Uma tecnologia originalmente desenvolvida para missões em Marte hoje desempenha um papel crucial na preservação da água no Rio Grande do Sul. Desde 2024, a Corsan Aegea utiliza um sistema de monitoramento por satélite capaz de mapear redes de abastecimento e identificar vazamentos a até três metros de profundidade, inclusive em estágio inicial. Em pouco mais de um ano, a ferramenta aumentou significativamente a eficiência na detecção de falhas e evitou o desperdício de bilhões de litros de água tratada, tornando-se um marco no saneamento gaúcho.
Segundo o gerente executivo de engenharia da Aegea, Giulio Capestrani, o sistema — inicialmente implantado na Região Metropolitana de Porto Alegre — trouxe ganhos imediatos.
“O satélite agiliza em 85% o processo de identificação e alcança mais de 90% de precisão”, afirma.
Após o satélite apontar os pontos suspeitos, equipes de campo utilizam geofones, que captam vibrações no solo, para confirmar a origem do vazamento. O resultado é um reparo mais rápido, com menos quebra de pavimentos e menor impacto para a população.
Menos escavações, mais eficiência
A precisão do sistema reduz a necessidade de abrir grandes áreas de pavimento, gerando economia para os municípios e diminuindo transtornos no trânsito. O comerciante Antenor Rodrigues, de Alvorada, lembra como era antes da adoção da tecnologia:
“Cavavam e não achavam o cano, e o buraco ia aumentando”, relata. “Fiquei dois dias com a garagem bloqueada e mais uma semana esperando o asfalto ser refeito.”
Desde o primeiro semestre de 2024, o satélite já analisou 5,3 mil quilômetros de redes da Corsan, identificando indícios de vazamento em 1.058 pontos, dos quais 984 foram confirmados — um índice de acerto de 93%.
“O que faço em um mês com o satélite levaria um ano com métodos convencionais”, compara Capestrani.
Atualmente, a operação cobre Viamão, Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Canoas, com expansão prevista para Passo Fundo, seguida por Bento Gonçalves e região. O investimento inicial no Estado foi de R$ 900 mil.
A tecnologia, usada pela Aegea desde 2017 em outras regiões, combina softwares e radares capazes de detectar cloro no subsolo — diferenciando água tratada de fontes naturais. Isso permite localizar vazamentos com rapidez e precisão.
“O tempo de água vazando e de via interrompida é 80% menor”, destaca o gestor.
Em 2024, a Aegea monitorou 21 mil quilômetros de redes no país, identificando 4.389 falhas e poupando cerca de 8,6 bilhões de litros de água tratada.
Avanços após a concessão da Corsan
O monitoramento por satélite integra um conjunto de investimentos realizados desde que a Corsan foi concedida ao grupo Aegea. Em dois anos, os aportes somam R$ 3,85 bilhões, permitindo acelerar obras e modernizar sistemas de água e esgoto.
Entre os resultados:
180 mil novas ligações de água, beneficiando 540 mil pessoas
Cobertura de abastecimento chega a 99,26% nas 317 cidades atendidas
Capacidade de vazão aumentou 30%, passando de 19,1 mil para 25 mil litros por segundo
Programa de tarifa social ampliado de 45 mil para 673 mil famílias
O Centro de Operações Integradas (COI), que recebeu R$ 60 milhões, passou a monitorar em tempo real pressão, vazão e qualidade da água, reduzindo o tempo de resposta a falhas.
No esgotamento sanitário, 284 mil imóveis foram conectados à rede desde 2023, beneficiando 852 mil pessoas. O volume de efluentes tratados equivale a 18,6 mil piscinas olímpicas por ano, elevando a cobertura de esgoto para 28%, um avanço de 40%.
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