Acordo é rendição

 Por Jurandir Soares

Do jeito que o presidente Donald Trump está elaborando o acordo para o fim da guerra na Ucrânia, em caso de aceite por parte do presidente Volodimir Zelensky, será a rendição ucraniana. Pelo que Trump já combinou previamente com Vladimir Putin, ao longo de uma conversa telefônica de uma hora e meia, neste domingo, a Ucrânia terá que entregar territórios, inclusive áreas que a Rússia ainda não tomou.


Com isso, estaria premiando o invasor, que viola a lei, inclusive a Carta das Nações Unidas, que veta a tomada de territórios pela força. Algo que a Europa, contrária a este acordo, tem cansado de destacar, sempre no entendimento de que Putin irá mais longe se ganhar esta parte da Ucrânia.


PRÊMIO


Trump não está muito preocupado com os aspectos da geopolítica. Ele entende que hoje existem três países que mandam no mundo: EUA, Rússia e China. Os demais precisam obedecer, inclusive a Europa. E seu pensamento está muito mais voltado para os negócios, sem se preocupar com perdas territoriais por parte de um país subalterno. Tanto que, ao receber o presidente Zelensky em Mar-a-Lago, na Flórida, disse que a guerra precisa parar, permitindo a retomada dos negócios.


E foi explícito ao dizer que já havia acertado com a Ucrânia a troca da dívida que o país tem com os EUA por terras raras ucranianas. O desejo é retomar também o comércio com a Rússia.


COMÉRCIO


O comércio dos Estados Unidos com a Rússia está prejudicado desde 2014, quando foram impostas as primeiras sanções pelo Ocidente a Moscou, devido à tomada da província da Crimeia. Um ano antes, o comércio bilateral chegou a 23 bilhões de dólares, com os EUA importando majoritariamente petróleo e gás, além de metais, pedras preciosas, fertilizantes, ferro e aço. Já as exportações dos EUA para a Rússia envolviam máquinas, equipamentos de transporte e produtos químicos.


É lógico que tudo isso faz falta. Só que esses produtos também faltam à Europa, especialmente petróleo e gás. Mas o Velho Continente tem buscado outros fornecedores e fontes alternativas para não se dobrar a Putin. Diferentemente de Trump.


PERDAS


As perdas territoriais da Ucrânia e os negócios são tão evidentes para Trump que ele tem acertado isso nas conversas que tem mantido com Putin. O que foi referendado pelo principal assessor presidencial russo, Iuri Uchanov, o qual sugeriu a extensão das negociações com a formação de dois grupos de trabalho: um sobre justamente a perda de terras por Kiev e outro para trabalhar questões econômicas.


O detalhe é que, enquanto as negociações mediadas por Trump se desenvolvem, a Rússia intensifica seus bombardeios mortais à Ucrânia, fortalecendo a mensagem do norte-americano de que só o acordo proposto pelos EUA será capaz de parar a guerra. O que é uma verdade relativa, sabendo-se que, acertada a paz agora, Putin poderá, logo ali adiante, rompê-la e avançar sobre outras áreas.


GARANTIAS


E aí vem outra questão levantada por Zelensky e não respondida por Trump: quais garantias de proteção os EUA dão à Ucrânia para que o país aceite a condição russa de não fazer parte da Otan? Trump não respondeu nem vai responder, porque o que ele quer não é mobilização militar, mas negócios. E, pelo que transparecem as conversas com Putin desde a reunião de agosto no Alasca, já acertaram o butim.


Trump favorece tanto a Putin que fez até a proposta de a Rússia compartilhar com a Ucrânia a administração da usina nuclear de Zaporizhzhia. Imagine você ter a parceria de seu inimigo para seu abastecimento energético! Contudo, como tal fornecimento de energia pode vir a ser um bom negócio para os EUA, é possível que Trump se disponha a assumir com a Ucrânia o controle da usina.

Correio do Povo

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