Por Jurandir Soares
O cerco que o governo Trump estabeleceu sobre a Venezuela tem outro objetivo além da derrubada da ditadura de Nicolás Maduro: estrangular o regime cubano. Isto se dá pelo cerco que está sendo feito aos navios petroleiros que saem do território venezuelano. Assim, para Maduro, o petróleo é o recurso financeiro que ajuda a manter o sistema vigente. E o petróleo da Venezuela é, para Cuba, praticamente a única fonte de energia.
Cuba tem sofrido com múltiplos apagões ultimamente, justamente pelo fato de não receber o abastecimento necessário. Pode-se imaginar o que isso representa para um país que tem dificuldades imensas, mas que conseguiu ter no turismo sua principal fonte de renda. E, sabe-se bem, turismo sem energia elétrica não funciona.
SONHO
Assim é que, embora pareça que o cerco é só à Venezuela, este tem duplo objetivo. E, no caso de Cuba, a estratégia tem na Casa Branca um articulador que é originário da ilha: o secretário de Estado, Marco Rubio. Ele é filho de imigrantes cubanos que deixaram a ilha em 1956. Mas sua forte conexão com a política cubano-americana vem de seu avô, que testemunhou os efeitos do comunismo e passou a combater o sistema na América Latina.
As conversas de Rubio com seu avô foram cruciais para sua visão política. E isso o fez ser visto como a personificação do sonho norte-americano. Ele nasceu em Miami e graduou-se em Direito pela Universidade da Flórida. Foi tão adiante que chegou ao ponto ser o responsável pela política externa dos Estados Unidos.
OBJETIVOS
Lógico que o objetivo principal do governo Trump é a derrubada de Maduro, por quem os EUA oferecem a recompensa de 50 milhões de dólares. Quanto aos petroleiros, há informações de que navios com pelo menos 11 milhões de barris estão parados na costa venezuelana. Imagina-se o que isso representa para um país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, mas que está com sua economia debilitada. E a pressão aumenta dia a dia. Além do bloqueio aos petroleiros, Trump está impondo um cerco ao país que cresce constantemente.
Só nesta segunda-feira, 15, Trump firmou acordos de cooperação militar com dois países: Paraguai e Trinidad e Tobago. Com o Paraguai, para treinamento e mobilização conjunta de forças armadas e de civis. Com as ilhas caribenhas, para suporte às mobilizações de navios e aviões de guerra. Ou seja, esses aparatos bélicos estarão a apenas 10 km da costa venezuelana. Uma força que tem ainda submarino, o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, e um contingente entre 12 mil e 15 mil militares.
BARCOS
Ao mesmo tempo, Trump segue com os ataques a embarcações que acusa de estarem levando drogas para os Estados Unidos. Nesta terça-feira, foram afundadas mais três, com a morte de mais oito pessoas. Com isso, já são 26 barcos afundados e 96 mortos.
Se há um consenso entre os regimes democráticos da região nas ações para a derrubada de Maduro, o mesmo já não acontece com relação ao afundamento dos barcos. Há questionamentos até mesmo no congresso estadunidense. O entendimento é de que esse tipo de ação viola o Direito Internacional, o qual estabelece que o procedimento correto é a abordagem das embarcações, com a prisão dos ocupantes e o encaminhamento dos mesmos para julgamento.
TERRORISTA
Trump criou as bases para desenvolver a ação contra Maduro nos mesmos moldes em que os EUA atacaram o Estado Islâmico em terras do Oriente Médio. Ou seja, o classificou como líder de uma organização terrorista. Com isso, sequer precisa de autorização do Congresso para desenvolver suas medidas. Ao mesmo tempo, avança contra outro regime que quer ver extinto: o de Cuba. Ou seja, a mobilização tem duplo objetivo.
Correio do Povo
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