AdsTerra

banner

sábado, 31 de outubro de 2020

Dólar fecha outubro com alta do 2,13% e valorização no ano vai a 43%

 Ibovespa terminou o dia em baixa de 2,72%, aos 93.952,40 pontos


O dólar caiu nesta sexta-feira, mas fechou outubro acumulando alta de 2,13%, o terceiro mês seguido de ganhos. Em 2020, a valorização chega a 43%, a maior entre emergentes, e a moeda norte-americana caiu somente em dois meses, maio e julho. Os especialistas esperam mais valorização da divisa dos Estados Unidos na semana que vem, por conta da proximidade das eleições americanas e, no radar, o risco de ter o resultado das urnas contestado. No Brasil, incertezas ficais devem ajudar a manter o câmbio pressionado no começo de novembro, até que o governo revele como pretende financiar seus programas sociais em 2021.

O dólar encerrou a sexta-feira em queda de 0,50% no mercado à vista, cotado em R$ 5,7380. No mercado futuro, o dólar com liquidação em dezembro, que passou a ser o mais líquido a partir desta data, tinha queda de 0,69% às 17 horas, cotado em R$ 5,7445.

Nesta sexta-feira, mesmo com a disputa do referencial Ptax, usado em contratos cambiais, o Banco Central fez novo leilão no mercado de dólares à vista, quando a divisa encostou em R$ 5,81 pouco antes de uma das janelas em que o BC faz a coleta de preços para a taxa. Somente esta semana, o BC injetou US$ 1,8 bilhão, níveis semelhantes ao começo de março, quando a pandemia chegava com força ao Brasil.

Os estrategistas do banco NatWest destacam que três pontos estão fazendo os investidores buscarem refúgio no dólar. Preocupações com a piora da economia mundial em meio ao crescimento dos casos de coronavírus na Europa e Estados Unidos e novas medidas de distanciamento social; proximidade das eleições americanas e impasse na aprovação de um pacote de estímulos.

No caso das eleições, Joe Biden ainda lidera nacionalmente, mas em Estados como Flórida, Carolina do Norte, Ohio e Georgia, a disputa com Donald Trump está bastante apertada. Nesse ambiente, cresce o temor de contestação dos resultados e a necessidade de recontagem.

O forte crescimento dos votos este ano pelo correio, destacam os analistas do TD Bank, indica crescente chance de o resultado da votação não sair na noite de terça-feira ou mesmo no dia seguinte. Com isso, pode-se esperar volatilidade nos mercados e busca de refúgio no dólar. No Brasil, como será feriado de Finados na segunda-feira, a cautela ainda é maior.

"Há riscos que tornam o real mais suscetível que outras moedas emergentes neste momento", ressalta a analista de mercados emergentes do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger. O primeiro deles é o fiscal, com o crescimento da dívida pública brasileira sem sinal de trégua e as reformas praticamente paradas no Congresso, destaca ela. Outro fator a pressionar o câmbio é o Banco Central mais dovish e sem inclinação a elevar os juros, em meio à avaliação de que a pressão inflacionária nas últimas semanas é temporária. "O real deve permanecer sob pressão para depreciação nas próximas semanas."

Bolsa

O Ibovespa entregou o que ainda tinha de ganhos no mês nesta última sessão de outubro ao fechar em baixa de 2,72%, aos 93.952,40 pontos, acumulando perda de 7,22% na semana, o pior desempenho desde o tombo de 18,88% entre 16 e 20 de março, o intervalo que precedeu o início da quarentena. Com as perdas acumuladas em cinco das últimas seis sessões, o índice da B3 passou de ganho de 7,73% até o fechamento da quinta passada para uma baixa de 0,69% em outubro, após recuos de 4,80% em setembro e de 3,44% em agosto. No ano, a retração volta agora a 18,76%.

Pouquíssimas ações conseguiram se desgarrar do mau humor nesta sexta-feira - entre as componentes do Ibovespa, apenas Telefônica Brasil (+0,93%), IRB (+0,49%) e Rumo (+0,05%) fecharam o dia em alta. Na ponta do Ibovespa, B2W cedeu nesta sexta 8,97%, após resultados trimestrais, seguida por Hering (-6,80%), Via Varejo (-5,97%), Lojas Americanas (-5,91%) e Gol (-5,54%). As perdas também se disseminaram por commodities (Petrobras PN -1,81%, Vale ON -2,37%), siderurgia (Gerdau PN -3,07%), bancos (Santander -4,01%) e utilities (Eletrobras PNB -2,82%). Reforçado, o giro da sessão totalizou nesta sexta R$ 32,9 bilhões.

"Esta guinada para baixo nas últimas sessões reflete a necessidade de se colocar na planilhas a segunda onda de Covid", um cenário que por volta de agosto perdia força, mas que, com as novas medidas de distanciamento social adotadas nesta semana em grandes economias europeias, como a alemã e a francesa, por fim se materializou, aponta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. O prolongamento da pandemia, cortando a recuperação que vinha em curso no hemisfério norte, é algo que não tem como deixar de voltar a ser "colocado no preço" dos ativos, observa o estrategista. "A vacina, quando de fato vier, será uma baita notícia, e aí sim a resposta do mercado tende a ser forte."

Até lá, o investidor com exposição a risco precisa se sentir confortável com volatilidade nos níveis que se viu este ano, a qual acaba oferecendo oportunidades de entrada, especialmente para os que mantêm perspectiva de longo prazo. "Há dificuldades imediatas, como a definição do Renda Cidadã e a situação fiscal, e uma taxa de desemprego elevada, que tende a piorar quando os beneficiários do auxílio voltarem a procurar trabalho. Mas, se olharmos um ou dois anos à frente, a orientação da economia ainda é correta", acrescenta.

No curto prazo, o estrategista considera que, a depender do desenlace da eleição americana - se haverá contestação ou não do resultado - e de como será definido - passada a eleição municipal - o auxílio à renda a partir de 2021, uma nova rodada de aversão a risco, como a de setembro, pode vir a se impor, após o Ibovespa ter chegado a mostrar bom desempenho em outubro, com os balanços do terceiro trimestre.

Mais uma vez sacudido desde o exterior, onde prevaleceu nesta última sessão da semana a decepção com os resultados trimestrais das gigantes de tecnologia americanas, a poucos dias da eleição nos EUA e com feriado na segunda-feira no Brasil, a aversão a risco se impôs desde cedo nesta sexta-feira.

"A volatilidade vai prosseguir e com tantas incertezas, como a segunda onda de Covid na Europa e a eleição nos EUA, o investidor evita ficar comprado, em meio a tamanho nervosismo", observa Márcio Gomes, analista da Necton Investimentos, acrescentando que o prolongamento da pandemia desenha uma recuperação em W e não mais em V. "Graficamente, abaixo de 93,4 mil, abre espaço para o Ibovespa ir aos 90 mil pontos. O viés é negativo."

Juros

O mercado de juros acompanhou a dinâmica dos demais ativos, com taxas em alta durante toda a sessão. O clima de cautela no exterior foi intensificado por aqui em função do feriado de Finados na segunda-feira, quando a B3 estará fechada e os negócios transcorrem normalmente lá fora. Além dos receios com a segunda onda de Covid no hemisfério norte e da expectativa com a eleição americana na terça, houve reação negativa hoje a balanços e alertas de empresas de tecnologia. A curva teve ganho de inclinação tanto em relação a quinta-feira quanto na semana, mas, num mês marcado por forte pressão sobre os vértices curtos e intermediários, fechou outubro menos empinada em relação aos níveis do fim de setembro.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 3,46%, de 3,435% no ajuste anterior e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,976% para 5,05%, pico desde 27 de abril (5,59%). O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 6,78%, de 6,715% no ajuste anterior e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 7,504% para 7,57%. No fim de setembro, o spread entre os vencimentos de janeiro de 2027 e janeiro de 2022 estava em 443 pontos e nesta sexta fechou outubro em 411 pontos. Na última sexta-feira, o diferencial era de 399 pontos.

O efeito do comunicado do Copom, que na quinta colocou as taxas para baixo, nesta sexta se esvaiu, com os negócios bem mais sensíveis ao cenário internacional. "Temos essa inclinação hoje muito ligada ao exterior. Estamos num nível tal de estresse que já não é possível olhar a curva de forma exclusiva", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier. Até porque nesta sexta-feira, a exemplo dos últimos dias, o noticiário sobre reformas seguiu esvaziado e a agenda de indicadores, mesmo com a piora no mercado de trabalho apontada na Pnad Contínua, foi relegada a segundo plano.

A cautela antes do fim de semana prolongado ampliou a postura defensiva, na medida em que o investidor não quer ficar exposto ao risco até a reabertura dos negócios na terça, que será marcada pela divulgação da ata do Copom logo cedo e eleição nos EUA. "É grande o risco de ter novidades na Europa e nos Estados Unidos na segunda-feira e não poder operar Brasil", destacou Xavier.

O Banco Fator, em relatório, destaca que o retorno da inclinação da curva de juros no "day after" do Copom foi eloquente. "Sabe-se que o ponto crítico é o 'regime fiscal'. Considerando-se que, na hipótese mais favorável às reformas, alguma coisa seja aprovada em janeiro, nada terá significado para o mercado se o teto de gastos ficar ameaçado. Sem ele, não há por que criar gatilhos, receitas novas", afirma o banco, que tem José Francisco Lima Gonçalves como economista-chefe.


Agência Estado e Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário