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terça-feira, 23 de maio de 2023

Racismo contra Vini Jr volta a manchar o futebol espanhol

 "A primeira coisa é reconhecer que temos um problema de comportamento, de educação, de racismo", disse o presidente da RFEF

Os insultos sofridos pelo atacante brasileiro Vinícius Júnior no domingo, durante a partida em que o Real Madrid foi derrotado fora de casa por 1 a 0 pelo Valencia, provocaram uma nova onda indignação, com o retorno do espectro do racismo ao futebol espanhol.

"A primeira coisa é reconhecer que temos um problema de comportamento, de educação, de racismo", disse nesta segunda-feira (22) o presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, para quem, "enquanto existir um único torcedor, um único indesejável ou grupo de indesejáveis, que insulte pela condição sexual, cor de pele ou credo, temos um problema grave".

Antes, em nota, a RFEF pediu à Comissão Antiviolência e ao Comitê de Competições (órgãos que podem determinar sanções) que adote medidas na questão, que podem incluir o fechamento das arquibancadas a cada incidente e dos estádios em caso de reincidência.

Rubiales também pediu que "se uma sanção for determinada, que o próprio clube tem que assumir, que não atrase com procedimentos demorados" para ajudar a combater o problema.

Após essas declarações, o Real Madrid se pronunciou em comunicado acusando a RFEF de não ter tomado "nenhuma medida em todo esse tempo, apesar dos evidentes e repetidos sinais de alerta que o nosso clube tem denunciado".

Por isso, a diretoria merengue exige que a RFEF adote uma "atitude contundente e imediata para combater estas pragas que são o racismo, a xenofobia e o ódio".

No domingo, Vinícius, frequentemente criticado por enfrentar torcedores e jogadores adversários, se queixou de ter sido chamado de "macaco" na derrota por 1 a 0 do Real Madrid para o Valencia.

Gritos de "macaco"

A súmula da partida afirma que "um torcedor" se dirigiu a Vinícius "com gritos de macaco, macaco", assim como demonstram as imagens exibidas na televisão.

"Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam", escreveu o brasileiro no Twitter.

Expulso após uma discussão com Hugo Duro, jogador do Valencia que não recebeu o cartão vermelho, Vini Jr acrescentou que "o prêmio que os racistas ganham é minha expulsão".

Vinícius, que em janeiro sofreu um ataque de torcedores do Atlético de Madrid que simularam seu enforcamento ao pendurarem um boneco com seu uniforme em uma ponte, pediu "ações e punições".

O presidente de LaLiga, Javier Tebas, reagiu, mas com críticas às acusações do jogador ao campeonato espanhol.

"Antes de criticar e injuriar a LaLiga, é necessário que te informes adequadamente", escreveu Tebas no Twitter, em uma referência à distribuição de poderes no momento de adotar sanções.

No domingo, o Campeonato Espanhol emitiu um comunicado condenando o ocorrido e afirmando que investigaria os fatos e, "caso seja detectado algum crime de ódio, LaLiga adotará as ações legais cabíveis".

Denúncias

No mesmo comunicado, a LaLiga recorda ter apresentado nove denúncias por insultos contra o jogador nas últimas duas temporadas ao "Comitê de Competições da RFEF, à Comissão Estatal contra a Violência, o Racismo, a Xenofobia e a Intolerância no Esporte, à Procuradoria que investiga crimes de ódio e aos tribunais" comuns.

A Comissão Estatal contra a Violência afirmou nesta segunda que já está "analisando as imagens disponíveis para identificar os autores", dos insultos e "propor as correspondentes sanções".

Em 28 de fevereiro, esta Comissão multou em 4.000 euros (4.256 dólares, 21.570 reais) e proibiu a presença em estádios de futebol durante um ano de um torcedor do Mallorca que insultou o brasileiro.

O Valladolid suspendeu dez sócios pelos insultos contra Vini Jr na partida de 30 de dezembro do ano passado contra o Real Madrid.

Após as ofensas do último domingo, o presidente do Valladolid, o ex-atacante brasileiro Ronaldo 'Fenômeno', escreveu: "Vini, conte comigo na sua luta. Na nossa luta".

O Valencia afirma que "expulsará do estádio para sempre" os torcedores que teriam insultado Vinicius.

Além disso, o Ministério Público de Valência iniciou nesta segunda uma investigação por um suposto crime de ódio pelo ocorrido, depois que o Real Madrid, junto com o sindicato de jogadores de futebol, apresentaram uma denúncia à Procuradoria-Geral do Estado.

A equipe merengue apresentará uma ação penal privada, se as investigações do Ministério Público terminarem diante de um juiz.

Mensagens de apoio 

Após receber o apoio do técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, e de seus companheiros de time, Vinícius se reuniu com o presidente do clube merengue, Florentino Pérez.

No encontro, Pérez informou todos os procedimentos que serão feitos em defesa do jogador e garantiu que o clube levará o assunto até as "últimas consequências", diante de um "ato de ódio tão repugnante".

"É muito desagradável, não vejo isso acontecendo em outros esportes. É preciso dizer 'basta', parar o jogo e ir para casa" nesse tipo de episódio, afirmou o técnico do Barcelona, Xavi Hernández, em entrevista coletiva nesta segunda-feira.

Outras personalidades e autoridades também divulgaram mensagens de apoio ao brasileiro.

"Tolerância zero com o racismo. O esporte é fundamentado nos valores da tolerância e do respeito. O ódio e a xenofobia não devem ter lugar no nosso futebol nem em nossa sociedade", afirmou o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, em suas redes sociais.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, declarou no Japão que "não é possível que, quase no meio do século XXI, a gente tenha o preconceito racial ganhando força em vários estádios de futebol na Europa".

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, expressou nesta segunda-feira (22) "total solidariedade" ao atacante brasileiro.


AFP e Correio do Povo

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