Rússia confirma divisão do mundo

 por Jurandir Soares

Se percebe como um acordo tático entre Estados Unidos, Rússia e China para a divisão do mundo entre si

Na coluna do último fim de semana, destaquei o que se percebe como um acordo tático entre Estados Unidos, Rússia e China para a divisão do mundo entre si, com cada um ficando absoluto em sua área de influência. A ratificação do acordo veio neste domingo, com o pronunciamento do porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, elogiando e concordando com a estratégia de defesa dos EUA, anunciada na sexta-feira, pelo presidente Donald Trump.


Ainda de acordo com Peskov, a esperança russa é de que essa estratégia “possa constituir uma garantia modesta para a capacidade de continuar, de forma construtiva, o trabalho conjunto para encontrar uma solução pacífica na Ucrânia”. Ou seja, a Rússia aceita a expansão e o domínio dos Estados Unidos nas Américas e os EUA aceitam a dominação russa sobre a Ucrânia e outros países da região.


DOUTRINA


Quanto à política anunciada por Trump, ela resgata em boa parte a Doutrina Monroe, que inicialmente fortaleceu o afastamento dos europeus da região e, posteriormente, embasou a influência norte-americana nos governos regionais, em alguns casos com interferência militar. A preocupação maior agora é com as migrações em massa e a segurança de fronteiras. “Após anos de negligência, os Estados Unidos agirão para restaurar a preeminência no Hemisfério Ocidental”, diz o documento.


MINÉRIOS


Fica subentendido também que as duas potências não irão se envolver no momento em que a China resolver colocar a mão sobre Taiwan. Hoje, há um certo contencioso com relação à presença chinesa no Canal do Panamá, o que vem sendo resolvido com a pressão que é exercida pelo governo Trump sobre o governo panamenho.


No âmbito das disputas com a China, estão os minérios. A questão fica muito clara quando o texto estabelece que um dos objetivos é “buscar acesso a recursos e a localizações estratégicas na região” e, para isso, “garantir que os países sejam razoavelmente estáveis e bem governados”. E se entenda por bem governados aqueles que se habilitarem a receber ajuda, cuja concessão fica condicionada “à redução de influência estrangeira adversária”.


EUROPA


Se tal estratégia está em conformidade com o que pensam as três grandes potências, o mesmo não ocorre com relação ao que pensa a Europa. Esta é temerosa do avanço russo. E vê Trump deixar de lado não só a Ucrânia, como também a própria aliança militar do Ocidente, ao declarar que a Otan não será ampliada, contrariando as esperanças do governo do ucraniano Volodimir Zelensky.


Assim como Trump também não está ligando para as preocupações específicas da Polônia e das repúblicas bálticas, Estônia, Letônia e Lituânia. A Polônia, que faz fronteira com a Ucrânia, passou a destinar 5% de seu PIB para a defesa. Já os países bálticos, embora façam parte da Otan, sentem que não receberão a proteção dos EUA no caso de uma invasão russa. Considerando que, entre Polônia e Lituânia, situa-se o enclave de Kaliningrado, onde a Rússia possui a sua poderosa base naval do Báltico.


GUERRA


A Europa, sabidamente, não quer abandonar a Ucrânia, porém não consegue, sozinha, enfrentar a Rússia. Com isto, tenta convencer os EUA a não abandonar o Velho Continente. Posição referendada pela chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, a qual ressaltou que os EUA continuam sendo o maior aliado da Europa.


O que pode resultar deste novo quadro de relacionamento entre as três potências é evitar aquilo que o papa Leão XIV advertiu que estamos construindo gradativamente: uma Terceira Guerra Mundial. O confronto na Ucrânia, inquestionavelmente, está levando para essa situação. Só não chegará a esse ponto se a Rússia for contemplada com o ganho territorial na Ucrânia que objetiva. Com a compensação pelo lado dos Estados Unidos de não só de ficar livre de um confronto com a Rússia, mas também ter o aceite de Moscou para sua nova “Estratégia Nacional de Segurança”. E a China, de sua parte, sente que ninguém se oporá à sua reivindicação histórica sobre Taiwan.

Correio do Povo

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