segunda-feira, 5 de maio de 2025

Símbolo da resistência, Caramelo agora tem vida de ‘rei’

 Após permanecer por dias em cima de um telhado em Canoas, durante a enchente de 2024, cavalo foi resgatado e teve sua vida transformada

Caramelo tornou-se símbolo de resistência após sobreviver dias em cima de um telhado, em Canoas | Foto: Pedro Piegas


Símbolo de resistência e resiliência durante o maior desastre climático no Rio Grande do Sul, o cavalo Caramelo viu sua vida mudar drasticamente neste um ano. Ele ficou por dias ilhado em cima de um telhado de zinco no bairro Mathias Velho, em Canoas, e foi resgatado em um bote na manhã do dia 9 de maio por homens do Exército e Corpo de Bombeiros.

Foram necessários nove profissionais em duas embarcações, que precisaram cruzar 4,5km de área completamente alagada pela enchente para chegar a um local seco onde o animal foi levado de caminhão para o campus da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).

A imagem da luta do animal diante à adversidade comoveu o mundo, fazendo com que ele torna-se um símbolo de força. O resgate, por exemplo, foi transmitido em tempo real.

Relembre como foi resgate

Uma vida de rei

Hoje, com 100 quilos a mais do dia em que chegou ao campus na universidade, o equino de raça indefinida está com 380 quilos e com seus 8 anos, vive uma “vida rei” na fazenda-escola do Hospital Universitário, ao lado de outros animais de grande porte.

Segundo o médico veterinário e professor da Ulbra, Henrique Cardoso, assim que chegou recebeu os primeiros cuidados médicos. “Ele apresentava desidratação, uma exaustão física e lesões na pele, além desnutrição e sinais de maus-tratos, mas nada grave. Fez exames de sangue, uma série de vacinas, oferecemos melhores condições nutricionais, de manejo, com suplementação e, logo em seguida, em menos de um mês, ele já estava completamente recuperado e teve alta médica. Desde então ele está na Ulbra, sob os nossos cuidados.”

Caramelo também recebeu cuidados odontológicos e a implantação de um microchip para identificação, garantindo a sua identidade e facilitando o controle e monitoramento de sua saúde. “Além de alfafa, ele consome uma ração de alta tecnologia, enriquecida com nutrientes específicos para equino, além de suplemento mineral.”

Diariamente é submetido a um programa de atividades físicas regulares. Todos os dias, pela manhã, é retirado da baia pelo cuidador Roque Hennicka, que trabalha há 22 anos no local. Caramelo, considerado dócil, porém, às vezes, temperamental e agitado, é escovado e colocado em piquete aberto para caminhar e se exercitar.

“Não utilizamos ele em aulas, nem para montaria. Ele basicamente come, dorme e faz seus passeios. Como ele é um cavalo inteiro, não permitimos que tenha contato próximo com outros cavalos, porque isso pode gerar risco de uma briga”, pondera o veterinário.

Após sete meses de guarda temporária, em dezembro do ano passado, a Ulbra oficializou a transferência do animal por meio de um termo de adoção responsável, assinado entre Secretaria do Bem-Estar Animal de Canoas e Aelbra (mantenedora da Ulbra). A universidade projeta a construção de um santuário para que ele possa desfrutar de sua aposentadoria e está em busca de parceiros para que a obra seja concretizada. Segundo a Ulbra, o projeto foi orçado inicialmente em R$ 100 mil.

Cavalo Caramelo 1 ano após a enchente Pedro Piegas

Comoção e visibilidade internacional

  • Caramelo recebeu o título de campeão na categoria Bicho do Ano, do Prêmio F5. A eleição foi por meio de voto popular.
  • O gesto de bravura atraiu a atenção da produção da série norte-americana Yellowstone, da Paramount. Caramelo foi convidado para fazer a divulgação da sexta temporada da produção estrangeira. As gravações ocorreram em dezembro de 2024, no Centro de Treinamento Haras Virgínia, em Portão. A campanha apresentou o Caramellow Stone (nome artístico do animal para o trabalho) como fã número 1 da série no Brasil.
  • Sobre a popularidade do Caramelo, o médico veterinário Henrique Cardoso diz que isso mostra o impacto da enchente. “O cavalo é um símbolo deste momento que a gente viveu. Eu vejo de maneira mais ampla, não apenas como um cavalo. É algo muito maior. Ele representa a grandiosidade de toda uma situação vivida aqui no Estado por todos nós.”
  • O vereador Cris Moraes, que participou ao lado de militares e bombeiros naquela manhã de 9 de maio, durante a operação de resgate do cavalo ilhado, também ressalta a simbologia do animal. “Naquele momento, salvar o Caramelo foi salvar um pedaço da humanidade, um pedaço da própria história. Era afirmar que, mesmo diante de tanta tragédia, nós não seríamos indiferentes. O olhar do Caramelo refletia a resistência, a coragem e a solidariedade do povo gaúcho que, mesmo caído, nunca se entregou.”

Correio do Povo

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