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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Amigos e familiares se despedem de João Antônio Dib no Paço Municipal

 Aliados e adversários políticos ressaltam diálogo e amor por Porto Alegre em velório do ex-prefeito da Capital

"Sou servidor público por vocação, formação e convicção. Mas só quando cheguei na prefeitura eu soube que o prefeito é o administrador da escassez. O prefeito deseja fazer muitas coisas, conhece os problemas da cidade e nem sempre ele consegue resolver. Falta recursos. [...] A todos, eu quero dizer: saúde e paz". Da forma característica com que encerrava seus discursos, João Antônio Dib marcou sua última fala no Salão Nobre do Paço Municipal, em 25 de março de 2022, quando foi homenageado ao lado de outros ex-prefeitos por conta dos 250 anos de Porto Alegre.

Nesta quinta-feira, no mesmo lugar, as palmas que há pouco mais de um ano ecoavam no salão deram espaço para a despedida silenciosa de amigos, políticos e familiares em seu velório. Uma marca registrada do ex-prefeito, que governou a cidade entre 1983 e 1986, mas que iniciou como engenheiro na prefeitura em 1952, deixando a vida pública como vereador em 2012, foi reproduzida na ocasião. Balas e bombons foram servidos a quem se despedia, lembrando o hábito que João Antônio Dib tinha de distribuir doces, deixados sobre a mesa daqueles com quem convivia.  

Apesar de ser o último prefeito do período militar, Dib é descrito por aliados e políticos de oposição como alguém de muito diálogo e respeito a quem pensava diferente.  Um dos que ressaltou esse traço foi o prefeito Sebastião Melo, por sua convivência enquanto vereador. "Que os ensinamentos, que foram tantos, sirvam para que a gente 'baixe essa temperatura' e olhe para o país, para o Estado e o município", ressaltou.

Presidente estadual do PP por quase 25 anos, Celso Bernardi, que convivia com Dib desde 1973, foi na mesma linha, dizendo que o ex-prefeito era "respeitado e sabia respeitar" de forma democrática. "Era uma pessoa coerente, sincera. Posso dizer que ele tinha dois amores, o amor pela família e o outro era o amor pela cidade. Pode ter muitos que gostam de Porto Alegre, mas ninguém gostava mais que o Dib." 

Uma prova do trânsito de Dib nos diferentes campos políticos deu-se a menos de um quilômetro dali, na Assembleia Legislativa. Na instalação de uma frente parlamentar sobre o Dmae, a deputada estadual Sofia Cavedon (PT) propôs um minuto de silêncio, lamentando a morte de Dib, a quem chamou de "guerreiro lutador" e "companheiro de lutas" no município, apesar das diferenças ideológicas. "Fazia parte de um campo de direita que era nacionalista, que defendia o serviço e o servidor público, que não compactuava com mentiras, fake news, com desmontes e que fazia o debate com republicanismo, com amorosidade até e com muito respeito", disse.  

Ex-vice-prefeito da Capital, hoje afastado da política partidária, Gustavo Paim corroborou esse viés. "Ele foi presidente da Câmara de Vereadores com apoio do PT, da esquerda. É referência de um político que fazia política pelo bem comum, o que é difícil de encontrar hoje", disse. Além de ressaltar a perda para Porto Alegre, Paim também tinha relação familiar com Dib, visto que era irmão de seu padrinho Jorge Dib. Ele lembra de, desde criança, conviver com o ex-prefeito, que foi uma de suas referências para ingressar na política. 

Natural de Vacaria, mas com sua vida política toda construída na Capital, onde foi prefeito e dez vezes vereador, João Antônio Dib morreu nesta quarta-feira aos 93 anos. Engenheiro civil de formação, Dib foi filiado à Arena e, depois, aos partidos que sucederam a sigla: PDS, PPR e PP.

"O Dib foi assessor do Loureiro da Silva e tinha toda uma carreira como engenheiro. Foi meu secretário em umas quatro pastas, uma espécie de coringa. Tinha muita admiração por ele, que me chamava de 'irmão mais moço'", lembrou seu antecessor no Paço, Guilherme Socias Villela. Em março deste ano, Dib participou, na nova sede administrativa da prefeitura, na Rua João Manoel, do ato que deu o nome de Villela ao prédio

Após uma cerimônia de despedida, o cortejo fúnebre deixa o Paço Municipal, onde foram concedidas honras de prefeito em exercícios, por volta das 18h, passando em frente à Câmara Municipal, até o Cemitério João XXIII, onde o corpo será sepultado.


Correio do Povo

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