Manifestações aconteceram na avenida Irineu de Carvalho Braga, no bairro Fátima, e no Parque Eduardo Gomes
Moradores de Canoas realizaram neste final de semana protestos simultâneos em prol de uma mesma causa: adoção de medidas efetivas de prevenção contra novas tragédias socioambientais, implantação de um sistema eficaz de contenção contra as cheias, reconstrução da infraestrutura e de novas habitações para aqueles que perderam suas casas durante o maior evento climático do Rio Grande do Sul, que completa um ano nesta semana. Os atingidos também reivindicam pela liberação de recursos para que sejam investidos em obras desta natureza.
Uma das manifestações se concentrou no Parque Eduardo Gomes, reunindo centenas de famílias de ao menos seis bairros de Canoas. O ato foi marcado pela distribuição de mudas de árvores frutíferas, como sinal de esperança e renovação. Também foi feita a leitura de uma carta com as principais reivindicações dos atingidos, documento que será entregue a representantes dos governos municipal, estadual e federal. A manifestação contou com a participação de lideranças comunitárias dos bairros São Luís, Mathias Velho, Harmonia, Mato Grande, Fátima e Rio Branco.
A ideia era dar visibilidade às angústias e às demandas da população, que até hoje luta por medidas efetivas de prevenção contra novas tragédias socioambientais, como a reconstrução dos diques de proteção. Conforme uma das integrantes da comissão de moradores, também atingida pelas cheias, Roseli Dias, a escolha do Parque foi simbólica. "Porque foi o local em que a Prefeitura depositou os destroços e os restos de móveis e utensílios retirados das casas atingidas pelas inundações. Foi onde depositaram nossas lembranças e memórias. Parte da nossa história, pedaços de nós." oje, um ano após a tragédia, Roseli conta que ainda existe muita dificuldade em levar uma vida normal.
"Seguimos amedrontados, desamparados e com pouquíssimas respostas. A cada chuva, as águas não escoam, as ruas ficam alagadas, ficamos apreensivos, amedrontados e as crianças ficam inquietas. Estamos aterrorizados. Queremos urgência na reconstrução dos diques e modernização das casas de bombas." Segundo ela, a comunidade clama por ações, pois a população não visualiza movimentos consistentes do poder público. "A vida das pessoas que está em jogo. O governo precisa olhar com seriedade para o povo."
Outro movimento aconteceu na avenida Irineu de Carvalho Braga, no bairro Fátima, e cobrou do governo do estado a liberação dos recursos para Canoas a fim de dar seguimento às obras de reconstrução dos diques, do sistema de contenção contra as cheias, manutenção e melhorias das casas de bombas, ações de hidrojateamento, micro e macrodrenagem pluvial e das moradias. A servidora pública aposentada e integrante da comissão de moradores do bairro, Cláudia Burnet, diz que o governo do estado precisa se sensibilizar com a atual situação.
"Sabemos que há projetos prontos e licitados. Falta apenas a liberação dos recursos. Nosso protesto também é em agradecimento à vida, mas cobramos pela reconstrução. Muitas famílias ainda não conseguiram retornar para suas casas um ano após as enchentes de 2024. Precisamos que o governo do estado olhe para a gente e libere este recurso com urgência."
CANOAS CONFIRMA 204 PESSOAS ABRIGADAS NO CENTRO HUMANITÁRIO
A prefeitura de Canoas informou que ações de hidrojateamento, em parceria com a Corsan, são realizadas para desentupir os esgotos que foram obstruídos por detritos durante a enchente. É feito um cronograma das regiões que ainda continuam com histórico de alagamentos quando chove. A nova licitação para o serviço está em andamento.
Sobre os diques, todos eles estão passando por reformas ou remodelações. O Dique Mathias Velho foi concluído a etapa de fechamento definitiva. O Dique Rio Branco atualmente está em fase de execução de projetos. O Dique Niterói está sendo realizado o aterro que servirá de base para a pavimentação da rua que passa por cima do dique e que acaba por elevar a estrutura. O Muro da Cassol teve a obra foi reiniciada no dia 17 de março. O Dique Mato Grande está passando por serviços de escavação, aplicação de manta geotêxtil e aterro com argila e o Dique São Luis, o cenário é de atualização dos estudos hidrológicos.
As casas de bombas têm um contrato de operação que inclui a manutenção, já concluída. Recentemente foi também terminada a subestação de energia das casas de bombas que elimina o uso do gerador, que fica somente como backup e utilizando a rede da concessionária para fornecimento. Para a modernização, uma licitação foi finalizada e aguarda a questão financeira para poder dar início às obras de fato. Recursos esses que vêm do Estado e da União.
Com relação às moradias não há burocracia no processo de moradias aos afetados da enchente. As construções precisam de um prazo para suas conclusões. Atualmente há 204 pessoas desabrigadas, acolhidas no Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) Recomeço, único abrigo em funcionamento de Canoas que deverá desocupado até final de maio.
Para essas famílias, há um convenio com o Governo do Estado de cooperação para a construção de 58 casas temporárias. Essas obras estão em andamento no bairro Estância Velha, com previsão de finalizar até 15 de maio. O valor para a instalação dos módulos é de R$ 133 mil por unidade, incluindo as mobílias e eletrodomésticos. São 58 módulos transportáveis e estão localizados no bairro Estância Velha.
Concomitante, já foram iniciadas as obras de dois empreendimentos de moradias definitivas, (200 em Niterói e 200 no Fátima), totalizando 400 unidades habitacionais do FAR da Caixa Econômica Federal. As obras serão finalizadas em até 18 meses.
Das 3 mil unidades habitacionais autorizadas pela Portaria n. 704 do Ministério das Cidades já foram assinados dois contratos totalizando mais de 1500 unidades para pessoas exclusivamente atingidas pela enchente, com previsão de entrega em 18 meses. Existem outros empreendimentos com projeto tramitando que totalizam mais 1500 unidades. Além disso, foram entregues 112 moradias pela Compra Assistida. O programa Aluguel Social, atualmente, contempla mais de 1.249 famílias. Dos quais, 77 contratos são de beneficiários do CHA.
Quanto aos recursos que serão destinados a Canoas, o Município ainda aguarda o repasse por parte do governo do Estado, responsável por gerenciar os valores advindos da União. Enquanto isso, há a promessa de Eduardo Leite para a inclusão, neste mês de maio, das obras dos diques da cidade no Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs).
GOVERNO DO ESTADO GARANTE DIÁLOGO COM MUNICÍPIO
A Secretaria da Reconstrução Gaúcha informa que a manutenção de diques, casas de bombas e comportas existentes competem aos municípios. Contudo, o Governo do Estado busca apoiar financeiramente projetos e obras de execução dos municípios que possuem diques e necessitem dessa ajuda para concluir os trabalhos que são de sua responsabilidade. O aporte de recursos deverá ocorrer na modalidade fundo a fundo. O estado está em diálogo com o município de Canoas e as obras e projetos estão em fase de análise técnica. Após essa etapa, deverá ocorrer a celebração do instrumento de repasse.
Correio do Povo
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