxos para acabar com eles. O país tem sonegação tributária calculada em 30% do PIB e quando o governo resolveu criar um imposto sobre piscinas (?) para tributar dezenas de milhares de milionários com suas mansões cinematográficas no mar Egeu, apenas seis – sim, seis! - declararam intenção de pagar o Fisco.
Imposto de Renda quase não existe para os gregos e vale lembrar uma observação do jornalista Joelmir Betting, que se espantou ao saber que há mais proprietários de automóveis Porsche que contribuintes de imposto de renda na Grécia.
O dilema grego será resolvido no próximo domingo com uma consulta popular para saber se o pais quer continuar na zona do euro. Se ficar, um lote de novas medidas de austeridade deverá ser cumprido. Se sair, ninguém sabe como será o futuro dos gregos.

Mamatas (1)

Com 11 milhões de habitantes, a Grécia tem uma elite riquíssima que desfruta de uma vida comparável à dos grandes milionários europeus. Além disso, uma outra elite de servidores privilegiados também usufrui de benesses incompatíveis com o padrão de vida da maioria da população.

Mamatas (2)

A seriedade de alguns governos europeus não consegue compreender como o governo grego paga aposentadoria para 40 mil filhas solteiras de funcionários falecidos, as quais, na verdade, têm maridos, filhos, milhares delas com empregos e uma vida muito boa com a renda vitalícia indevida.

Privilégios

A Grécia tem hoje 600 profissões consideradas de “alto risco”, cujos gregos enquadrados neste item podem se aposentar aos 50 anos de idade com 95% do último vencimento. Entre as profissões de risco estão cabeleireiros e tintureiros.

Alguma semelhança?

Recentemente, em uma revisão nas aposentadorias dos gregos, o governo detectou quase 10 mil famílias recebiam benefícios de pessoas mortas, milhares delas havia mais de dez anos. Alguma lembrança de semelhança com o Brasil?

Prêmios?

Servidores públicos que batem o ponto regularmente e dentro do horário estabelecido ganham no final do mês um abono no seu contracheque pelo cumprimento do dever. Nenhum país sério suporta tanta mordomia e tanto desgovernos. A gestão pública grega lembra muito os modelos das republiquetas latino-americanas.


Fonte: Correio do Povo, página 6 de 2 de julho de 2015.