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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Guerra se agrava, 100 mil fogem do Sudão e crise preocupa países vizinhos

 Egito, Chade e República Centro-Africana se preparam para eventuais reflexos do conflito


O conflito no Sudão se agravou nesta terça-feira com combates de rua e uso de armas pesadas. Mais de 100 mil pessoas já fugiram do país e a guerra ameaça desestabilizar países vizinhos como Egito, Chade e República Centro-Africana.

A origem da crise atual está no golpe militar de outubro de 2021, que interrompeu a transição democrática iniciada após a ditadura de Omar Bashir, que foi presidente do Sudão por 26 anos, de 1993 a 2019. Desde então, quem manda em Cartum é o general Abdel-Fattah Burhan.

As coisas começam a sair do controle quando o número dois do comando, o general Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, rompe com Burhan. O racha coloca em lados opostos o Exército sudanês, chefiado pelo presidente, e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), comandado por Hemedti.

Crise sem fim

Ninguém é santo na elite política do Sudão. Bashir, o ex-ditador, comandou um genocídio em Darfur, nos anos 2000, com apoio das FAR, de Hemedti. Bashir está preso na penitenciária de Kobar. Ele foi condenado a 2 anos de cadeia por lavagem de dinheiro e aguarda julgamento por crimes de guerra.

A esperança de redemocratização após a ditadura se desfez rapidamente com o golpe de Estado, mas a aliança entre os dois generais, Burhan e Hemedti, também não durou muito. O presidente queria que os milicianos das FAR se integrassem ao Exército em dois anos. Hemedti insistia para que o prazo fosse de dez anos.

Os dois lados também discordavam sobre as patentes dos oficiais das FAR dentro do Exército e sobre quais setores do Estado sudanês cada um controlaria. O resultado foi uma escalada rápida, que se espalhou para fora dos quartéis.

Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 300 mil pessoas foram deslocadas internamente, 100 mil já deixaram o Sudão e outras 800 mil podem fugir dos combates para os países vizinhos. O fluxo de refugiados é preocupante principalmente para Chade e República Centro-Africana, já extenuados por suas próprias crises internas.

Combates

Cartum, a capital de 1,5 milhão de habitantes, virou uma praça de guerra, que se espalhou para a cidade vizinha de Omdurman, a maior do país, com 2,4 milhões de pessoas, localizada do outro lado do Rio Nilo.

De acordo com moradores de Cartum, aviões de combate, explosões e tiros são ouvidos constantemente em vários bairros da cidade. Os hospitais estão cada vez mais em risco. Ontem, um ataque aéreo atingiu a entrada do hospital East Nile, no norte da capital - três comerciantes e uma criança morreram.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a situação no Sudão como catastrófica. Apenas 16% dos hospitais de Cartum não foram afetados. Os demais foram bombardeados, ocupados por milicianos ou carecem de pessoal ou suprimentos.

Howaida Hassan, obstetra e ginecologista, disse que há mais de duas semanas os médicos de alguns hospitais de Cartum não conseguem trocar de roupa e dormem em cadeiras. "Eles não podem ir para casa por causa da segurança", afirmou Howaida.

Segundo dados oficiais, 528 pessoas já morreram nos conflitos e 4 mil ficaram feridas. Quem não consegue fugir tem de conviver com a falta de comida, água e eletricidade. O encarregado de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths, alertou que a situação está no limite.

Mesmo antes da crise, 16 milhões de sudaneses passavam fome e dependiam de ajuda humanitária. Com o conflito, os programas de assistência foram interrompidos. No domingo, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha conseguiu receber a primeira carga de ajuda desde o início do conflito, um total de oito toneladas de material capaz de tratar de 1.500 feridos.

Desde o começo do conflito, tréguas entre os dois lados foram sistematicamente violadas. Segundo especialistas, o cessar-fogo é crucial para a retirada de estrangeiros. Na segunda-feira, um navio americano levou mais de 300 pessoas para a Arábia Saudita.

Agência Estado e Correio do Povo

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