Recentemente,
a Unesco no Brasil divulgou a quarta edição do seu “Mapa da
Violência – Os Jovens do Brasil”. Seus resultados provocaram
profundas preocupação: os números da violência, que tira a vida
de nossa juventude, continuavam a aumentar assustadoramente. Na
última década, os homicídios juvenis cresceram à insuportável
taxa de 7,3% ao ano, chegando a vitimar, só 2002, mais de 19 mil
jovens.
Os
atores desse drama são personagens bem definidos: jovens,
principalmente entre os 18 e os 24 anos, do sexo masculino (92% das
vítimas de homicídio são homens) e com baixo nível de
escolaridade (se na população jovem 45% não finalizaram o ensino
fundamental, entre as jovens vítimas de homicídio essa proporção
quase duplica: 82%). Em geral, são negros (74% superior aos brancos)
e vivem nas grandes periferias.
Os
elevados níveis de violência têm estreita relação com a situação
dos jovens no país e com a exclusão social. Apesar dos avanços em
alfabetização e na universalização do ensino fundamental, ainda
existem sérios problemas de escolarização: só temos 29% dos
jovens matriculados no ensino médio ou superior, quando em diversos
países essa taxa supera 75%. A qualidade do ensino é também
deficitária. Estudo divulgado pela Unesco/OCDE, que avaliou jovens
de 15 anos de 41 países, localiza o Brasil em penúltimo lugar em
leitura, matemática e ciências.
Em saúde
a situação também é problemática. Se a taxa global de
mortalidade da população caiu de 633 em 100 mil habitantes, em
1980, para 561 em 2002, a taxa referente aos jovens subiu de 128 para
137 no mesmo período. Também surgiram “novos padrões de
mortalidade juvenil”. Epidemias e doenças infecciosas foram
substituídas pelas “causas externas” de mortalidade,
principalmente os acidentes de trânsito e os homicídios. Em 2002,
mais de dois terços dos óbitos juvenis (72%) foram por causas
externas.
As
pesquisas evidenciam que a educação contribui decididamente para a
distribuição de renda e tem profundos efeitos sobre a cidadania, a
saúde e a proteção ambiental. A educação é, portanto, alavanca
fundamental do desenvolvimento sustentável, equitativo e
democrático. Mas, para que o Brasil atinja o desenvolvimento humano,
social e econômico almejado, precisa investir hoje em suas crianças
e jovens, construindo políticas públicas adequadas aos seus anseios
e necessidades. Só assim poderá salvar sua juventude da violência.
- Doutor em Educação pela Universidade de Standford (EUA) e representante da Unesco no Brasil
Fonte:
Zero Hora, página 21 de 6 de agosto de 2004.