Sobrevivência e reinvenção, por Taline Oppitz

Acompanhada por ministros, governadores e parlamentares, a presidente Dilma Rousseff lançou nova etapa do programa de concessões que prevê investimentos de R$ 198, 4 bilhões até 2019, com a participação pesada do setor privado. A iniciativa não é apenas uma forma de garantir recursos – que o governo não tem – para infraestrutura em áreas essenciais e de tentar emplacar pauta positiva após escândalo da Petrobras e em meio ao ajuste fiscal. Dilma está tendo de reequilibrar a economia, de reconquistar o estoque de boa vontade com o governo junto a investidores e aliados, e de desfazer ainda a tese de que terceirizou a governabilidade política para o PMDB. A tentativa é de sobrevivência e de reinvenção. E o que está em jogo não é apenas o restante de seu segundo mandato, mas o plano de longo prazo de permanência do PT no poder, que será posto à prova em 2018, quando o partido tentará o quinto mandato consecutivo na Presidência da República. O movimento de Dilma – que tem como principal ator o setor privado, numa parceria historicamente defenestrada por setores do PT – ocorre no início do segundo mandato, mas tem similaridades com o feito por Lula, que ganhou força pouco antes da disputa quando acabou eleito pela primeira vez. Lula flexibilizou bandeiras do PT, partido que sabia atuar apenas na oposição, e lançou a Carta ao Povo Brasileiro, para acalmar os mercados e o setor econômico e garantir a vitória eleitoral. Ao chegar no Planalto, focou a atenção nas camadas miseráveis da população, mas para bancar seu projeto, teve de ceder ainda mais, fazer alianças políticas impensáveis e sustentar a linha econômica demonizada desde a origem do PT.


Fonte: Correio do Povo, página 4 de 10 de junho de 2015.

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