Guerras na Ásia

 por Jurandir Soares


Uma guerra está acontecendo na Ásia e outra está sob ameaça de acontecer. A primeira, entre Tailândia e Camboja, não tem maiores consequências, a não ser no âmbito regional. A outra, entre Japão e China, se eclodir, terá consequências globais.


Tailândia e Camboja têm um problema de fronteira que remonta ao tempo da colonização francesa, quando foi estabelecida a linha demarcatória entre os dois países. Coincidiu que ela cruza uma região com templos históricos, de alto valor religioso para países em que o budismo e o hinduísmo são muito fortes. Situa-se na área, por exemplo, o templo hindu de Preah Vihear.


CONFRONTOS


Os confrontos entre tailandeses e cambojanos vêm de longa data, sendo que os mais recentes ocorreram em 2010 e em julho último. Após uma série de incidentes diplomáticos e políticos, a crise eclodiu num confronto armado em 24 de julho. Os países concordaram posteriormente com um cessar-fogo incondicional em 28 de julho. Na semana passada, o exército da Tailândia rompeu o cessar-fogo e voltou a atacar o Camboja, levando ambas as nações a mobilizarem tropas novamente. O fato é que já se tem mais de 10 mortos e ao menos 150 mil pessoas deslocadas de seus domicílios.


PERIGO


Embora sem perspectiva de solução, é um conflito restrito, sem maiores consequências externas. Diferentemente do que pode acontecer se Japão e China forem às vias de fato. Estes dois países têm um histórico de confrontação e de ocupação que deixou um rastro de ódio. Assim, qualquer divergência deixa os ânimos acirrados.


A culpa pela presente crise é atribuída à primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi. Ela afirmou, semana passada, que um ataque chinês contra Taiwan poderia representar uma “situação que ameaça a sobrevivência” e desencadear uma possível reação militar de Tóquio.


RESPOSTA


O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lin Jian, disse em entrevista coletiva que a fala de Takaichi, classificada por ele como “provocativa”, representou uma “interferência grosseira” nos assuntos internos de Pequim e um “duro golpe” nas relações bilaterais entre as duas potências asiáticas.


Seguiram-se acusações mútuas em termos de mobilizações navais. O Japão acusou o país vizinho de apontar radares para rastrear aeronaves militares japonesas. Tóquio entende que o direcionamento pode ser interpretado como uma ameaça ou movimento de hostilidade ativo. Os japoneses não revelaram se os rivais travaram a mira em suas aeronaves nem qual foi a reação de suas próprias Forças Armadas à ação. Na versão dos chineses, os aviões do país vizinho se aproximaram rapidamente e atrapalharam um treinamento da Marinha que acontecia no local. Tal fato teria causado a reação.


FUTURO


A China comunista reivindica Taiwan, ilha separatista com governo democrático próprio, como parte de seu território e não descarta o uso da força para tomar o controle. Taiwan rejeita as reivindicações de Pequim e afirma que apenas seu povo pode decidir o futuro.


A reivindicação remonta a 1949, quando Mao Tsé-tung, à frente do Exército Vermelho, invadiu a China continental e tomou o poder. O governante destituído, Chiank Kai-shek, refugiou-se na ilha, onde estabeleceu um governo capitalista que vigora até hoje. Taiwan é atualmente uma potência tecnológica. Maior fornecedor mundial de chips, componente fundamental para computadores, celulares e outros dispositivos eletrônicos. O envolvimento da ilha em uma guerra causaria um impacto na produção mundial desses aparelhos.


Há que considerar ainda que os Estados Unidos têm um acordo de defesa com Taiwan, ficando a incógnita de qual seria a reação de Washington a uma invasão da ilha. Assim como fica a curiosidade sobre o que faria o Japão. A conclusão é de que um conflito nessa região tem implicações muitíssimo maiores do que as envolvendo Tailândia e Camboja, pois são múltiplos os atores envolvidos.

Correio do Povo

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