D'Alessandro
desabafou e fez críticas procedentes ao trabalho da imprensa. A
repercussão toda aconteceu porque é muito comum jornalistas
abusarem das críticas aos atletas, mas quando eles são citados,
perdem completamente o controle. Lembro até hoje de um
repórter local pouco expressivo, que abriu uma entrevista coletiva
com um dirigente colorado perguntando se não era um desrespeito com
o clube o fato de um helicóptero estar sobrevoando o campo durante o
treinamento do time. Evidente que o helicóptero era de uma empresa
concorrente e o repórter estava ali fazendo o papel de “a voz do
dono”. Como estou longe de
ser corporativista e sei perceber os equívocos frequentes da
imprensa, adjetivei “no ar” aquilo como uma pergunta circense.
Pois o tal repórter na primeira vez que me encontrou,
imediatamente sentiu-se o John Wayne dos pampas e passou a gritar
comigo buscando me intimidar. E fez aquilo na frente de vários
profissionais, baixaria mesmo. Claro que fez isso sem me olhar nos
olhos. Tentei conversar, mas quando vi que era perda de tempo,
larguei de mão e nunca mais nos falamos, o que acabou sendo
extremamente produtivo. Esta é a reação comum para os críticos
que são criticados. Basta ver quando alguém é criticado no famoso
Blog do Prévidi, jornalista que trata sobre comunicação e mídias
em geral, imediatamente se revoltam e alguns já encaminham um
processo judicial o mais rápido possível. D'Alessandro fez uma
crítica educada e procedente.
Leiam
o que ele disse: “Temos que reconhecer que a campanha no Brasileiro
não é boa e nós somos conscientes disto. É culpa nossa, por
diferentes motivos, mas tivemos um erro que foi não focar totalmente
no Brasileiro. Depois da vaga contra o Santa Fé (na Libertadores)
nós sofremos um relaxamento, que é normal. Mas nós estamos por
merecimento na semifinal da Libertadores, não chegamos por acaso.
Somos o único time brasileiro na semifinal, não estamos tão mal
assim. Dos pontos positivos não se falam”. Uma autocrítica
absolutamente lúcida. Na sequência falou sobre o trabalho da
imprensa: “Críticas produtivas fazem bem, mas muitas vezes as
críticas não são produtivas e acabam influenciando o torcedor.
Daqui a dez dias vou completar sete anos aqui no Inter e ainda tem
gente que faz críticas pessoais, mas já estou acostumado. Nunca
faltou atitude e predisposição para este grupo”. Alguém acha que
não existem críticas pessoais na imprensa, baseada em gostos
individuais e preferências por determinadas pessoas? Sou
jornalista e cronista esportivo e posso afirmar que há profissionais
que torcem por suas ideias, ignorando completamente os fatos. Como
existem jornalistas que fazem críticas sistemáticas a um
determinado profissional e jamais o elogiam, mesmo quando os fatos
mostram que ele é merecedor de todos os elogios possíveis. O que
irritou algumas pessoas foi o fato de D'Alessandro dizer que não
escuta mais rádio, mas que sabe de tudo o que falam. Mas o que há
de errado nisso?
A
imprensa brasileira e não apenas a esportiva é responsável por uma
série de equívocos e injustiças, como também é responsável por
muitas descobertas históricas que foram decisivas para a construção
da nossa sociedade. Evidentemente que o jornalismo esportivo promove
o esporte e ajuda a manter viva a paixão pelo futebol, mas
precisamos receber críticas para que possamos evoluir e melhorar o
nosso trabalho. D'Alessandro é
um atleta de alto nível e um cara de altíssima exposição na
mídia, tem todo o direito de questionar o nosso trabalho
quando assim achar necessário.
Fonte: Correio do Povo, página 8 de 8
de julho de 2015.
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