Por Jurandir Soares
Donald Trump, percebe-se claramente, já largou a Ucrânia, deixando-a nas mãos de Vladimir Putin. A Europa, no entanto, segue mantendo o seu respaldo e, ainda nesta sexta-feira, aprovou uma ajuda de 90 bilhões de euros. Não alcança ainda os 136 bilhões que Zelensky precisa para fechar seu orçamento, mas já é um alívio.
O dinheiro virá de fundos europeus, tendo em vista que foram vencidos os países que queriam utilizar os euros que o Banco Central russo tem na agência belga de depósitos Euroclear. Embora houvesse defensores intransigentes dessa medida, decidiu-se por não provocar mais Vladimir Putin, que havia dito que a ideia era um roubo.
CREDIBILIDADE
Criada em 1968, a Euroclear é, ao lado da luxemburguesa Clearstream, a principal instituição de custódia de títulos do mundo, servindo como uma espécie de banco para os BCs. Hoje tem sob sua responsabilidade cerca de 43 trilhões de euros em ativos de 2 mil clientes. Assim, meter a mão no dinheiro da Rússia seria desacreditar a instituição. O fundamental foi alcançado, que é ajudar Zelensky a se manter até o ano que vem. Isto, logicamente, se continuar o atual cenário, porque, a depender de Putin e de Trump, a guerra termina agora com a rendição ucraniana.
PRONUNCIAMENTO
A propósito, Putin fez seu tradicional pronunciamento de fim de ano, em que ressaltou que a paz na Ucrânia depende agora dos apoiadores de Kiev aceitarem seus termos, que incluem cessão territorial e neutralidade militar do vizinho. Putin quer, simplesmente, tomar conta de toda a região do Donbas. E o detalhe é que Trump tem demonstrado concordar com essa pretensão. A ponto de Putin elogiar Trump, como de costume, dizendo que o americano está “fazendo um grande esforço” para achar uma saída para a guerra e que relatou as exigências russas na cúpula entre os dois no Alasca, em agosto. E voltou a dizer que os líderes europeus da aliança militar, ou seja, da Otan, “estão se preparando para uma guerra para a qual a Rússia não tem interesse em lutar”.
PREPARO
Que a Europa está se preparando para essa guerra é verdade. Isto já foi explicitado por vários dirigentes europeus, por não acreditarem que Putin vá parar, mesmo recebendo as áreas que cobiça na Ucrânia. Essa crença é sustentada com base na História, sendo lembrado o acordo Chamberlain-Hitler. Uma referência ao fato ocorrido nos primórdios da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler exigiu a região dos Sudetos, que envolvia áreas de língua alemã da Polônia e da antiga Tchecoslováquia. Na Conferência de Munique, em 1938, o Reino Unido aceitou a proposta, sob a promessa de cessar as hostilidades.
ROMPIMENTO
Em março de 1939, Hitler violou o acordo, invadindo o restante da Tchecoslováquia. O episódio é visto como um erro estratégico que o encorajou. Em setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia – o início da Segunda Guerra. A União Europeia tem invocado esse episódio para não ceder a Putin. Mesmo assim, há a crença de que, em algum momento ao longo desta década, terão de guerrear com a Rússia. A Alemanha até já estabeleceu data: o mais tardar até 2029. A França acredita que antes disso, tanto que já advertiu aos seus setores hospitalares para se prepararem.
FUTURO
Diante disso, fica a indagação: e os Estados Unidos? Vão ficar alheios? Afinal, o país é a principal força da Otan, a aliança militar de defesa do Ocidente, cujo estatuto estabelece que, se um de seus membros for atacado, os demais têm que sair em defesa. No atual contexto, sob Trump, parece que não haverá mobilização americana.
Correio do Povo