Natal pelo mundo

 Por Jurandir Soares

O Natal é uma celebração global, mas longe de ser homogênea. Embora tenha origem no cristianismo, a data foi incorporada a culturas distintas, assumindo ritos, símbolos e significados próprios em cada região do planeta. Do inverno rigoroso do Hemisfério Norte ao verão latino-americano, das missas solenes do Vaticano às longas liturgias ortodoxas do Oriente, o Natal revela como a fé dialoga com a história, a geografia e as tradições locais.


OCIDENTE


Na maior parte do Ocidente cristão, especialmente na Europa, nas Américas e em partes da África, o Natal é celebrado na noite de 24 para 25 de dezembro. A tradição foi consolidada a partir do século IV, quando Roma definiu 25 de dezembro como a data simbólica do nascimento de Jesus Cristo, possivelmente para coincidir com antigas festas pagãs ligadas ao solstício de inverno.


Nessas regiões, a celebração combina religiosidade e costumes populares. Missas do Galo, presépios, árvores enfeitadas, troca de presentes e grandes reuniões familiares marcam a data. Em países como Itália, Espanha, França e Brasil, a ceia natalina é o ponto alto da noite, com pratos típicos que variam conforme a cultura local. No Brasil, o Natal acontece em pleno verão, o que confere um tom festivo e informal, muitas vezes distante do imaginário europeu de neve e lareiras.


NORTE


Nos países do norte da Europa, como Alemanha, Suécia, Noruega e Finlândia, o Natal mantém forte vínculo com antigas tradições pré-cristãs. Luzes, velas e mercados natalinos ajudam a enfrentar os dias curtos e escuros do inverno. Nessas regiões, a celebração costuma começar mais cedo, já no Advento, período de preparação espiritual que antecede o Natal.


A figura do Papai Noel, inspirada em Nicolau, bispo do século IV conhecido por sua generosidade, ganhou contornos modernos justamente nesses países antes de se espalhar pelo mundo. Já nos Estados Unidos e no Canadá, o Natal se tornou também um grande evento comercial, com decoração urbana exuberante e forte presença da cultura pop, sem perder, porém, seu caráter religioso para milhões de fiéis.


ORIENTE


No cristianismo oriental, especialmente entre as igrejas ortodoxas, o Natal assume outra dimensão. Em países como Rússia, Ucrânia, Sérvia, Geórgia e Etiópia, a data é celebrada em 6 ou 7 de janeiro, não por divergência teológica, mas por diferença de calendário. Essas igrejas seguem o calendário juliano, mais antigo, enquanto o Ocidente adota o calendário gregoriano.


As celebrações ortodoxas são marcadas por longos jejuns, que antecedem o Natal, e por liturgias extensas e solenes, com cânticos ancestrais e rituais profundamente simbólicos. Em muitos lugares, o foco não está na troca de presentes, mas na experiência espiritual, na oração e na comunhão da comunidade. Em Jerusalém, Belém e outras cidades do Oriente Médio, cristãos de diferentes denominações convivem com datas distintas, celebrando o nascimento de Cristo em dias diferentes, mas no mesmo território sagrado.


SENTIDOS


As diferenças nas celebrações natalinas refletem as múltiplas correntes do cristianismo — católicos, protestantes, evangélicos e ortodoxos — e também a capacidade da religião de se adaptar às culturas locais. Para além da data exata, o Natal carrega um sentido universal: a ideia de renovação, esperança e fraternidade.


Em um mundo marcado por conflitos, desigualdades e crises, o Natal segue sendo, para bilhões de pessoas, um momento de pausa e reflexão. Seja em dezembro ou em janeiro, sob a neve ou o calor tropical, com ritos simples ou cerimônias grandiosas, a celebração do nascimento de Cristo continua a unir fé, tradição e identidade cultural, reafirmando sua força como um dos eventos mais simbólicos do calendário mundial.

Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário