A Revolução Francesa e a Educação

O homem livre que se conduz por si mesmo necessita de mais luzes do que o escravo que abandona sua conduta a um outro.” Condorcet,1792

Um dos temas mais fascinantes colocados pela revolução de 1789 foi a questão da educação popular. De certa forma até hoje ainda se tenta, particularmente nos países do Terceiro Mundo, levar adiante o programa dos revolucionários franceses, especialmente o do filósofo Condorcet.

A Declaração e a educação

É bom lembrar que a ideia de que todos nós, independentemente de sexo, religião, raça, nascimento ou situação social, devemos ter acesso à mesma educação foi um dos mais significativos e duradouros legados da Revolução Francesa de 1789. Chegar a ela, a essa conquista, realmente não tem sido fácil, mas o primeiro passo foi inquestionavelmente dado pela proclamação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, e reafirmado por uma outra declaração de dirietos, a de 1793, em seu artigo 22.

O fim dos jesuítas

A discussão dos destinos e raio da abrangência da instrução pública deu-se de forma extremamente polêmica, bem antes dos acontecimentos de 1789,. Remontou há trinta anos antes, aos tempos em que se dera a batalha entre os que defendiam a expansão da autoridade real e os inacianos, fazendo com que os primeiros conseguissem com que a Companhia de Jesus fosse finalmente proibida de possuir escolas na França. Em 1762, um decreto real interditou seus colégios, fazendo com que mais de 600 prédios administrados pelos padres jesuítas passassem ao controle dos notáveis locais.

Rousseau e La Chalotais

Como que prenunciando o vigoroso debate que se seguiria, naquele mesmo ano Jean-Jacques Rousseau fizera publicar seu ensaio pedagógico – Emílio – em que se propunha, além do abrandamento dos castigos físicos nas escolas, um retorno às chamadas virtudes naturais. Mas o que causou mais sensação na época foi um livro de La Chalotais, um pedagogo que há anos vinha lutando para tornar o ensino uma atividade exclusivamente secular. La Chalotais, no entanto, não desejava estendê-lo ao povo inteiro. Ensino estatal sim, mas apenas para as classes abandonadas, chegando até condenar os Frèves Ignorantins, integrantes do baixo clero francês, que ensinavam os rudimentos do alfabeto aos trabalhadores e aos pobres em geral.

Reações contra o ensino público

Segundo ele, ensinar as letras aos operários e camponeses seria desviá-los das tarefas que a natureza e a ordem social haviam determinado para eles! … Foi o que bastou para que ninguém menos do que Voltaire, um elitista assumido, se congratulasse com o pedagogo, pois, para o grande escritor, as luzes não eram para “alfaiates e bodegueiros”, mas sim um apanágio da aristocracia pensante.
Mais radical ainda foi o cura de Lisieux, o padre Réguis que em seus sermões arengava contra a inutilidade de esclarecer os trabalhadores; “saber ler e escrever”, dizia ele do seu púlpito, “não os ensinará a melhor lavrar a terra, não irá lhes melhorar os costumes, nem lhes tirar a malícia […] nem os torna mais dóceis ao seu pastor, nem os torna mais virtuosos e mais cristãos”. Louvem-se, no entanto, alguns professores jansenistas (dissidência católica), como Jean-Baptiste Crévier, que contra-argumentava terem sido os “Evangelhos escritos para serem lidos” e que a fé seria reforçada por aqueles que tinham o domínio dos princípios cristãos expressos nos livros.



A Revolução Francesa de 1789


Cronologia

Em seis anos a Revolução Francesa teve muitos avanços e recuos. Nessa cronologia estão os fatos mais marcantes desde a convocação dos Estados Gerais (1789) até o golpe do 9 Termidor (1794):

1789

  • Março: os camponeses se revoltam nos departamentos de Provença, Picardia e Cambresis;
  • 5 de maio: sessão de abertura dos Estados Gerais, que foram convocados pelo Rei Luís XVI, para resolver a crise;
  • 17 de junho: o Terceiro Estado (povo e burguesia), um dos três grupos dos Estados Gerais, se proclama Assembleia Nacional;
  • 9 de julho: a Assembleia Nacional proclama-se Constituinte;
  • 11 de julho: demitido o ministro das Finanças, Jacques Necker, um progressista; o descontentamento cresce;
  • 12 de julho: vários amotinamentos, incêndios e refregas;
  • 13 de julho: formada uma milícia burguesa;
  • 14 de julho: o povo toma a Bastilha – o símbolo do absolutismo francês;
  • 20 de julho: inicia o chamado “grande medo”, pânico geral e mais revoltas;
  • 4 de agosto: a Assembleia vota a abolição parcial de privilégios feudais;
  • 26 de agosto: votação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão;
  • 5 e 6 de outubro: as mulheres marcham a Versalhes e trazem Luís XVI para Paris;


1790

  • Maio: discutidos os direitos de paz e guerra. O conde de Mirabeau vende seus serviços ao Rei;
  • 31 de agosto: massacre dos soldados suíços que estavam amotinados em Nancy.

1791

  • 20 a 21 de junho: Rei Luís XVI e sua família fogem de Paris, mas são detidos em Varennes;
  • 15 de julho: a Assembleia Constituinte desculpa a fuga do Rei;
  • 17 de julho: La Fayette é acusado de tirar contra os grupos que exigiam a deposição do Rei, no Campo de Marte;
  • 14 de setembro: Luís XVI jura fidelidade à Constituição;
  • dezembro: a França se prepara para enfrentar os exércitos estrangeiros.

1792

  • 23 de janeiro: agitações contra a falta de café e açúcar;
  • 15 de março: formado o ministério girondino;
  • 24 de abril: Rouget de Lisle compõe a Marselhesa;
  • 13 de junho: cai o ministério girondino;
  • 11 de julho: a Assembleia Legislativa (eleita após a dissolução da Constiuinte) declara: “A pátria está em perigo”;
  • 10 de agosto: mais insurreições; o povo assalta o palácio das Tulherias, massacrando os guardas suíços do Rei; é convocada a Convenção Nacional – o órgão máximo;
  • 2 a 6 de setembro: o povo massacra os contrarrevolucionários que estão nas prisões;
  • 20 de setembro: o Estado rompe com a Igreja Católica; fica instituído o divórcio;
  • 21 de setembro: abolição da monarquia;
  • 11 de dezembro: inicia o processo de acusação contra Luís XVI.

1793

  • 21 de janeiro: guilhotinamento de Luís XVI;
  • 10 de março: instituído o Tribunal Revolucionário, Danton é o ministro de Justiça;
  • 5 de abril: instalado o Comitê de Salvação Pública – um dos braços de Convenção Nacional;
  • 31 de maio a 2 de junho: 27 deputados girondinos são presos em Paris, acusados de conspiração;
  • 10 de julho: reforma do Comitê de Salvação Pública; Danton é afastado;
  • 13 de julho: Marat é apunhalado dentro de uma banheira;
  • 17 de julho: abolição definitiva, sem indenizações, dos privilégios feudais;
  • 27 de julho: Robespierre assume o Comitê de Salvação Pública;
  • 4 e 5 de setembro: o “Terror” entra na ordem do dia;
  • 17 de setembro: aprovada lei que permite executar suspeitos;
  • 5 de outubro: entra em vigor o calendário republicano;
  • 16 de outubro: execução da Rainha Maria Antonieta;
  • 31 de outubro: execução dos girondinos.

1794

  • 24 de março: executados os seguidores de Jacques Hébert;
  • 30 de março: guilhotinamento dos dantonistas;
  • 10 de junho: reorganização do Tribunal Revolucionário; início do “Grande Terros”;
  • 22 e 23 de junho: falham as tentativas de conciliação;
  • 27 de julho: Golpe do 9 Termidor. Robespierre é acusado de tirania e guilhotinado, com 22 de seus partidários, no dia seguinte.



A Revolução Francesa de 1789 Parte II

A queda da monarquia e a República revolucionária

Somente na aparência as coisas se acalmaram depois da formação da Assembleia Nacional, da aprovação dos direitos e de uma Constituição monárquica. A partir de 1791 a Coroa, a Assembleia e as ruas iriam se envolver em um redemoinho que as levariam à guerra civil e ao terror revolucionário.

A fuga do rei

O que restava do prestígio de Luís XVI, de resto um homem afável e avesso aos gestos violentos, se desfez em razão de uma desastrada e desesperada tentativa de fuga, ocorrida em 20 de julho de 1791. Antes, o rei já havia passado por outras humilhações. A cinco de outubro de 1789, por exemplo, uma multidão de mulheres marchara de Paris até Versalhes. No dia seis elas invadiram o Palácio de Versalhes e obrigaram-no a voltar, ele e sua família, para o Palácio das Tulherias, em Paris, onde seria colocado sob vigilância popular. O monarca e os seus passaram a morar nas Tulherias, como se fossem prisioneiros de fato.
Na noite de 20 para 21 de junho de 1791, numa trama arquitetada por Axel de Fersen, um aristocrata estrangeiro muito próximo à rainha Maria Antonieta, rei Luís XVI tentou escapar da França, acompanhado pela esposa e seus quatro filhos e um grupo reduzido de cortesãos. Sua Majestade escapuliu do Palácio das Tulherias secretamente numa carruagem rumo à Bélgica. Preparada às pessoas a tentativa malogrou em Varennes, na fronteira da Bélgica. Justo ali, depois de parar numa taverna, Luís XVI foi reconhecido, detido pela milícia local e recambiado para Paris.

O plano contra revolucionário

A fuga de Luís XVI fazia parte de um plano contra revolucionário. Muitos nobres que se exilaram logo após a tomada da Bastilha queriam que Luís XVI comandasse uma invasão da França apoiado pelos exércitos dos reis estrangeiros. Para tanto, para proteger-se a ele e aos seus, era preciso sair a qualquer custo de Paris. Provas desse plano forma posteriormente encontradas nos papéis do rei existentes dentro de um armário de ferro nas Tulherias. E também de que a rainha tivera diversos encontros com Mirabeau (morto pouco antes da fuga real)que, exatamente como Marat e Alexandre Lameth, em momentos diferentes denunciaram, desejava conciliar a revolução com a monarquia. A Coroa pagara regiamente o tribuno da revolução.
Em seu retorno à capital, escoltado, o rei e sua família foi acolhido por uma imensa multidão que, aqui e ali, o injuriava como traidor. De certa forma aquele desfile tétrico pelas ruas de Paris, a maior parte dele envolto num silêncio sepulcral, foi a antecipação do percurso que Luís XVI e sua mulher tiveram que cumprir uns meses depois rumo ao cadafalso da Praça da Guilhotina (ironicamente situada na Praça Concórdia!). Politicamente, o rei morreu naquele dia.

A invasão da França

As turbulências persistiram em 1792, ano em que a França passou da monarquia à república. Os revolucionários estavam cercados pelos reis estrangeiros que, como os documentos aprendidos revelaram, pretendiam invadir a França e restabelecer o poder absolutista. A 25 de julho, o duque Brunswick, comandante das tropas austro prussianas encvadas em socorro do monarca preso pelo seu próprio povo nas Tulherias, depois de adentrar em território francês, lançou uma intimação sobre Paris: quem não se submetesse à autoridade real seria punido exemplarmente por meio de tribunais militares de exceção.


A reunificação Sui-Tang

Durante o período de desunião, a falta de ortodoxia central permitiu que as Seis Dinastias do Sul, a maior parte com capital em Nanjing, e os Dezesseis Reinos do Norte se diferenciassem e inovassem. O budismo e o daoísmo inspiravam artistas, filósofos e escritores. Muitas histórias dinásticas referem-se às efêmeras pequenas dinastias dessa era.
Os três séculos das dinastias Sui-Tang (589-907) finalmente restabeleceram o ideal chinês de unidade desenvolvido sob os Han. O Norte da China fora devastado pelas invasões nômades, enquanto o Sul do país ao longo do Yangzi tinha prosperado de forma relativamente pacífica. Os sessenta milhões de pessoas estimados sob a dinastia Han no ano 2 d.C. (principalmente no Norte da China) tinham sido reduzidos em números, mas a migração de famílias Han para o Sul começara a mudar o centro da gravidade da China. Na época moderna, o Sul da China abrigaria dois terços da população chinesa. Porém, do século VI ao X a grande massa popular da China ainda habitava a planície do Norte, facilmente unificada, onde foi constatada uma grande quantidade de prefeituras, cada uma com cem mil moradias (digamos, quinhentas mil pessoas). Conforme assinalado por Mark Elvin (Bluden e Elvin, 1983), ao Império Romano “faltou uma região dominante e consolidada que se comparasse”. A centralidade do Norte da China e a enorme população eram um fator de união. Quem quer que a controlasse poderia facilmente subjugar as demais áreas, incluindo o Sul da China.
Os fundadores das dinastias Sul e Tang tinham se casado com famílias de tribos nômades achinesadas. Agora eram as famílias aristocráticas do Noroeste da China, localizando-se especialmente na atual província de Shanxi e na região da antiga capital que ia do vale Wei, passando pelo lado sul do rio Amarelo, até a planície do Norte da China. Assim como os Zhous e os Qin, essa área ao noroeste obtinha sua força militar dos povos nômades. Dos pastores das pradarias, os chineses compravam cavalos para batalhas de cavalarias, calças para montar com as pernas separadas, selas e, depois, estribos, além de arreios e, por fim, a coleira, que seria cópia do Ocidente. As relações desses clãs com a Ásia Central no comércio e na dilomacia eram próximas e influentes muito antes da reunificação Sui-Tang dentro da China.
O fundador dos Sui permanecia a uma família Yang parcialmente nômade com a residência a meio caminho entre as duas antigas capitais dos Zhou e dosHan, Chang'an e Luoyang. O fundador da dinastia Tang era, da mesma forma, um descendente de uma família Li de origens militares turcas e status aristocrático. Esses aristocratas militares tinham se casado tanto com os chineses como com familiares um do outro, formando um grande grupo homogêneo de hindus à altura das empreitadas dispendiosas de conquistas e administração. Os reis nômades do Norte da China adotaram de forma tão zelosa maneiras chinesas, incluindo idioma, vestimentas e métodos de governo, que seus estados híbridos pareciam ser, nos registros históricos, propriamente chineses.
O último dos Dezesseis Reinos já haviam unificado o Norte da China quando o fundador dos Sui Tomou o poder em 581. Elaborou rapidamente um novo código judicial com quinhentos artigos, impôs a ordem do governo local e deu continuidade a diversas instituições iniciadas por reinos anteriores. Entre estas estava o sistema de “Campo igualitário” que deveria, a cada ano, reservar vários acres de terra cultivável a cada homem adulto. Ele também continuou com o sistema de responsabilidade coletiva por grupos de residências, as milícias com administração territorial e as colônias agrícolas militares na fronteira. A burocracia unificada resultou no recebimento de impostos; silos de ajuste de preços compravam grãos nos tempos de fatura e os vendiam barato em tempos de carestia. Nesse ínterim, os monastérios budistas tornavam-se grandes latifundiários de influência crescente. A devotada patronagem do imperador criou (nas palavras de Arthur Wright) um “budismo imperial”.
A conquista do Sul pelos Sui ao longo do Yangzi não foi muito destrutiva, e o segundo imperador, Sui Yangdi, conseguiu mobilizar os recursos do império para grandes projetos. Um foi a ampliação do Grande Canal desde o norte de Hangzhou, e então até o noroeste na região Luoyang. Em 609, ele foi estendido em direção ao nordeste, para a região de Tiajin e Beijing, Utilizando os riachos e lagos locais, o transporte de balsa podia levar mantimentos e mercadorias do baixo Yangzi até o Norte da China para fortalecer a fronteira norte, além de alimentar a área da capital. Foram construídos grandes silos (cada um podia armazenar 33 milhões de alqueires).
Essa desordenada explosão de energia sob um imperador com visões de grandeza já inspirou comparações entre os reinos de vida efêmera de Sui Yngdi e Qin Shihuang, dois que excederam. A tentativa de conquista da Coreia por Yangdi esgotou seus recursos, e essa derrota contribuiu para desanimar a rebelião e ocasionar sua perda do mandato.
Os fundadores da dinastia Tang foram mais prudentes. Herdaram as conquistas dos Sui, incluindo a enorme capital de oito por nove quilômetros. Chang'an, e a capital secundária, Luoyang. Enquanto os departamentos administrativos da dinastia Han tinham coordenado os assuntos palacianos e dinásticos familiares lado a lado com os assuntos de interesse geral da nação, os Sui e os Tang estabeleceram seis ministérios – administração pessoal, fazenda, ritos, exércitos, justiça e obras públicas – que formariam as principais divisões do governo chinês até 1900. Outros órgãos incluíam a censura, que analisava relatórios sobre a conduta oficial e até mesmo a imperial, e uma versão primitiva do sistema de exames oficiais.
No governo do segundo imperador, os exércitos Tang espelharam-se pelo exterior em todas as direções, derrotando os coreanos, expandindo-se ao sul pelo norte do Vietnã e, principalmente, forçando seu domínio na Ásia Central até que houvesse prefeituras chinesas funcionando a oeste dos Pamirs. Essa expansão dos Tang pelas cidades comerciais dos Oásis da Rota da Seda abriu caminho para um maior contato com a Ásia Ocidental. A capital dos Tang em Chang'an tornou-se uma grande metrópole internacional, um marco do mundo eurasiano. Entre 600 e 900, nenhuma capital ocidental ganhava dela em tamanho e esplendor.
A destreza militar dos Tang equiparava-se às conquistas nas belas-artes e na literatura. A poesia Tang tornou-se modelo para períodos posteriores o vigor criativo dos Tang permitiu-lhes ser uma sociedade mais aberta, aceitando estrangeiros do Japão, Coreia e Vietnã em sua vida urbana, bem como da Pérsia e da Ásia Ocidental. O budismo tinha acrescentado uma outra dimensão à herança Tang dos Han. Os estados mais recentes que emergiram na Ásia Central baseavam suas instituições nos Tang.


Fonte: China – Uma Nova História, páginas 85, 86 e 87.

A reunificação na era budista

À medida que a unidade da China sobre os Han se desintegrava, a fé budista, que tinha sido importada da Índia na metade do século I d.C., foi ganhando adeptos, enquanto o confucionismo estatal entrava em declínio. O barbarismo e a religião seguiram-se ao colapso do Império Han, como aconteceu ao Império Romano. Mas os resultados na China foram diferentes dos da Europa.
O mecanismo básico do declínio da dinastia Han foi o de sempre: o surgimento de poderes locais ou regionais que eclipsaram os da dinastia central. A fraqueza do centro adveio de diversas causas: a sucessão de Imperadores Han incompetentes, sua dominação pela família da imperatriz, a usurpação de poder por eunucos e muitas outras rivalidades entre facções na corte. O favoritismo e a corrupção resultaram na nomeação de pessoal inadequado, exploração do povo, desconsideração dos interesses das famílias de comerciantes e magnatas e um enfraquecimento da capacidade militar da dinastia.
Essas fraquezas internas interagiram com o crescimento do poder local e regional nas mãos das famílias aristocráticas donas de latifúndios e cidades muradas, bem como das indústrias dentro delas.
O desastre definitivo foi em 220, com uma revolta de famílias aristocráticas ex-nômades do Norte da China e seus servos, que tinham se estabelecido dentro da Muralha, mas mantido suas habilidades e propensões bélicas.
À época dessas rebelião, estavam em marcha dois processos que acarretariam mais três séculos de desunião entre o Norte e o Sul da China – primeiro, a incursão recorrente de povos nômades ao norte da China, e segundo (em parte como consequência disso), a migração dos chineses da dinastia Han para áreas mais amenas e férteis do vale Yangzi, mas para o sul. Isso foi a base para um duplo do desenvolvimento de pequenas dinastias regionais ao norte e ao sul. Após a era conhecida como a dos Três Reinos, de 220 a 265 d.C., e uma reunificação temporária do país entre 280 e 304, seguiu-se, nos séculos de 317 a 589, uma sucessão conhecida como as Ses Dinastias no Sul da China ao longo e abaixo do Yangzi e, no Norte da China, basicamente uma arena de disputa entre todos os Dezesseis Reinos.
Os principais invasores ao norte já não eram Xiongnu turcos, cuja confederação se tinha rompido, mas um povo nômade protomongol conhecido como os Xianbei, que organizava estados em Gansu, ao oeste, e Hebei e Shandong ao leste. Em vez de barbarizarem a cultura chinesa local, esses invasores menos civilizados logo se entrosaram com as características chinesas, casaram-se com gente do povo Han da região e constituíram cortes ao estilo chinês. Os mais proeminentes eram os turcos de Toba, que constituiram sua dinastia ao norte de Wei do Norte (386-535), primeiro em Datong, no norte de Shanxi, e depois (quando tinham conquistado e reunificado o Norte da China) em sua segunda capital, Luoyang, logo ao sul do rio Amarelo, que fora a capital dos Han posteriores. Outras das grandes conquistas dos Wei no Norte era sua devoção ao budismo e os grandes entalhes em pedra que fizeram próximo às suas duas capitais.
O budismo espalhou-se rapidamente não só no Norte como também entre as Seis Dinastias do Sul. Na época áurea do budismo na China, do século V ao IX, o confucionismo foi eclipsado, e os ensinamentos budistas, assim como a arte budista, tiveram um efeito profundo na cultura chinesa, tanto ao norte como ao sul.


Fonte: China – Uma Nova História, página 83.



A pátria em perigo

 A Assembleia Legislativa da França – eleita após a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte – organizou a defesa, apelando para a mobilização das forças populares. Por todo o país ecoou o grito La patrie em danger!, “a Pátria em Perigo!” A proclamação encaminhada por Brissot dizia: “Tropas numerosas avançam as nossas fronteiras. Todos os que têm horror à liberdade se armam contra a nossa Constituição. Cidadão! A pátria está em perigo.”
Milhares de voluntários se apresentaram para formar os regimentos patrióticos. Era o levé em masse, o levante em massa, que segundo consta teria engajado 500 mil homens para irem acudir as fronteiras ameaçadas. Esse acontecimento foi o primeiro evento da guerra moderna, da guerra total, no qual a população inteira é envolvida no conflito. O povo da França havia declarado guerra aos reis da Europa, aos reis do mundo. Mal sabiam que erguiam-se em armas para uma campanha que iria se estender por mais de vinte anos e que só esmoreceria em Waterloo, quando da derrota de Napoleão em 1815.

O hino da revolução

Ainda em julho, chegou à Paris um importante reforço, o batalhão federal de Marselha, cujo hino – o Canto de Guerra para o Exército do Reno – composto por um oficial engenheiro de nome Rouget de Lisle, tornou-se a famosa Marselhesa, o Te Deum da Revolução de 1789. Entrementes, o rei Luís XVI foi acusado de conspiração. A ira do povo aumentava. Estava clara a associação dos exércitos invasores com a posição do rei. Se eles vencessem, se a contrarrevolução conseguisse tomar Paris, a repressão sobre as massas seguramente seria exemplar.

A Convenção Nacional

A dez de agosto, uma multidão invadiu o Palácio das Tulherias, obrigando a família real a refugiar-se na Assembleia Legislativa, que ocupava o pavilhão central das Tulherias. Houve combates. A guarda suíça, defensora do palácio real, lutou para defendê-lo até ser aniquilada pela multidão insurgente. No mesmo dia, os deputados suspenderam o rei e decidiram, inspirados nos revolucionários americanos, eleger uma Convenção Nacional com amplos poderes. Era o fim da monarquia. Não demorou para que entre os próprios revolucionários duas tendências se afirmassem, a dos jacobinos e a dos girondinos. Se na época da Assembleia Nacional as expressões gauche - “esquerda” - é aplicada aos pró-republicanos e aos democratas radicais, e droite - “direita” - aos defensores da monarquia, na Convenção Nacional elas servem para designar os jacobinos e os girondinos.

Jacobinos e girondinos

Os jacobinos tinham esse nome derivado do seu local de encontro, o Convento de S. Jacques, em Paris. Com o tempo, o clube dos jacobinos tornou-se uma poderosa facção revolucionária, compostas pelos democratas mais ardentes e pelos revolucionários mais radicais, que terminaram de formar dentro do eclético corpo do jacobinismo militante, outras tendências, como a dos Cordelliers e a dos Feuillants. Politicamente eles representavam a massa dos sans-culottes, os setores mais pobres da sociedade francesa, os trabalhadores jornaleiros e parte considerável da classe média dos jornalistas, dos advogados e pequenos profissionais que, com o rugir da revolta, assumiram as posições mais extremadas. Inicialmente os jacobinos aceitaram a monarquia constitucional, mas depois, especialmente depois da fuga do rei, foram os mais ardorosos defensores de uma república revolucionária. Os seus líderes mais representativos foram Maximilien Robespierre, um parlamentar vindo de Arras; Georges Danton, o maior tribuno da revolução depois de Mirabeau; Louis Saint-Just, um jovem orador que encarnou os extremismos dos jacobinos; e Georges Couthon.
Os girondinos, por sua vez, eram os deputados de um departamento do interior da França, a Gironda, área próspera da costa atlântica, tendendo a representar os interesses comerciais e a visão do mundo da burguesia ilustrada, que oscilava entre a monarquia constitucional e a república. A posição deles a favor da conciliação com a monarquia levou à perdição quando a França foi invadida e encontraram-se os documentos comprometedores da ação do rei. Os mais representativos deles eram o deputado Brissot e o Ministro Roland, em cuja casa, o salão da mme. Roland, reunia-se à elite revolucionária dos girondinos.

Fonte: História por Voltaire Schilling


Doentes têm direitos que desconhecem, diz especialista

Pessoas com câncer têm direitos que muitas vezes desconhecem, disse à Agência Brasil, no Rio de Janeiro, a advogada Danielle Bitetti. Especializada em direitos do consumidor e na área da saúde, ela observa que os pacientes têm direito, por exemplo, a medicamentos de alto custo que podem ser utilizados no tratamento da doença. O acesso muitas vezes é negado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por planos de saúde.
Em muitos casos, beneficiários de assistência médica privada encontram dificuldade de acesso aos medicamentos importados ou de uso oral ou domiciliar. “Nas duas situações, as condutas dos planos e também do Sistema Único de Saúde são consideradas abusivas e podem ser contestadas na Justiça”, afirma Danielle.
Ela explica que as pessoas podem buscar a Justiça porque têm direito ao tratamento solicitado pelo médico, e não ao que o plano de saúde ou o sistema público escolherem.
Essa conduta é considerada abusiva pelos órgãos de defesa do consumidor, opina a advogada. Ela lembra que o paciente com câncer tem prioridade também no rápido atendimento na Justiça.

Importância política do general Leônidas é lembrada durante velório do militar

O desempenho político do general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército durante o governo de José Sarney, foi defendido e elogiado hoje (6) durante seu velório no Palácio Duque de Caxias, centro do Rio de Janeiro. O general morreu na quinta-feira (4) aos 94 anos de idade.
Em um breve discurso, o filho Miguel Pires Gonçalves disse acreditar que o tempo irá corrigir as injustiças cometidas contra seu pai. O general é citado no relatório da Comissão Nacional da Verdade como um dos 377 agentes do Estado responsáveis, direta ou indiretamente, pela prática de tortura e assassinatos durante o regime militar. “Lastimamos certas imposturas políticas e ideológicas que tentam transformar fatos inverídicos em verdades históricas. Com isso, caluniando pessoas e mistificando episódios”, declarou.
Presente no velório, o ex-presidente José Sarney exaltou as virtudes profissionais e morais do seu então ministro do Exército que, segundo ele, foi o último dos grandes generais brasileiros que tomaram parte dos acontecimentos históricos do Brasil dos últimos 50 anos.
“Ele teve uma função importantíssima na transição democrática. Não apenas no processo de transição, mas, antes mesmo, o general Leônidas articulou com a Marinha e a Aeronáutica um grupo de sustentação que pudesse assegurar a transição democrática sem nenhum trauma”, declarou Sarney.
O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, General De Nardi, participou da solenidade, representando o ministro da Defesa, Jaques Wagner. “Hoje é um dia de tristeza e consternação para todos nós das Forças Armadas. Ele manteve a dignidade das Forças Armadas e por isso ele é considerado um dos generais mais importantes do Exército Brasileiro e das Forças Armadas”, comentou ele.
Leônidas foi chefe do Estado-Maior do 1º Exército, no Rio de Janeiro, e comandante Militar da Amazônia de 1974 a 1977. Em 1983, assumiu o Comando do 3º Exército, em Porto Alegre. Em 1985, foi convidado por Tancredo Neves para assumir o Ministério do Exército. Com a morte de Tancredo, o general integrou o governo do presidente José Sarney.

A palavra é polímata


  1. Do grego “polymathés”, aquele que aprendeu muito.
  2. Pessoa cujo conhecimento não está restrito a uma única área.
  3. Um dos polímatas mais conhecidos do mundo foi Leonardo Da Vinci. Entre os brasileiros costumam ser citados Ruy Barbosa e Gilberto Freyre.

“Quando você vai construir uma casa, confia todo o trabalho a um encanador? Obviamente não. E se quisesse curar um câncer? Usaria o mesmo critério para cobrir todos os aspectos envolvidos? Não até agora. Nos últimos 50 anos, a luta contra o câncer tem sido encarada como oramo de uma única ciência – a biologia e outras áreas da saúde. Isso em parte porque havia muito a se aprender a respeito do câncer e de como ele funciona. Mas as coisas estão mudando. Para construir o ambiente mais favorável à cura do câncer, é preciso assumir uma abordagem que inclua um espectro mais amplo de especialistas – uma perspectiva multidisciplinar. Em outras palavras, pesquisas do câncer precisam incluir não apenas profissionais da área médica, mas físicos, matemáticos, químicos, engenheiros. “Encontrar pessoas que genuinamente consigam trabalhar em várias áreas ao mesmo tempo é complicado: é difícil ser polímata”, afirma Sir Paul Nurse, vencedor do Nobel com pesquisas sobre câncer.”

Cancer Reasearch UK, 27/3/2015


Fonte: ZH Poa, página 3 de 3 de maio de 2015.

A morte sobre rodas, por Gilberto Jasper*

 Li esta semana que 2.023 pessoas morreram no trânsito do Rio Grande do Sul ao longo de 2014. O dado foi divulgado durante o Fórum Gaúcho Maio Amarelo, promovido pelo Instituto Zero Acidente. O dado numérico assim, solto e fora de contexto, não chama muito a atenção. Mas basta fechar os olhos para refletir sobre esta cifra mortal e dos impactos social e humano.
O volume de barbaridades verificadas no trânsito consagrou uma certeza: sair e voltar para casa ao volante é uma proeza cercada de riscos cada vez maiores. O nível de estresse nas ruas, avenidas e rodovias do Brasil é agravante que amplia os perigos. Não raro, pequenos delitos de trânsito evoluem para crimes contra a vida a partir de brigas, discussões, xingamentos e manobras para “vingar” provocações entre motoristas.
Afirmar que o currículo de nossas escolas está defasado, distante da realidade é pecar na redundância. Existem inúmeros conteúdos que deveriam ser tratados com profundidade pela importância para a formação dos jovens. Esses ensinamentos, talvez, significassem economia de bilhões e redução de milhares de mortes a cada ano.
É comum ouvir-se que a parte mais sensível do corpo humano – tratando de punições – é o bolso. Este raciocínio, quase mágico, leva a pensar que a aplicação de pesadas multas pecuniárias resolveria parte dos problemas. Infelizmente o dia a dia demonstra que não é bem assim. Recente majoração das penalidades não diminui as mórbidas estatísticas.
Diariamente somos sacudidos por notícias em que o álcool, associado à imprudência, causa acidentes que beiram a barbárie, ceifando a vida de famílias inteiras. Há poucos dias, uma colisão na Região Metropolitana envolveu bebida, drogas, excesso de passageiros e alta velocidade que, é claro, culminou com o aumento das estatísticas fatais.
A vida moderna, que pulsa sob o signo da ostentação e do consumismo, empurra os jovens em busca de aventuras sem retorno. O estímulo às “proezas” com carros e motos encontra terreno fértil nas redes sociais. Ali se multiplicam loucuras compartilhadas aos milhares, onde o nível de insanidade é proporcional ao número de “curtidas”.
Longe dos bancos escolares, noções de convivência em sociedade se perdem com a chegada da maturidade. O resultado são números idênticos a perdas humanas de guerras, cataclismos da natureza e outros fenômenos. Enquanto isso, pais e mães choram a perda de seus filhos.

*Servidor público


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 15 de maio de 2015.