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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Velocidade, pressão e tecnologia, o futebol ficou mais "difícil" depois de Pelé

 Para o Rei do Futebol, na sua época havia "mais espetáculo" porque marcar não era prioridade


As divididas eram ferozes, mas a bola passava de pé em pé sem pressa. Hoje a pressão é sufocante e os juízes são apoiados pelo árbitro de vídeo (VAR). Desde que o aniversariante Pelé pendurou as chuteiras há 43 anos, o futebol ficou "difícil" de jogar, embora, segundo o Rei, em detrimento do espetáculo.

O debate sobre qual futebol é melhor, o antigo ou o moderno, polariza. Mas as muitas mudanças no esporte mais popular do mundo desde que Pelé, que completa 80 anos na sexta-feira, parou de pisar nos gramados, em 1º de outubro de 1977, estão diante dos olhos dos mais distraídos.

"Jogar hoje é mais difícil do que antes, sem dúvida. No meu tempo ... eu acho que a gente tinha um pouco mais de liberdade para parar a bola", disse Edson Arantes do Nascimento à CNN em março.

O vídeo em preto e branco mostra um jovem correndo atrás de uma bola de couro. Os adversários tentam, um a um, alcançá-la. Um deles se esforça ao máximo. O atacante se esquiva, marca e comemora. A imagem se repete em muitos dos mais de mil gols marcados pelo Rei.

"Era um futebol com menos dificuldade do que hoje, se marcava menos. Havia mais entradas duras, mas dava para jogar. Você pegava a bola e o marcador ficava a dois metros, três, agora quando você recebe a bola, já tem um cara em cima querendo tirar. Agora existe pressão, antes pressão era um conceito que não existia", afirma Jorge Barraza, autor do livro 'Futebol, ontem e hoje'.

Hoje, uma ação ofensiva de Messi sintetiza a transformação do futebol. Os adversários tentam prendê-lo na "jaula" e nem sempre ousam mostrar-lhe as travas das chuteiras, com medo de um cartão amarelo ou vermelho, que foram introduzidos na Copa do Mundo de 1970, a última na qual Pelé participou, vencida pelo Brasil.

Menos show

A pressão é atribuída ao holandês Rinus Michels, que colocou em prática no Ajax e na seleção da Holanda em 1974, três anos depois de Pelé deixar de jogar pela Seleção Brasileira. A tática foi aperfeiçoada ao longo dos anos, é a arma de times como Liverpool ou Bayern de Munique.

A 'pressão' também depende da velocidade. Basta comparar vídeos para perceber que a bola, hoje mais leve, se move mais rápido. "Hoje há muito mais velocidade e é mais difícil fazer as coisas", diz o uruguaio Enzo Francescoli.

Para Pelé, na sua época havia "mais espetáculo" porque marcar não era prioridade. "Quem paga para ir ao estádio, paga pelo espetáculo, não paga pela falta, pela marcação", afirma.

As seleções brasileiras históricas apresentavam formações ofensivas. O Brasil de 1970, para muitos o melhor time da história, alinhava quatro pontas e dois meio-campistas, contra os posteriores esquemas táticos 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2 ou 4-2-3-1.

Durante grande parte do século passado, os goleiros eram capazes de pegar a bola com as mãos quando devolvida por um companheiro de equipe. Após a Copa de 1990 na Itália, com a chamada 'Lei Higuita', em referência ao goleiro colombiano, foi banida. A partir dos pés de alguns goleiros, começa a ação ofensiva, ao mesmo tempo em que os primeiros movimentos pela igualdade de gênero foram dados com a realização da primeira Copa do Mundo Feminina (China-1991).

Uso da tecnologia

Se o questionado VAR, usado desde 2016, existisse no Mundial do México em 1986, talvez o duelo Pelé-Maradona não existisse. A Copa do Mundo promoveu o mito do argentino, que divide com o brasileiro o título de melhor jogador do século XX para a Fifa.

A 'mão de Deus' certamente não teria passado pelo filtro da arbitragem por vídeo, e Maradona teria permanecido um ser terreno. E a enxurrada de pontapés que tirou o Rei da Copa na Inglaterra em 1966 poderia ter sido punida e o Brasil, que defendia o título na época, teria passado da primeira fase.

"Se a tecnologia avança como avança, se todos os esportes a usam, por que não usá-la no futebol?", questiona o argentino.

No Mundial de 2014, no Brasil, as novas tecnologias chegaram com força. O sistema de detecção automática de gols (DAG), que alerta o juiz quando a bola cruza a linha, validou um gol oficial pela primeira vez. O spray que define a distância entre a barreira e a bola também estreou em uma Copa do Mundo.

A irrupção tecnológica, com as redes sociais no meio, é a última mudança significativa em um esporte que Pelé ajudou a popularizar e que hoje movimenta cerca de 500 bilhões de dólares por ano, segundo a consultoria Deloitte, com contratações e salários exorbitantes.

"Em um mês, ganho mais do que meu pai em toda a vida", disse uma vez o italiano Genaro Gattuso.


AFP e Correio do Povo

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