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terça-feira, 9 de maio de 2023

Dólar sobe 1,37% e fecha acima de R$ 5,00

 Moeda norte-americana reagiu a indicação do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretora de Política Monetária do Banco Central


dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira em alta de 1,37%, cotado a R$ 5,0115, alinhado ao sinal positivo da moeda norte-americana frente a divisas fortes e emergentes pares do real, como peso mexicano e chileno. Operadores notaram também um movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas, sobretudo em razão de temores de ingerência do governo na condução da política monetária, após a confirmação da indicação do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a diretora de Política Monetária do Banco Central.

Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 5,00 no fim da manhã, enquanto investidores digeriam a confirmação de Galípolo no BC, algo que vinha sendo ventilado desde o fim da semana passada, como mostrou o Broadcast. Já pressionado pelo quadro doméstico, o dólar renovou máxima a R$ 5,0175 ao longo da tarde, acompanhando o comportamento do índice DXY - termômetro do desempenho da moeda americana frente a seis divisas fortes. Moedas de países exportadores de commodities desenvolvidos se valorizaram, em dia de avanço do petróleo e do minério de ferro.

"Percebi uma alta maior do dólar após a notícia da indicação do Galípolo para o BC. Mercado retomou uma postura mais defensiva com medo de que o governo possa tentar interferir na condução da política monetária", afirma o analista de câmbio Elson Gusmão, da corretora Ourominas, ressaltando que, apesar do avanço hoje, a taxa de câmbio parece ter se acomodado em níveis mais baixos nas últimas semanas, ao redor de R$ 5,00. "Vamos ver como vai vir a ata do Copom amanhã e o CPI (índice de preços ao consumidor) americano, na quarta-feira".

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a primeira vez que ouviu a sugestão de Galípolo para uma diretoria do BC foi do próprio presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. A indicação seria uma forma de "entrosar as equipes do BC e Fazenda". Para a outra diretoria vaga do BC, a de Fiscalização, a escolha do governo foi Ailton Aquino, atual chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira.

Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que Galípolo não deve sofrer resistência dos técnicos do BC. Segundo relatos, o secretário-executivo da Fazenda é o melhor entre os nomes que circularam, tem experiência no mercado financeiro (foi presidente do Banco Fator entre 2017 e 2021) e já mantém uma boa interlocução com a autarquia. Um servidor ponderou, contudo, que se a intenção do governo Lula for colocar um "soldado" dentro do BC a favor de uma política monetária mais frouxa, pode se frustrar. Ir contra a área técnica, que dificilmente seria favorável a um "cavalo de pau" na política monetária, geraria um constrangimento para Galípolo.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, observa que o dólar subiu e voltou a superar R$ 5,00 hoje, apagando as perdas da semana passada, apesar da alta do Ibovespa e da valorização das commodities, diante da perspectiva de que a economia dos EUA não vai enfrentar uma desaceleração severa. "Quando olhamos para moeda, não vemos esse apetite por risco. Tem uma devolução da alta recente do real por conta de certa cautela com a tramitação do arcabouço fiscal e as nomeações para o BC. A leitura dos investidores é que o governo quer uma composição do BC nos próximos dois anos um pouco mais à esquerda", diz Abdelmalack.

Juros

A curva de juros futuros ganhou inclinação nesta segunda-feira, 8, reflexo do aumento da percepção de risco do mercado após a confirmação de que o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, será indicado diretor de Política Monetária do Banco Central. Em meio a altas do dólar e dos rendimentos dos Treasuries, a informação levou a um aumento dos prêmios de risco nos contratos de DI, especialmente os mais longos.

Na comparação com o ajuste da última sexta-feira, 5, a taxa do contrato para janeiro de 2029 avançou 14,1 pontos-base, de 11,849% para 1,990%. O movimento se repetiu, em menor escala, nos contratos com vencimento para janeiro de 2024 (13,196% para 13,220%) e 2027 (11,472% para 11,575%). O contrato para janeiro de 2025 teve leve queda, de 1,5 ponto-base, de 11,705% para 11,690%.

A confirmação do nome de Galípolo no início da tarde chegou a sustentar uma queda pontual das taxas para 2024 a 2026, devido à avaliação de que o economista poderia servir como contraponto dovish no Comitê de Política Monetária (Copom), em linha com a pressão do governo pela diminuição da taxa Selic. Mas, ao longo da sessão, as preocupações em torno de ruídos na comunicação do BC levaram à reversão parcial do movimento.

Em entrevista ao Broadcast, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman alertou que a indicação do economista seria lida como um sinal de que a autoridade monetária poderá se tornar "muito mais leniente" com a inflação nos próximos anos. Isso porque Galípolo é visto como favorito para a sucessão do atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, após o fim do seu mandato, em dezembro do ano que vem.

Também por isso, o Goldman Sachs alertou que a nomeação do secretário-executivo da Fazenda pode aumentar os ruídos na comunicação do BC e gerar atritos na autarquia. Em relatório, o diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco para América Latina, Alberto Ramos, notou que a participação de Galípolo no Copom pode levar a decisões divididas de política monetária e a visões opostas sobre o nível correto dos juros.

"A ideia de indicar um sujeito que tem a perspectiva de se tornar o presidente do BC lá na frente de alguma maneira constrange o mandato da diretoria atual e, ao mesmo tempo, sinaliza que pode haver uma politização do BC mais à frente, e a curva refletiu isso", resume o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Lemos Rosal, lembrando o papel de Galípolo como braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Para alguns profissionais, a indicação do economista ao BC serviu como gatilho para disparar as preocupações acumuladas com uma série de ruídos políticos na última semana, marcada por uma queda das taxas longas. Sobre o mercado, ainda pairam incertezas em torno do desenho final do novo arcabouço fiscal e da capacidade de articulação do governo, após a derrubada dos decretos do saneamento pela Câmara na última quarta-feira, 3.

"O dólar subindo e os Treasuries subindo ajudam a referendar esse movimento de abertura da curva hoje, depois do fechamento da semana passada", diz o operador de renda fixa da Nova Futura Investimentos André Alírio. "Esse movimento de maior preocupação lá fora, numa linha de que talvez não tenha tanto espaço para alívio, talvez tenha puxado mais do que nossas discussões políticas."

Agência Estado e Correio do Povo

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