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domingo, 21 de maio de 2023

Erva-mate orgânica para paladar exigente

 Agroindústria de Ilópolis, polo ervateiro do Rio Grande do Sul, é uma entre as várias empresas gaúchas que processam produtos de origem no campo para atender a demanda de alimentos sem agrotóxicos ou outros aditivos


A quem deseja preparar um chimarrão perfeito, o produtor de erva-mate Fabrício Gomes Nunes (foto acima) ensina a receita que recomenda aos clientes em feiras: adicione duas colheres de erva no fundo da cuia, acrescente água na temperatura entre 70°C e 74°C até o pescoço do recipiente, complete com erva e coloque a bomba. Mas o detalhe que faz toda a diferença é a qualidade do ingrediente principal, especialmente se foi cultivado sem agroquímicos, garante o agricultor, que produz erva-mate orgânica na agroindústria da família, em Ilópolis. Certificados desde 2016, ele e a esposa, Fernanda, começaram processando mensalmente 500 quilos do produto, vendido sob a marca Princesa do Vale, e hoje colocam no mercado de 2 mil a 2,5 mil quilos do item. “Ver o pessoal tomando mate e elogiando tua erva não tem preço”, orgulha-se Nunes. 

Dos 11 hectares de ervais da família, dois hectares são cultivados no sistema agroecológico, mas eles já estão ampliando a área e, em busca de autossuficiência, pretendem converter toda a lavoura em orgânica dentro de oito a 10 anos. “Hoje, quando falta (matéria-prima), compro de outros produtores certificados. A demanda está aumentando, a gente quer garantir também a qualidade da erva-mate. Meu sonho é trabalhar só com o orgânico. Dá mais trabalho, só que é gratificante”, diz Nunes. Da colheita até o empacotamento, segundo o agricultor, todo o processamento da erva-mate é feito na agroindústria da propriedade rural, com exceção da etapa de secagem, realizada em uma planta terceirizada. Com preço médio de R$ 15 o quilo, a erva-mate orgânica é comercializada em lojas de alimentos saudáveis e feiras, e o produtor também atende pedidos pelo Instagram. 

 Foto: Fabrício Gomes Nunes / Arquivo Pessoal / CP.

A agroindústria de Nunes é um dos inúmeros empreendimentos do tipo criados por produtores agroecológicos no Rio Grande do Sul, que, nos últimos anos, vêm ganhando mais visibilidade em feiras do agronegócio no Rio Grande do Sul, como a Expointer, em Esteio. Por trás da maioria dessas iniciativas, estão famílias que veem no beneficiamento de itens de origem vegetal ou animal uma oportunidade de ampliar a receita das propriedades. A ordem é, no idioma dos negócios, “agregar valor” à matéria-prima do campo, oferecendo ao consumidor um item especial pelo qual ele se disponha a pagar um pouco mais.

O crescimento desses negócios, que muitas vezes nascem a partir da vocação familiar no preparo de algum tipo de alimento, acompanha a expansão do mercado ligado à agroecologia. De acordo com a Emater/RS-Ascar, o Estado tem 3.775 unidades de produção orgânica certificadas, as chamadas UPCs. Esse total, que inclui as agroindústrias ativas, só é menor do que o do Paraná, com 3.883 UPCs. “Desde que foi estabelecido o Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg), os números demonstram um aumento progressivo. Há uma demanda dos consumidores, e os produtores estão percebendo isso”, afirma o extensionista da Emater Júnior Lopes dos Santos.
É na empresa de assistência técnica que muitas das agroindústrias gaúchas buscam orientação para dar os primeiros passos. A instituição é responsável pelas ações do Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF), que começam com o cadastramento das famílias interessadas em desenvolver algum produto. “O apoio se dá por meio de orientações gerais, de elaboração de projetos técnicos sanitários e de crédito, além do acompanhamento na instalação e na legalização do empreendimento”, explica Júnior. Depois de formalizadas, as agroindústrias são incluídas no programa e podem acessar serviços como a participação em feiras e o uso do Selo Sabor Gaúcho nos rótulos das mercadorias.

Para o coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Estado (Fetraf-RS), Douglas Cenci, a industrialização tende a crescer entre os produtores agroecológicos. “Eles têm buscado inovar, fazer produtos diferentes”, afirma. Cenci destaca a diversidade de cultivos da agricultura familiar gaúcha como um dos pontos fortes do setor, o que abre perspectivas para a oferta de um grande número de itens. Ainda são poucas, porém, as agroindústrias que processam matéria-prima de origem animal. “Por exemplo, para fazer um queijo orgânico, você precisa ter leite com origem orgânica, alimentar os animais com produtos orgânicos, não é algo simples. Então, é um nicho que tem oportunidade (de crescimento)”, avalia.

Uma queixa frequente dos produtores é a burocracia envolvida no processo de certificação. Para obter o selo de orgânico, as propriedades devem passar por inspeções que comprovem que sua produção é feita sem agroquímicos e, dependendo do caminho escolhido – por auditoria, sistema participativo ou controle social –, precisam apresentar documentos diferentes. “A falta de políticas públicas para a industrialização também é uma dificuldade, e há pouco espaço para a comercialização dos orgânicos”, diz o coordenador da Fetraf-RS.

A Organis, entidade que promove os orgânicos no país, estima que o setor tenha movimentado R$ 6,9 bilhões em termos nacionais em 2022, um aumento de cerca de 6% frente ao ano anterior. Cobi Cruz, diretor da associação, projeta crescimento para o mercado de itens industrializados ou semi-industrializados nos próximos anos. “A gente percebe uma tendência por orgânicos práticos, de fácil preparo ou congelados, bem como bebidas à base de plantas (leite vegetal). Há um aumento da oferta e do consumo de chocolates orgânicos e dos vinhos. Orgânicos veganos também são uma tendência forte”, afirma Cruz. Entre os segmentos com demanda crescente no Brasil, ele destaca ainda os de grãos, como milho, soja e arroz, e de farinhas para o preparo de refeições orgânicas em casa.

Quando a união faz a força 

Agricultores do segmento agroecológico que decidem empreender na industrialização e agregar valor aos seus produtos atalham as dificuldades quando associados a cooperativas

Para muitos agricultores agroecológicos que se aventuram a empreender, o caminho rumo à industrialização é a união de forças por meio de cooperativas. Uma das iniciativas bem-sucedidas nesse modelo, a Cooperativa Vida Natural (Coopernatural), de Picada Café, na Serra Gaúcha, foi formada em 2015, por 11 produtores da região. Hoje, são cerca de 30 associados, que no ano passado atingiram uma receita de R$ 2 milhões com a venda de itens como geleias, doces em calda, bebidas, vinagres e chás processados nas cinco unidades industriais ligadas ao grupo. 

De uma delas, sai a primeira cerveja orgânica artesanal certificada do mercado brasileiro, com a marca Stein Haus. A partir de ingredientes cultivados de forma sustentável pelos agricultores serranos, a cervejaria produz mensalmente 6,6 mil litros da bebida, disponível em 21 variedades, entre as quais german pilsen, doppel weizenbier, rauchbier, white stout coffee, Italian grape ale e uma singular blonde ale sem gúten. A maior parte da produção é destinada a lojas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, explica o engenheiro agrônomo Felipe Gehrke, um dos fundadores da Coopernatural.

 Com cerca de 30 associados, como Felipe Gehrke (à esquerda) e Ricardo Édson Fritch, a cooperativa Coopernatural, de Picada Café, na Serra Gaúcha, mantém agroindústrias de conservas, doces e bebidas, entre as quais uma cervejaria que produz 21 tipos de cerveja orgânica | Foto: Felipe Gehrke / Arquivo pessoal / CP.

Com os demais itens processados pelos associados, a cooperativa atende varejistas em quase todo o país e também faz vendas online, por meio de um site próprio. “Temos em torno de 150 lojas (clientes) e é um giro rápido. Vendo hoje e daqui a três, quatro meses já estou vendendo o mesmo produto para o mesmo lojista. Isso é bom para nós e para o consumidor”, afirma Gehrke. 

O mix diversificado, destaca o produtor, é um dos pilares de sustentabilidade do empreendimento conjunto, que busca acompanhar as tendências de consumo. “Dentro de uma cooperativa, você tem de diversificar. Começamos com seis, sete geleias; hoje estamos com 59 (variedades), com açúcar e sem açúcar”, exemplifica Gehrke. Sob essa diretriz, a organização vem agregando novos sócios para reforçar as linhas da marca com itens diferenciados – o mais recente é um produtor de lavanda orgânica que está em processo de certificação. 

Uma das primeiras organizações de agricultores a apostar na industrialização de orgânicos no Rio Grande do Sul, a Cooperativa Aecia reúne 25 famílias associadas e mantém três unidades de processamento no município de Antônio Prado, onde produz sucos de frutas, molhos e extratos de tomate, doces, geleias, vinagres e cereais. Para este ano, projeta um faturamento de cerca de R$ 2 milhões com a venda de itens sob sua marca, oferecidos em feiras, casas especializadas e uma grande rede de supermercados gaúcha. 

 Cooperativa Aecia, de Ipê e Antônio Prado, na região da Serra, congrega 25 famílias de agricultores que produzem molhos de tomate, vinagres, sucos e geleias de frutas variadas, entre eles Gilmar Bellé, sócio e um dos fundadores da organização | Foto: Cooperativa Aecia / Divulgação / CP.

Sócio e um dos fundadores da cooperativa, Gilmar Bellé conta que a organização foi constituída em 1996, a partir da Associação dos Agricultores Ecologistas de Ipê e Antônio Prado (Aecia), e começou comercializando seus produtos em feiras na Capital. “A gente não conseguia vender toda a fruta in natura, surgiu a ideia de fazer o suco de uva. Aí, foi vindo uma linha de produtos”, explica. Atualmente, as três agroindústrias da Aecia processam por ano uma média de 200 toneladas de produtos. Mas esse volume já foi maior, afirma Bellé. “O poder aquisitivo das pessoas foi diminuindo. Nos últimos anos, o custo de produção aumentou muito e não conseguimos repassar (ao preço final). As pessoas acabam achando mais vantajoso vender o produto in natura”, observa o produtor.

Segundo Bellé, a crescente oferta de marcas no mercado gaúcho tornou mais difícil a obtenção de rentabilidade no segmento de suco de uva – a bebida é um dos líderes de vendas da cooperativa, que trabalha com o método de seleção manual da fruta. “Quando começamos, não tinha outras marcas, o diferencial era ser orgânico. Hoje, o que conta é o preço, porque todos têm a mesma identidade, o (mesmo) selo do orgânico. A gente não é tão competitivo quanto uma grande vinícola, que tem escala de produção, distribuição, caminhão próprio, que roda o país inteiro”, compara o produtor. Para o futuro, ele afirma que os planos dos associados incluem a ampliação da linha, com o lançamento de itens diferenciados.

Portfólio repaginado no Pós-pandemia

Com 72,3 hectares e mais de seis décadas de história, a fazenda da família Carraro, em Monte Alegre dos Campos, no nordeste do Estado, começou a transição para o sistema agroecológico nos anos 1990, produzindo hortaliças e frutas que eram vendidas em feiras e no comércio local. Certificados por meio da rede Ecovida, os agricultores deram início em 2001 ao projeto de instalação de uma agroindústria na propriedade. “Fizemos um cadastro no Programa Rio Grande Agroecológico (plano estadual de fomento), conseguimos um financiamento a juro zero na época. Foram os primeiros 60 metros quadrados da indústria”, conta o empreendedor Marcelo Silveira Carraro, que comanda o negócio ao lado dos pais, da esposa, da irmã e da cunhada.

A produção, que começou com conservas e as tradicionais chimias de frutas, foi sendo ampliada aos poucos. Hoje, a família processa em torno de 500 toneladas de matérias-primas por ano e coloca no mercado mais de 60 itens sob a marca HF Carraro, como sucos integrais, doces, geleias, farinhas, variedades de feijão e açúcar mascavo, e tem uma filial de distribuição no município de Vacaria. 

Segundo Marcelo, os contratos para suprimento de merenda à rede pública, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), foram importantes para o crescimento da empresa até a primeira metade da década passada – a lei determina que no mínimo 30% do valor repassado pelo governo federal a estados, municípios e Distrito Federal no programa seja usado na aquisição de alimentos de agricultores e empreendedores familiares rurais. Nos anos seguintes, diz o empreendedor, a empresa enfrentou dificuldades na disputa com as cooperativas de maior porte no segmento de sucos orgânicos. “Chegamos a processar 195 toneladas de uva numa safra, agora a nossa média está entre 50 e 60 toneladas”, compara Marcelo.

 Marcelo Carraro, de Monte Alegre dos Campos, sugere a criação de um “atacado de orgânicos”, com suporte governamental, para auxiliar na logística de distribuição das agroindústrias. | Foto: Fernando Santos Carraro / Divulgação / CP.

A exemplo de muitos negócios impactados pela pandemia de Covid-19, a agroindústria se reorganizou para enfrentar a nova conjuntura. Algumas das medidas adotadas foram a diversificação da produção, que passou a incluir geleias sem adição de açúcar, parcerias com representantes comerciais e varejistas para garantir a distribuição em outras regiões do país. Os produtos da marca atualmente são encontrados em 18 estados, e a agroindústria investe também na venda online. “Optamos por trabalhar mais com mercados de pequeno e médio porte e lojas de especiarias, que hoje representam por 50% do nosso faturamento. Hoje, a merenda escolar representa menos de 20% (da receita)”, explica Marcelo. 

Além de industrializar cultivos da lavoura própria, a empresa mantém parcerias com agricultores agroecológicos de regiões de microclimas diferentes, uma alternativa para garantir o abastecimento em épocas de entressafra. A época de pico de operação, segundo Marcelo, vai de dezembro até a metade de março. “Como a agroindústria é de porte pequeno, planejamos isso para otimizar ela o máximo possível durante o ano”, observa o empreendedor. 
Na opinião de Marcelo, o grande desafio das agroindústrias do segmento é popularizar o consumo de orgânicos, ainda muito restrito às classes A e B, e aproximar a oferta dos produtos da residência dos compradores. Para isso, ele defende a criação de um “atacado do orgânico”, centro de atendimento ao consumidor a partir de pontos de recepção e distribuição em cidades estratégicas. “Tendo essa logística boa, uma tecnologia de produção boa e apoio governamental, a gente consegue chegar nesses polos principais com ele (o orgânico) mais acessível”, afirma o empreendedor. 

Enquanto trabalha para expandir o negócio, a família Carraro está atenta ao potencial do turismo ecológico na região dos Campos de Cima da Serra. Atualmente, está construindo um ecohostel para receber visitantes em sua propriedade, diz Marcelo. 

Iogurte, queijos e doce de leite em produção certificada

Administrado pela família de Denise Barbaro da Rosa, o Sítio Amigos da Terra fica no bairro Lomba Grande, na zona rural de Novo Hamburgo. Produtores agroecológicos, eles faziam parte da Cooperativa Sítio Pé na Terra e, com a extinção da associação, adquiriram em 2016 a propriedade de 4 hectares, onde instalaram um laticínio para dar continuidade à produção de um iogurte natural desnatado orgânico. Com a boa demanda pelo item, passaram a elaborar também doce de leite e queijo orgânicos.
Segundo Denise, a pequena indústria produz mensalmente em torno de mil unidades do iogurte, apresentado em embalagens de 800 gramas e, nas versões com sabor, em garrafinhas de 200 gramas. A oferta dos outros itens, porém, ainda é sazonal. Para centralizar a produção do leite, até o momento adquirido de um pecuarista parceiro, a família está construindo um tambo no sítio, com a meta inicial de manter em torno de seis vacas em lactação. “Não temos capital de giro, o laticínio tem um custo alto de manutenção e, quando a produção de leite está baixa, é difícil manter. Então, queremos aumentar a quantidade e fazer outros produtos no futuro”, diz Denise.

 Família de Denise Rosa (primeira à esquerda), de Lomba Grande, em Novo Hamburgo, processa em torno de mil unidades por mês de iogurte à base de leite orgânico, além de pães, cucas e chips de batata sem agrotóxicos | Foto: Denise Barbaro da Rosa / Arquivo pessoal / CP.

Além de lácteos, a marca Sítio Amigos da Terra estampa pães, bolos, cucas e biscoitos à base de farinhas integrais, fornecidas por outros produtores certificados. A padaria orgânica da família produz ainda 2 mil unidades de chips de batata, inhame, aipim e banana-verde por mês, aproveitando cultivos da propriedade. Os itens são vendidos em feiras agroecológicas realizadas em Novo Hamburgo e Porto Alegre e em casas especializadas em produtos saudáveis, podendo ser encontrados também em uma loja própria aberta pela família há dois anos em Lomba Grande.

Para obter o selo de orgânico, Denise explica que a família adotou o modelo de certificação participativa, por meio da rede Ecovida. “A gente cresceu com isso, então essa paixão pelo orgânico veio desde criança”, conta a empreendedora. Como um elemento importante na consolidação da agroindústria familiar, ela destaca a assistência da Emater/RS-Ascar e o apoio do Pacto pelo Futuro de Lomba Grande, programa de recuperação econômica lançado durante a pandemia de Covid-19 pela prefeitura de Novo Hamburgo, pelo Sebrae-RS e pela cooperativa Sicredi Pioneira RS. “A gente vem passando por um período difícil, as feiras caíram bastante. Mas as pessoas estão bem preocupadas com a alimentação. Por mais que o dinheiro esteja restrito, elas investem no orgânico”, afirma Denise.

Sorbet Orgânico, sem glúten e sem lactose

Uma das maiores satisfações do empreendedor Obirajara Souza Almeida é ver uma criança com intolerância alimentar sair feliz da sua banca na Feira Ecológica do Bom Fim, que ocorre todos os sábados ao lado do Parque da Redenção, em Porto Alegre. Maior produtor de morango orgânico filiado à Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (Rama), Almeida decidiu usar o estoque excedente da fruta na elaboração de uma sobremesa sob medida para quem não apenas busca alimentos sem agrotóxicos, mas também precisa adotar dietas restritivas, um nicho de mercado em expansão no país. Dessa aposta, nasceu um sorbet orgânico sem glúten e sem lactose, mas com muito sabor.

Motivados pela preocupação com a saúde, Almeida e a esposa, Luci Mara, iniciaram em 2016 o cultivo agroecológico na Chácara Vila Nova, situada no bairro de mesmo nome na Capital. Na empreitada, buscaram a orientação da Emater/RS-Ascar. “Temos uma chácara pequena. Com o morango, numa pequena área, a gente conseguiria produzir uma grande quantidade que nos desse um retorno. No primeiro ano, começamos com mudas nacionais, fomos aprendendo a plantar. Atualmente, a gente está com mudas vindas da Espanha, mais resistentes a pragas”, explica o agricultor. A plantação soma hoje 10 mil pés de morango, que de maio a julho chegam a produzir de 250 a 300 quilos da fruta por semana.

 Obirajara vende na Feira Ecológica da Redenção, aos sábados, a sobremesa que faz com o excedente da produção de morangos cultivados na propriedade da Vila Nova, zona sul da Capital | Foto: Ricardo Giusti / CP.

Como não conseguia escoar toda a produção nas feiras, o casal pesquisou a oferta de sobremesas geladas orgânicas no mercado. Da proposta inicial de elaborar um picolé em saquinho, eles optaram pelo sorbet sem glúten e sem lactose, feito com massa de aipim. Levaram um ano aprimorando e testando a receita, com a ajuda de um técnico da Emater que lhes sugeriu a ideia inspirado em um doce feito por sua avó de origem portuguesa. “A gente queria atingir um público especial, senão seríamos mais um a produzir sorvete. Só de morango, botei fora 70, 80 quilos, até que conseguimos acertar o ponto”, recorda Almeida. No ano passado, os empreendedores levaram o produto ao Pavilhão da Agricultura Familiar da Expointer, em Esteio, e saíram animados com a boa receptividade.

Além de morango, o sorbet é oferecido nos sabores cacau, uva, morango com açaí e morango com pitaia, em porções de 100 gramas ou potinhos de 300 gramas. A Chácara Vila Nova produz ainda suco e três tipos de geleia – morango com baixo teor de açúcar, morango com pimenta e chutney de morango. “Tentamos processar tudo o que dá com o morango, porque é uma maneira de agregar valor (à produção)”, afirma Almeida. Para ampliar o negócio, o produtor estuda a abertura de um ponto de venda, parcerias com lojas e a criação de um site de e-commerce. “Queremos investir em novos equipamentos para poder processar maior quantidade, envazar em potinhos menores”, diz o agricultor.

Kombucha porto-alegrense está em 24 estados

Bebida tradicional nas culturas asiáticas é produzida na zona norte da Capital e utiliza como base frutas e cultivos mantidos na região por agricultores alinhados à agroecologia, selecionados nas feiras do Bom Fim e Três Figueiras 

De origem asiática, a kombucha é uma bebida probiótica milenar que, apesar do nome complicado, vem conquistando espaço crescente em bares, restaurantes e prateleiras de supermercados, com sabores variados que vão de frutas vermelhas a gengibre. A receita consiste na fermentação de um chá adoçado com um disco gelatinoso chamado de scoby, que concentra bactérias e leveduras ativas. Estabelecida em 2016 em Porto Alegre, a agroindústria Tao Kombucha foi pioneira na produção de kombucha orgânica no Brasil e, hoje, os itens da marca chegam a mais de 2 mil pontos de venda em 24 estados, segundo a empresária Raquel Abegg Leyva.

Fundadora da empresa ao lado dos irmãos, Raquel conta que o empreendimento começou dentro do seu próprio apartamento, após uma viagem feita por seus pais à Austrália. “Lá, eles conheceram a kombucha e, quando voltaram para o Brasil, trouxeram uma ‘muda’ de scoby. Começamos a fermentar para consumo próprio e vimos que havia uma oportunidade, que não tinha nenhuma marca comercial no Brasil”, diz. 

 Raquel Leyva começou a fermentação da Kombucha para consumo da família em 2016, sendo pioneira no Brasil na produção da bebiba | Foto: Salomão Cardoso / Divulgação / CP.

Para implantar a agroindústria, que hoje ocupa uma área em torno de 750 metros quadrados no bairro Anchieta, na zona norte de Porto Alegre, a família investiu recursos próprios e buscou linhas de financiamento por meio do Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE), explica a empreendedora. As frutas e cultivos usados na produção são fornecidos por agricultores orgânicos locais, selecionados a partir de contatos nas feiras agroecológicas semanais do Parque da Redenção e do Bairro Três Figueiras. 

Um dos desafios para consolidar o negócio, segundo Raquel, era a falta de uma legislação específica no Brasil que estabelecesse padrões de qualidade e identidade para a kombucha. Essas normas vieram com a Instrução Normativa 41, publicada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em 17 de setembro de 2019 – uma das exigências é que, se o produto tiver teor alcoólico superior a 0,5% em sua composição, isso deve ser informado no rótulo. “Fomos a primeira marca a desenvolver uma kombucha que não é alcoólica”, destaca Raquel. 

A Tao produz 15 variedades da bebida, como os sabores tangerina, uva, morango e hibisco, guaraná, limão e cúrcuma, apresentados em garrafas de 275 ml e 350 ml. Com o sucesso da kombucha, a agroindústria lançou também uma linha de chás orgânicos de guayusa, nas versões gaseificado (latinhas de 269 ml) e sachê, e começa a prospectar vendas a outros países. Para Raquel, a valorização da alimentação saudável traz boas perspectivas de crescimento para esse mercado. “A própria pandemia foi algo que alertou (sobre) a questão de cuidar da saúde, da imunidade, e as pessoas estão dando mais valor a isso”, avalia.


Correio do Povo

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