por Jurandir Soares
Capital do Egito mescla história, cultura, sofisticação e caos
Hoje vou falar sobre o Cairo, última etapa de minha viagem, que passou também por Dubai e Bangkok. O Cairo é uma cidade onde a história não apenas se preserva — ela pulsa. Capital do Egito moderno, com mais de 20 milhões de habitantes, a metrópole mistura intensidade, caos, modernidade, falcatrua e um patrimônio inigualável. É ali que se pode reencontrar parte essencial da trajetória humana, registrada nos museus que abrigam relíquias com mais de 4 mil anos.
Nos salões do Museu Nacional, no Museu das Civilizações e, sobretudo, no recém-inaugurado e monumental Grande Museu Egípcio, o visitante percorre períodos que remontam a até 2500 anos antes de Cristo. É uma viagem concreta ao passado, apresentada com rigor arqueológico e uma riqueza visual arrebatadora.
TESOUROS
O novo museu, estrategicamente construído próximo às pirâmides de Gizé, impressiona pela arquitetura futurista e pelo conteúdo que guarda. Uma passarela, em fase final de construção, conectará diretamente o complexo às pirâmides, reforçando a integração entre os símbolos máximos da antiguidade e sua moderna vitrine. Entre peças colossais e delicadas joias esculpidas à mão, a atração mais aguardada é a tumba de Tutancâmon, apresentada com detalhes nunca antes expostos ao grande público. Sarcófagos, adereços reais, mobiliário ritualístico e máscaras douradas formam um conjunto que demonstra a sofisticação de uma civilização capaz de dominar técnicas, rituais e conhecimentos que ainda intrigam a ciência.
CAPÍTULOS
Nos outros museus da cidade, como o Nacional e o das Civilizações, encontram-se múmias de faraós, papiros preservados, utensílios do cotidiano, ídolos e esculturas que revelam crenças, hábitos e avanços tecnológicos do Egito Antigo. Cada sala conta um capítulo distinto: o nascimento da escrita, a medicina rudimentar, os sistemas de irrigação e a visão espiritual do além-vida. O Cairo, nesse sentido, é uma sala de aula permanente, aberta ao mundo.
MAGNITUDE
Da esplanada de Gizé, a visão das pirâmides e da esfinge é algo que mexe com o imaginário da gente. A imensidão das estruturas, erguidas há milênios com precisão ainda debatida, provoca o mesmo impacto que levou Napoleão, ao chegar ao Egito com suas tropas, a exclamar: “Soldados! Do alto destas pirâmides quatro mil anos de história vos contemplam!”. A frase, repetida por guias e estudiosos, continua descrevendo perfeitamente o sentimento de quem se coloca diante desses colossos. A cada olhar, renova-se a percepção de que ali se ergue uma das maiores realizações humanas.
CAOS
Contudo, a trajetória do visitante nem sempre é tranquila. Depois de episódios de ataques terroristas, o Cairo reforçou a segurança, protegendo turistas e moradores. Policiais estão posicionados por toda parte, e até os hotéis contam com detectores de metais e equipes de vigilância. A sensação, apesar de intensa, é de proteção.
Em contraste, o trânsito da cidade parece regido por outras leis — ou pela ausência delas. É, possivelmente, o mais caótico entre os grandes centros urbanos. Não há sinaleiras, e dobrar para qualquer lado, inclusive fazer retornos inesperados, é regra. A comunicação é feita pelas buzinas, constantemente acionadas, numa sinfonia que, para os visitantes, soa ensurdecedora. Carros arranhados são maioria, e o pedestre, totalmente desconsiderado: sem faixas, ele cruza entre veículos em movimento, assumindo risco de vida a cada travessia.
NEGÓCIOS
Outra dificuldade enfrentada pelo turista é a insistente tentativa de exploração comercial. Motoristas de transfer costumam fazer paradas inesperadas em lojas onde recebem comissões, e gorjetas são exigidas com frequência — muitas vezes acompanhadas de reclamações sobre o valor entregue. A experiência, por vezes desgastante, exige paciência e firmeza.
Mas há recompensas. Um passeio noturno pelo Nilo, com jantar e show a bordo, incluindo a tradicional dança do ventre, devolve ao visitante a serenidade que o trânsito e o comércio agressivo retiram. A brisa do rio, o reflexo das luzes da cidade e o ritmo envolvente da música criam um raro momento de contemplação.
No fim, os obstáculos se tornam pequenos diante da grandeza oferecida pelo Egito milenar. Estar diante de artefatos que sobreviveram a milhares de anos, caminhar pelo berço de civilizações e contemplar monumentos que desafiam o tempo, faz da viagem ao Cairo uma experiência transformadora — daquelas que permanecem para sempre na memória.
Correio do Povo
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