As emissoras de televisão começam a veicular nesta quarta-feira (8) as campanhas
obrigatórias sobre o calendário para o fim das transmissões analógicas
em canal aberto. O teste será iniciado em novembro deste ano, no
município de Rio Verde, em Goiás, mas os desligamentos serão feitos a
partir de abril do ano que vem, no Distrito Federal e em mais 11 cidades
do entorno da capital, onde os comerciais serão veiculados na
programação local. Com o fim do sinal analógico, programação aberta de TV estará disponível apenas em formato digital Arquivo/ABr Com
o desligamento da TV analógica, a programação aberta ficará disponível
apenas em formato digital, o que vai melhorar a qualidade de som e
imagem da programação. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
estipulou prazo até novembro de 2018 para que todos os municípios
brasileiros tenham a transmissão digital. Pelo cronograma previsto, este
ano começam as transmissões exclusivamente digitais nas regiões
metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e do Rio de
Janeiro. O desligamento do sinal analógico deve atingir 30 milhões de
famílias.
Quem
já tem um aparelho de televisão digital deve instalar a antena para
receber o sinal digitalizado. Os que têm aparelhos mais antigos deve
instalar a antena e um aparelho conversor, que pode custar menos de R$
100, segundo a Anatel.
“A palavra de ordem é incluir todos os
brasileiros nessa nova televisão digital, com melhor qualidade de som e
imagem. Para isso, temos trabalhado com a indústria e com o varejo para
que haja promoções e disponibilidade de equipamentos, para atendimento
de toda a população com a compra de equipamentos e antenas e com a
capacidade necessária para assistir à televisão digital, no Brasil”,
disse o conselheiro da Anatel Rodrigo Zerbone.
Com a transição
para a TV digital, a faixa de radiofrequência ocupada pela TV analógica
será liberada e usada por empresas de telecomunicações para a prestação
de serviços móveis de quarta geração (4G). As operadoras de telefonia
que venceram o leilão deverão distribuir aparelhos e antenas para todas
as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. As companhias devem
investir R$ 3,6 bilhões no pagamento de custos para essa transição.
O
desligamento do sinal analógico será feito a partir do momento em que o
sinal digital esteja disponibilizado a, no mínimo, 93% dos domicílios
da região. A população de cada localidade será informada do desligamento
um ano antes que ele ocorra, com inserções diárias na programação
televisiva. É o que começa a ocorrer nesta quarta-feira (8) no Distrito
Federal e na cidade goiana de Rio Verde: a letra A vai aparecer no alto
da tela da TV para indicar que o canal ainda é analógico. Uma tarja com
informações como a data do desligamento e as formas de tirar dúvidas
sobre o fim das transmissões analógicas também será veiculada.
Quem
usa antena parabólica, ou é assinante de TV a cabo, não terá de passar
por nenhuma adaptação. Os detalhes das mudanças, como fazer a adaptação e
o cronograma de desligamento de todo o Brasil estão disponíveis no site www.vocenatvdigital.com.br ou no telefone 147.
Massacre em Realengo mudou trajetória escolar de amigos e parentes das vítimas
Vinícius Lisboa - Repórter da Agência BrasilEdição: Valéria Aguiar
Eduardo e Noeli, irmão e mãe da vítima Mariana Rocha, uma das vítimas do massacre Tânia Rêgo/Agência Brasil Quando
os primeiros disparos começaram a ser ouvidos na Escola Municipal Tasso
da Silveira, em Realengo, Eduardo Rocha, que tinha 11 anos, pensou que
fossem "bombinhas". Foi então que os professores chegaram correndo ao
terceiro andar e pediram que os alunos se trancassem nas salas. No
primeiro andar, sua irmã, Mariana Rocha, e mais 11 adolescentes foram
assassinados por Wellington Menezes de Oliveira, em 7 de abril de 2011.
Além dos que se feriram ou morreram com os disparos, o crime atingiu
também a vida escolar de parentes e amigos, que sofreram para conseguir
retomar os estudos.
O trauma da tragédia fez com que o jovem
Eduardo, hoje com 15 anos, ficasse dois anos fora da escola. "Não queria
voltar. Não dava. Muita gente falando e até os outros amigos meus falam
até hoje sobre isso, o que me incomoda", desabafa Eduardo, abraçado à
mãe, Noeli da Silva Rocha, Segundo Noeli, eles dois são apontados na
rua: "Aquele ali é o irmão da Mariana. Aquela ali é a mãe da Mariana.
Isso nunca vai ser esquecido, não adianta."
Quando voltou a
estudar, em 2013, ele foi para outra escola do mesmo bairro, e hoje
sonha em cursar engenharia civil. Se não tivesse parado de estudar, ele
já estaria a um ano do vestibular. Em vez disso, agora ainda precisa
começar o ensino médio.
Alessandra Oliveira, hoje com 18 anos,
não chegou a pensar que o barulho dos tiros era outra coisa, porque o
assassino entrou em sua sala e matou três de suas colegas. Entre elas,
Laryssa Martins, sua melhor amiga. Mais cinco colegas de turma foram
feridos pelos disparos. "Fiquei em depressão, e isso me prejudica até
hoje. Estudo à noite e tenho muito medo de ir para a escola", conta
Alessandra, que tentou mudar de bairro e de escola, mas acabou sendo
reprovada no primeiro ano do ensino médio.
"Eu estudava com a
Laryssa desde pequena, desde a terceira série. Eu não tinha força para
estudar. Tinha medo de que acontecesse a mesma coisa", lembra a
estudante. Hoje, no segundo ano do ensino médio, ela diz que não tem
vontade de continuar a estudar. "Voltei a estudar porque meu pai me
obriga e porque, sem estudo, não sou nada. Mas minha vontade é não ir
para a escola", desabafa.
Uma das vítimas na sala de Alessandra
foi Géssica Guedes, irmã de Michelle Guedes, que hoje tem 22 anos. A
jovem estudou até o nono ano na Tasso da Silveira e tinha concluído o
ensino fundamental em 2010, meses antes da tragédia. "Fiquei dois anos
sem querer estudar. Ia fazer medicina. Fui para direito", diz ela, que
continuou a estudar por causa da pressão dos pais, e hoje está na
faculdade. A troca de carreira, na visão dela, foi influenciada pela
tragédia: "Hoje, eu procuro lutar por justiça, que não houve no nosso
caso. Faço estágio e estou muito realizada na minha profissão."
A
aluna Tainá Bispo, de 19 anos, assim como Alessandra e Michelle, também
perdeu a vontade de ir para a escola depois do ataque. Sua irmã, Milena
Bispo, foi uma das vítimas, mas Tainá insistiu em voltar porque sua
outra irmã também estudava na Tasso da Silveira e pediu que ela não a
deixasse sozinha. "Só que não conseguimos continuar por causa das fortes
lembranças que tínhamos. Eu tinha 15 anos e estava no último ano."
Depois
de um ano estudando em casa, Tainá foi para outro colégio, concluiu o
ensino médio e sonha fazer medicina. "Comecei a trabalhar agora e a vida
está caminhando. Estou tentando empurrar com a barriga."
Alan
Mendes Ferreira, hoje com 17 anos, teve atuação decisiva no dia da
tragédia: mesmo ferido, conseguiu chamar o policial militar Marcio
Alves, que rendeu Wellington Menezes de Oliveira antes que ele fosse
para os outros andares, onde poderia fazer mais vítimas. O adolescente
continuou na Tasso da Silveira por mais dois anos, chegou ao ensino
médio e agora está no terceiro ano. "Acho que voltar para lá me ajudou a
superar as coisas", diz ele, lembrando que muitos colegas ficaram
revoltados e passaram a culpar a escola pela tragédia. "Sempre tinha
essa polêmica."
Apesar de estar perto de terminar o ensino médio,
Alan não sabe o que vai fazer em seguida. Sua vontade era entrar para a
Aeronáutica, mas isso não será possível porque o tiro que o feriu
deixou fragmentos de bala alojados em seu ombro esquerdo e perto do
coração. "Não posso fazer nada muito pesado. Os médicos não liberaram
ainda. Ainda estou pensando no que vou fazer da vida. No ano que vem,
vou ficar pensando um pouquinho."