Para
bem exaltarmos a Independência da Pátria, ocorrida em 7 de setembro de
1822, mister se faz, preliminarmente, que façamos uma histórica e longa
visada-à-ré, a fim de bem entendê-la.
Dizia
Cícero que “a História é a Mestra da Vida”, pois ela é a senhora dos
tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mensageira da
antiguidade. E a História, também considerada como "A Rainha das
Humanidades", para ser de utilidade ao Homem e ter sempre por escopo a
verdade e a justiça, deve assentar-se em duas condicionantes: o seu
registro e a sua veracidade; sem registros, ela se perde, além também de
ser passível de deformação, pelo que o historiador não pode ser levado
por caprichos, simpatias ou antipatias: ele deve primar pela
neutralidade, contextualizar os fatos, ser isento, amoral (no sentido
sociológico do termo), imparcial, enfim.
Em
22 de abril de 1500, este país-continente foi descoberto, mercê da
audácia, coragem e determinação do indomável português, quando a frota
de Pedro Álvares Cabral aportou na Bahia, “achando” a nova terra.
Naquele ano final do século XV (e não XVI, como é correntio dizer-se),
acentuava-se de forma exacerbada, o sentimento de religiosidade. As
tradições do Condado Portucalense, berço da nacionalidade lusa, remontam
aos monges-soldados das Ordens Militares, que lutaram junto à Cruzadas,
contra os mouros invasores da Península Ibérica, e profanadores de
locais sacrossantos, como o Templo de Salomão, razão pela qual foi
criada a esotérica Ordem dos Cavaleiros Templários, extinta pelo Papa,
em 1319. Para substituir a Ordem dos Templários, o rei Dom Diniz
instituiu a Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Infante Dom
Henrique, “o Navegador”, era o grão-mestre dessa Ordem e, ao fundar a
"Escola de Sagres", no início do século XV, convocou os melhores
Cavaleiros da Entidade para as grandes navegações marítimas. “Navegar é
preciso, viver não é preciso!”. Era o apelo, digamos, propagandístico,
da famosa Escola (que não existia fisicamente, mas era considerada uma
escola, em vista da reunião constante de navegadores em Sagres) com
vistas ao recrutamento e à formação dos melhores argonautas. Tal
marketing, na realidade, queria dizer que a navegação era segura e
precisa, de precisão matemática, em face do desenvolvimento do que hoje
chamamos de ciência e tecnologia e que Portugal vinha muito bem
dispondo, tudo ao contrário do que ocorria na incerta existência humana.
Não se referia ao desprezo pela vida, a qual, então, passaria a ser
secundária à arte de navegar; não era o “maktub” (“estava escrito”)
árabe, tão combatido por eles, fervorosos católicos, mas uma motivação
científica (os portugueses detinham a mais avançada tecnologia de
navegação do mundo) para o ato de singradura pelo
desconhecido Mar-Oceano. Fernando Pessoa, posteriormente, deu um sentido
poético e fatalista ao slogan, o qual passou a ser mal compreendido até
hoje.
Pelo
sentimento forte de religiosidade, as naus e caravelas de Portugal, que
zarpavam para mares nunca dantes navegados, conduziam em suas brancas
velas, com reverência e orgulho, a Cruz da Ordem de Cristo, estampada em
vermelho vivo, cor original da Corporação, cuja finalidade eram “a
expansão do Império e a propagação da fé, até lá bem donde nasce o sol”
(diga-se, por ilustração, que a bandeira da Ordem de Cristo foi, até
meados do século XVII, a da terra recém descoberta, o nosso amado
Brasil) e, segundo Camões, “se mais terras houvera, lá chegara” o
intrépido lusitano, sob o lema do “enverga mas não quebra!”.
O
Brasil foi, portanto, descoberto, melhor dizer-se, “achado”, em
decorrência de um ousado empreendimento religioso-militar. Destarte, o
país nasceu sob a proteção da Cruz e da Espada, tanto que o motivo do
sermão da Primeira Missa foi o do sinal da cruz, razão por que o
Almirante Pedro Álvares Cabral determinou que se substituísse por uma
cruz de madeira, o conhecido padrão de posse, com as Armas de Portugal,
ato bem caracterizado em consagrada aquarela, de Pedro Peres, de título
“A Elevação da Cruz”, constante do acervo do Museu de Belas Artes, no
Rio de Janeiro.
As glórias desses
fastos de nossa bela gesta se devem a Pedro Álvares Cabral e aos seus
argonautas, os monges-soldados, mas, fundamentalmente, à galhardia
portuguesa que pode tão bem ser evidenciada, na determinação para a
construção do monumental Forte Príncipe da Beira, por Dom Luiz de
Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, governador e Capitão-General da
Capitania de Mato Grosso, em 1776, que assim ordenou: “A soberania e o
respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte e isso é
obra e serviço dos homens de El-Rei nosso Senhor e, como tal, por mais
duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso se dê, é serviço
de Portugal. E tem que se cumprir!”.
Para
ainda melhor entendermos a nossa Independência, urge que remontemos ao
ano de 1808, quando a Corte portuguesa se transmigrou para o Brasil.
Passados pouco mais de duzentos anos a interpretação do fato se torna
muito mais fácil. Quando Napoleão Bonaparte decretou o bloqueio
continental contra os interesses britânicos, Portugal, aliado da
Inglaterra, não dispunha de meios suficientes para enfrentar o poderio
bélico francês. Dom João seria feito prisioneiro pelas tropas
franco-espanholas, como ocorrera com o seu cunhado, Fernando VII, da
Espanha, e perderia o Trono. Então, para preservar a Coroa, a dinastia
dos Bragança e o próprio reino português, o Príncipe Regente decidiu não
se submeter à invasão do general Junot, embarcando para o Brasil, a sua
principal Colônia. O Oceano Atlântico, dominado pela Marinha inglesa,
seria a natural proteção da Corte em terras brasileiras. Os portugueses
permaneceriam resistindo junto com o Exército inglês, até à retirada dos
invasores. Napoleão diria, ao depois, que fora enganado por Dom João.
Portanto, a transmigração da Corte lusitana afigura-se, na visão
histórica hodierna, como uma alternativa bastante lógica para a
sobrevivência do pequeno Portugal. Ademais, tal alternativa, longe de
ter sido uma fuga covarde, como se apregoa, alhures, foi preparada com
muita antecedência, sem improvisação. Grandes vultos da História lusa,
como o Marquês de Pombal e o Conde de Linhares, a haviam aconselhado
(acrescente-se que ela foi vaticinada pelo notável Padre Antônio
Vieira), caso Portugal, um país de pequena dimensão, pouco populoso e de
reduzido poder militar, fosse ameaçado em sua integridade territorial.
Lorde Strangford, à época embaixador inglês em Portugal, nos dá conta de
um acordo secreto, celebrado com a Inglaterra, que previa a fundação de
um grande Reino no Brasil, com a anexação da Cisplatina (consigne-se
que tal viria a ocorrer, além da invasão da Guiana Francesa). Convém
lembrar, finalmente, que uma transladação do porte da ocorrida, não se
faz de afogadilho. Aproximadamente 15.000 pessoas embarcaram em 36 naus e
fragatas, com valiosíssimo acervo, preciosos bens públicos e privados,
suprimentos de toda ordem etc. Não houve, pois, uma infame deserção e,
sim, uma magistral manobra geopolítica muito bem urdida. Relembremos dos
principais atos régios na esfera da administração civil e na área
militar praticados por Dom João, que viria a ser, como Dom João VI, a
augusta figura do 27° Rei de Portugal. Foram eles:
- a abertura dos portos às nações amigas;
- a elevação da Colônia - um Vice-Reinado -, a “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”;
- a implantação da Imprensa Régia;
-
a criação do Conselho de Estado, do Banco do Brasil, da Casa da Moeda,
da Biblioteca Real, do Museu Real, do Horto Florestal, do Jardim
Botânico etc.;
- a fundação da
Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, depois Academia de Belas
Artes, e da Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura
Civil;
- a criação de duas Escolas de Medicina, no RJ e na BA;
-
a contratação de uma Missão Cultural Francesa e de outras de menor
porte, de cunho científico e artístico integradas por nomes consagrados
internacionalmente, comoVon Spix, Von Martius, Langsdorf, Lebreton,
Montigny, Debret, Rugendas, Saint Hilaire e outros;
- o início das atividades das indústrias naval (em especial para fins militares), no RJ e BA, e siderúrgica em MG e SP;
- a vinda da Divisão de Voluntários Reais, uma tropa de elite do Exército Português;
- a criação dos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Guerra;
- a instalação da Academia de Marinha e a criação da Academia Real Militar;
- a criação das Fábricas de Pólvora e de Armas;
- a criação dos arsenais de Guerra e da Marinha;
-
a padronização de uniformes, armamento e equipamentos para todas as
tropas do País, e a criação de diversas Organizações Militares nas
Capitanias;
- a extinção das tropas de 3ª linha – as “ordenanças” – e a reestruturação e reaparelhamento das de 1ª e 2ª linhas.
Gostaríamos,
agora, de registrar as proféticas declarações geoestratégicas de Dom
Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares, primeiro ministro da
Guerra de Dom João, e Precursor da Geopolítica brasileira: - Citação: “O
Brasil é sem dúvida, a primeira possessão de quantas os europeus
estabeleceram fora de seu continente, não pelo que há, atualmente, mas
pelo que pode ser no futuro. A feliz posição do Brasil dá a seus
possuidores uma tal superioridade de forças, pelo aumento
da povoação que se alimenta dos seus produtos e facilidade do comércio,
que, sem grandes erros políticos, jamais os vizinhos do Norte e do Sul
lhes poderão ser fatais” –Fim da Citação.
Impende
lembrar que a permanência joanina, de doze anos no Brasil, redundou no
que Sílvio Romero cognominou de a “Reversão Brasileira”, ou seja, com a
vinda da Corte e, além disso, do Estado português para o Brasil, a
Metrópole passou as ser “Colônia da Colônia”. O período joanino,
outrossim, nos legou a fantástica unidade territorial e linguística e a
consolidação da nacionalidade brasileira. Nossos maiores Orgulhos! Não
apenas por isso, Dom João é tido, com justa razão, como o “Consolidador
da Unidade Nacional” e não o personagem grotesco como “malditos sejam” o
retratam. Ele possuía uma mente assaz lúcida e, o principal, era senhor
de excepcional visão prospectiva, digna dos melhores estadistas. O
Príncipe amava o Brasil e sabia, com coragem e determinação, tomar
sérias decisões. E lembremos de que a nossa nacionalidade, consolidada
por Dom João VI, é de extração essencialmente lusitana; ela provém do
vetusto Portugal, um dos Estados mais antigos da Europa, de historial
multissecular; ela provém de Viriato, da velha Lusitânia; de Dom Afonso
Henriques, o Fundador da Monarquia portuguesa; do Condestável Dom Nuno
Álvares Pereira (hoje, São Nuno Álvares Pereira, o herói da batalha de
Aljubarrota); do Infante Dom Henrique, o “Navegador”, e de sua "Escola"
de Sagres; do Almirante Pedro Álvares Cabral e de seus monges-soldados;
ela provém das glórias pretéritas do Exército Português que ostenta e se
ufana do seguinte apotegma: “Somos o Exército daqueles em quem poder
não teve a morte, que por vencidos jamais se conheceram e cuja fama se
perde distante no silêncio de tempos remotos”; ela provém do
poeta-soldado Luiz Vaz de Camões e de tantos outros insignes personagens
históricos como, repita-se, Dom João VI, que muito bem souberam cumprir
Portugal! A nacionalidade brasileira não provém das tabas indígenas nem
das cubatas africanas ou tampouco de outras etnias que, inegavelmente,
também muito contribuíram para tal. Somos uma raça cósmica, mistura de
todas as raças, sem predomínio de nenhuma delas, fruto do
luso-tropicalismo, na afirmação do saudoso e grande 'explicador' do
Brasil, Gilberto Freyre que, acrescente-se como corolário, soube
enaltecer como ninguém, o altivo, glorioso e invicto Exército de Caxias,
o qual, em seu dizer, “é a mais lídima e representativa das
Instituições nacionais: o verdadeiro índice do povo brasileiro”.
É
disso que devemos nos recordar com ufania, sendo certo que Dom João, um
dos pró-homens de nossa História, pavimentou o caminho para que seu
filho, o Príncipe Dom Pedro, proclamasse a Independência do Brasil.
Seria despiciendo, um mero exercício de tautologia, recordarmos dos
principais fatos que culminaram com o 7 de setembro de 1822. Todavia,
cometeríamos uma injustiça histórica se não citássemos os excelsos nomes
da Princesa Leopoldina - "A Madrinha da Independência do Brasil" e
"Libertadora da Pátria Brasileira" - e de José Bonifácio de Andrada e
Silva, "O Patriarca da Independnência"... E nos ensina Capistrano de
Abreu que o retorno imposto a Dom João, pelas Cortes portuguesas, em
1821, pode-se caracterizar como a “independência de Portugal” em relação
ao Brasil.
Por último, na
relembrança de nossa completa Independência, não podemos deixar de
anotar o 7 de abril de 1831, quando o sentimento de exacerbado
nacionalismo fez com que Dom Pedro I, premido pelas forças vivas da
Nação (o Exército Nacional à frente), abdicasse do Trono em nome de seu
filho, o futuro Dom Pedro II, então com cinco anos de idade, e
embarcasse para Portugal. É que Dom Pedro estava se tornando cada vez
mais impopular ao povo brasileiro, máxime após 1826, quando faleceu Dom
João VI, o qual, por testamento, deixara o Trono de Portugal para o
Imperador do Brasil. Dom Pedro se empolgou com a decisão paterna, e,
como Dom Pedro IV, de Portugal, nomeou uma Regência para representá-lo
em sua terra natal e concedeu uma Constituição à nação portuguesa. Tais
atitudes muito abespinharam os brasileiros, o que fez com que Dom Pedro
recuasse e abdicasse do trono português, em nome de sua filha mais
velha, Dona Maria da Glória. Mas os conflitos entre portugueses e
brasileiros se agudizaram e se transformaram em conflitos de rua, no Rio
de Janeiro. À volta de Dom Pedro I, de Minas Gerais, em março de 1831,
ocasião em que o Soberano lá observou uma atmosfera de desconfiança
quanto à sua pessoa, devida à frieza das recepções, os portugueses o
receberam no Rio, provocativamente, com grandes festejos e manifestações
de alegria, acendendo luminárias à sua passagem pelas ruas, o que
resultou no conflito conhecido como “A Noite das Garrafadas” (na
realidade, os graves distúrbios entre brasileiros e portugueses
ocorreram nos dias 12, 13 e 14 de março de 1831). Dom Pedro nomeou um
ministério, em 5 de abril, composto quase que exclusivamente de
senadores de sua inteira confiança, mas francamente antipopulares. O
povo e as tropas sublevadas se insurgiram, exigindo a volta do
ministério anterior ao de 5 de abril. O Imperador, não querendo ceder às
exigências brasileiras, resolveu abdicar em 7 de abril, em favor de seu
filho menor, Pedro de Alcântara, e embarcou para Portugal, deixando
José Bonifácio, como tutor de seus filhos.
O forte sentimento de brasilidade, que imperou em 1831, deveria servir de “leit motiv” para as gerações posteriores!
Já
nos prelecionava Coelho Neto, em seus “Mandamentos Cívicos”: “Ama a
terra em que nasceste e à qual reverterás na morte. O que por ela
fizeres, por ti mesmo farás, que és terra e tua memória viverá na
gratidão dos que te sucederem”.
Nada é mais importante para a grandeza de um País do que o Patriotismo, valor-supremo que deveria ser por demais cultivado!
Filgueiras
Lima, exponencial vate da Ilustração Cearense, indignava-se contra a
carência de patriotismo, nessas estrofes de seu poema “Brasil dos meus
Avós”:
“Brasil dos meus avós, acorda!
Vem trazer-nos o ardor que rugia e cantava
No peito de teus filhos de outras eras
De Caxias, Osório, Sampaio e Tiradentes.
Dos heróis de Itororó e Tuiuti,
Que rolaram no pó, rubros de sangue,
Com o coração e o pensamento em ti!
Brasil dos meus avós,
Ressurge, dentro de nós, nesta hora extrema!
Inspira-nos um cântico marcial e romântico
Que seja como a nova Marselhesa
Da Pátria de Peri e de Iracema.
Faze que cada brasileiro, neste instante,
Lembre o velho cocar, o vetusto diadema
A tremular, medievalescamente,
Na fronte heril dos teus guerreiros selvagens
Guerreiros mais humanos e sensíveis do que os homens maus do Velho Mundo
Que, irrompendo do céu ou do fundo do mar,
Matam mulheres, velhos, paralíticos,
Tão só pelo desejo infame de matar...
Brasil dos meus avós
Dá-nos aquela mesma galhardia
Dos teus veros heróis das matas virgens,
Que marcavam a hora dos recontros bélicos
À plena luz do dia
E cumpriam a palavra dada
Como coisa sagrada
Sem dissimulação nem covardia...
Brasil dos meus avós
Eu bem o sinto!
Estás dentro de nós, Brasil de meus avós!
Sincero, puro, másculo, viril
Tu que és o Brasil de hoje e de sempre,
O imortal Brasil!"
O
Brasil, nossa Pátria, com pouco mais de quinhentos anos de História, é
um País singular, em especial por suas incomensuráveis potencialidades e
população, esta preponderantemente generosa, alegre, acolhedora de
povos das mais variadas origens. Todos esses povos aqui se miscigenaram e
formaram, nunca é demais repetir, uma raça cósmica, uma meta-raça, sem
predominância de nenhuma delas, forjando o Homem Brasileiro, do qual
devemos sempre e sempre nos orgulhar. A nossa gente é essa mistura de
raças, religiões e costumes, sem qualquer distinção; é a heterogeneidade
que, entretanto, se torna una, coesa, monolítica, indivisível, nas
ocasiões em que se ouve o Hino Nacional, ao se contemplar a Bandeira a
drapejar nos mastros, ou quando das festividades desportivas,
solenidades cívico-patrióticas, etc.
Em verdade, já dizia o poeta popular Djalma Andrade, em “Brasil Atrapalhado”:
"A gente fala, protesta,
Nesta terra nada presta.
O povo é lerdo, indolente...
É a farra, ninguém trabalha,
A peste, a pátria amortalha
Sob o sol rude, inclemente...
A lei é mito, pilhéria...
Ninguém liga a coisa séria
Não há remédio, é da raça.
A vida se desbarata
O pinho, a cuíca, a mulata,
O amarelão, a cachaça...
A gente murmura, fala
Velhos defeitos propala
Em língua rude e vil
É a pior terra do mundo
Mas no fundo, no fundo,
Quanto amor pelo Brasil!
Tudo da boca pra fora!
Porque cá dentro ele mora
Cá dentro é que gente o sente
Meu Brasil atrapalhado,
Meu Brasil confuso e errado
Você vê que o povo mente.
Você vê que a gente grita
Mas vê também que é infinita
Esta paixão por você...
Se a Bandeira levanta,
Lá vem o nó na garganta,
E você sabe por quê...
Você sabe e não se importa
A nossa injúria suporta
E o nosso labéu também...
Deixe que xingue, que bata
A gente fere e maltrata,
Quase sempre, a quem quer bem.
Meu Brasil, aqui baixinho,
Ouça, sou todo carinho,
e a minha alma você vê...
Qualquer perigo que corra,
Se for preciso que eu morra,
Eu morrerei por você..."
O
Brasil é essa vastidão de dimensões continentais. É a “Nação do Sol”, e
o "Império das Águas", onde vamos encontrar, em abundância, a trilogia
para a existência da vida: ar, água e sol. Assim, em se sabendo
aproveitar esses elementos da natureza, teremos de sobra, como ninguém, a
Energia, que tudo move no Universo! O exemplo maior é a nossa Amazônia.
Ela agrega uma população mestiça com variados estoques de etnias
indígenas, ainda muito pobre e desassistida. Possui, em sua
biodiversidade, o maior e mais rico banco genético do planeta; detém,
igualmente, o maior potencial de água potável do mundo, em seus grandes
rios, todos navegáveis por navios de qualquer calado, formando um
verdadeiro "mar fechado", o “Mare Nostrum Brasileiro”! As maiores
jazidas de minérios raros, de terceira geração, ocorrem de forma
abundante na imensa região, que ainda possui uma superlativa posição
geoestratégica, por ser totalmente cortada pela fictícia linha do
Equador, o que muito propicia e facilita o lançamento de artefatos
aeroespaciais, como sondas, mísseis, foguetes, satélites e até naves
espaciais, as 'cosmonaves', sendo o Centro de Lançamentos de Alcântara,
no Maranhão (aliás, localizado na “Amazônia Legal Brasileira” e que deve
permanecer, unicamente, sob jurisdição nossa), o melhor dentre todos os
existentes. Daí a imperiosa necessidade de nossa firme determinação em
tudo fazer para a ocupação, defesa e guarda daquela cobiçada terra
brasileira, cuja soberania nos cabe preservar, missão que as gloriosas
Forças Armadas vêm cumprindo, airosamente, com muito denodo e
patriotismo, desde nossa proto-história. “Árdua é a missão de
desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de
nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”, nos ensinava o General
Rodrigo Octávio Jordão Ramos.
A
História do Brasil é prenhe de heróis nacionais que não trepidaram em
sacrificar a própria vida ou verter o seu generoso sangue pela honra e
soberania nacionais. Entre tantos e tantos, destacaremos apenas dois:
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes - Patrono Cívico da Nação
brasileira e Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias - Patrono do
Exército Brasileiro e “O Pacificador”, ambos instituídos “Heróis
Nacionais”, cujos augustos nomes estão inscritos no “Livro de Aço”
existente no Panteão da Pátria, em Brasília.
Na
história-pátria é providencial o homem que pode orientá-la sem lhe
sacrificar a moralidade, guiando-a com sabedoria, sem a iludir, sem a
inquietar, sem a empobrecer. "Providencial é o herói sem injustiça, o
legislador sem ambição, o chefe sem egoísmo, o político sem paixão, ou
antes, impelido pela única paixão compatível com os deveres cívicos, que
é a sagrada paixão do Bem-Comum". Assim, por certo, tornar-se-ia
realidade o sonho de Gilberto Freyre:
“Eu ouço as vozes, eu vejo as cores.
Eu sinto os passos de outro Brasil que vem aí.
Mais tropical, mais fraternal, mais brasileiro.
O mapa desse Brasil, em vez das cores dos Estados,
Terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil, em vez das cores das três raças,
Terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil, em vez das cores boreais,
Terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer:
É assim que eu quero o Brasil!”
Que
no permanente culto da bela e rica História Nacional e de seus heróis,
estejamos sempre prontos a contribuir de maneira efetiva e especialmente
patriótica, para o engrandecimento de nosso amado Brasil!
Destarte,
exaltar o civismo, glorificando os que mais lidaram por encher os anais
da Pátria de cintilações astrais é dever precípuo de todo povo que
aspira a se fazer merecedor da reverência e da admiração do mundo. Sim,
pois quando um povo entra a esquecer, nos prazeres fugacíssimos da vida,
dos vultos mais salientes, dos feitos marcantes de sua História,
daqueles que mais se sublimaram pelo saber, pela santidade, pelo
heroísmo ou pelo martírio, ninguém deve maravilhar-se de vê-lo, um dia,
desagregado, desvirilizado, desacreditado e, ainda por maior desdita,
escravizado pelos outros povos. É a lição triste da História, “a mestra
da vida”, “a mestra das mestras”...
Mas é tempo de concluir.
Por
derradeiro, gostaríamos de repetir as palavras dos centuriões romanos
às suas tropas, antes das batalhas: “Adsumus! Sursum Corda”! “Aqui
estamos! Corações ao Alto”!
Sim,
nesta hora solene de reverência à Pátria, Corações ao Alto por este
fraternal cenáculo de nossa Academia de Letras e Artes do Planalto!
Corações ao Alto por nosso acendrado sentimento cívico! Corações ao Alto
por nosso estremecido Brasil!
E como dizia Olavo Bilac:
“Ama, com fé e orgulho,
A Terra em que nasceste.
Criança,
Não verás nenhum País com este!"
"Ex corde", o meu muito, muitíssimo obrigado! Eu disse.
Manoel Soriano Neto.