O que se viu no episódio do SBT News não foi jornalismo. Foi encenação. Um palco cuidadosamente montado para institucionalizar relações de poder, não para informar a população. Ali, a comunicação deixou de cumprir seu papel crítico e assumiu outro: o de normalizar, estetizar e legitimar quem hoje controla o jogo.
Quando uma empresa que se vende como isenta e imparcial se coloca, de forma tão explícita, em sintonia com figuras centrais do poder — Alexandre de Moraes, Lula, Alckmin —, o véu cai. O que resta é a exposição crua de uma aliança que não se diz, mas se mostra. Não é neutralidade. É escolha.
E tudo isso ficou ainda mais evidente com a declaração corajosa e necessária de Zezé Di Camargo. Ao dizer que não aceitaria participar de um especial de Natal naquele contexto — mesmo já tendo gravado —, Zezé fez algo raro no Brasil de hoje: demarcou posição. Disse, em alto e bom som, que não se curva. Que não aceita ser figurante em um teatro de poder travestido de celebração.
A reação foi previsível: ataques, vilipêndio, linchamento virtual. Porque, no Brasil atual, quem ousa discordar, quem não aceita o roteiro pronto, quem se recusa a sorrir para o status quo, vira alvo. Mas é justamente essa recusa que importa.
Não se trata de Natal, de música ou de espetáculo. Trata-se de dignidade, de consciência política, de entender que informar não é bajular e que arte, comunicação e cidadania não podem ser reduzidas a instrumentos de legitimação do poder. Curvar-se não é opção. Silenciar, muito menos.
Vídeo de Luiz Emanuel Zouain
Nenhum comentário:
Postar um comentário