Maduro e a divisão do mundo

 por Jurandir Soares

Estamos vendo os Estados Unidos buscando restaurar a Doutrina Monroe, a qual prega “a América para os americanos”

Está cada vez mais clara a divisão do mundo estabelecida, tacitamente, entre Estados Unidos, Rússia e China. Ou seja, as três grandes potências mundiais. Por este acordo, nenhuma das potências se mete na área de influência da outra. Com isto já se pode ter, de imediato, três conclusões. Ou seja, os Estados Unidos podem continuar agindo tranquilamente sobre o venezuelano Nicolás Maduro, que ninguém virá socorrê-lo. Assim como os EUA não irão se mobilizar militarmente em defesa da Ucrânia, deixando a Rússia livre para agir. Ao mesmo tempo em que a China fica livre para, em algum momento, realizar a tomada de Taiwan.


DOUTRINA


Dentro deste contexto, estamos vendo os Estados Unidos buscando restaurar a Doutrina Monroe, a qual prega “a América para os americanos”. E quando pronunciávamos este slogan na década de 1970, costumávamos acrescentar: “americanos do norte”. Em nome dessa doutrina duas intervenções militares foram marcantes. Em 1965, na República Dominicana e, em 1989, no Panamá. Pois é mediante este acordo tácito entre as potências e ao retorno da Doutrina Monroe que Donald Trump está agindo sobre Nicolás Maduro na Venezuela. Trump criou todas as características para uma intervenção militar. Mobilizou para o Caribe uma frota de nove navios de guerra, um submarino de propulsão nuclear, aviões de combate, o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, e 15 mil militares.


CARACTERÍSTICAS


Apesar de toda essa mobilização, não se vê um cenário imediato de ataque à Venezuela. As ações bélicas tem ficado na caça aos barcos que circulam pela região e que, no entendimento do governo Trump, estão levando drogas para os Estados Unidos. Trump quer destituir Maduro, mas sabe que no atual contexto uma intervenção militar têm fortes posições contrárias, até mesmo dentro dos Estados Unidos. De Trump não se pode duvidar nada, mas os indicativos são de que ele está desenvolvendo uma guerra psicológica contra o ditador venezuelano.


Assim, como fez nesta semana, pede aos cidadãos americanos que deixem o território venezuelano. E reforça a advertência às empresas aéreas para que não transitem pelo espaço aéreo venezuelano. Tudo isto para dar a entender que um ataque pode ser feito a qualquer momento. Nesta estratégia há um outro objetivo, que é provocar um racha nos meios que apoiam Maduro, especialmente o militar.


DIVISÃO


No meio militar já houve muita debandada, daqueles que não compactuam com o que está acontecendo no país. No entanto, os indicativos são de que a maior parte dos militares é fiel a Maduro, não por sua posição política, mas pelo envolvimento nos negócios escusos, preponderando o do narcotráfico.


Os altos comandos das Forças Armadas têm se mantido leais a Maduro. Afinal, ele tem dado força e participação nos negócios a figuras que se firmaram no suporte a seu governo, como o ministro da Defesa Vladimir Padrino López, no cargo há mais de dez anos. Diante deste quadro fica a indefinição sobre o futuro de Maduro. Porém, uma coisa é certa, Trump está livre para seguir fustigando ditador. Tanto em função do acordo tácito entre as potências, como por sua determinação de recolocar em prática a Doutrina Monroe.

Correio do Povo

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