Trump taxa Brasil e ameaça atividade primária gaúcha

 Sobretaxa de 50% a partir de agosto preocupa embarques de celulose, fumo e carnes para os Estados Unidos

De acordo com o mais recente anúncio de Trump, realizado em 9 de julho, o tarifaço aos produtos brasileiros entra em vigor no próximo 1º de agosto | Foto: Divulgação / Portos RS / CP


“Não existe cadeira vazia no mercado internacional. É uma ilusão achar que dá para redirecionar”, pontuou o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, ao comentar as consequências para a atividade primária nacional sobre a nova tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com 7% das exportações nacionais e 5% dos embarques gaúchos direcionados ao consumidor norte-americano, o impacto direto nas cadeias produtivas da celulose, fumo e carnes preocupa especialmente o Estado. “Nós não temos para onde mandar essa produção toda”, alertou.

De acordo com o mais recente anúncio de Trump, realizado em 9 de julho, o tarifaço entra em vigor no próximo 1º de agosto.

“Estamos muito preocupados, afinal de contas os Estados Unidos, como país, é o segundo maior comprador do Brasil”, complementou, acrescentando que os brasileiros são os maiores exportadores líquidos de alimentos do mundo.

O presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Valmor Thesing, aposta em uma mediação diplomática técnica para evitar prejuízos bilionários no setor. Conforme ele, caso seja concretizada a tarifa de 50%, a medida vai impactar 38 mil toneladas do produto gaúcho e 65 mil produtores familiares e o tempo presente é de prudência. “Estamos muito cautelosos e confiantes de que haverá bom senso”, afirmou o dirigente da entidade que representa 14 indústrias do setor.
De acordo com Thesing, não está descartada a possibilidade de redirecionar o volume exportado para os Estados Unidos a outros 113 países. Contudo, o setor teme desequilíbrios comerciais e prejuízos à economia familiar rural, pois os Estados Unidos é, atualmente, o terceiro maior destino em volume e valor.

Citando dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC/ComexStat), o presidente do SindiTabaco exportou 19 mil toneladas de tabaco para aquele país nos primeiros seis meses deste ano. Os embarques geraram 129 milhões de dólares em receita. Em 2024, foram 39,8 mil toneladas e 255 milhões de dólares em vendas externas, representando cerca de 9% das exportações totais brasileiras do setor, que alcançam, em média, 500 mil toneladas por ano para mais de 100 países.

“Vai sobrar para o produtor”, resume o professor de economia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) e analista de mercado, Argemiro Luís Brum, ao projetar queda de preços se e quando entrar em vigor a sobretaxa de Trump. Na sua avaliação, a medida do presidente norte-americano tem motivação mais política do que comercial, contudo, prejudica estados exportadores como o Rio Grande do Sul, atingindo a atividade primária que é um setor estratégico. Por isso, a situação exige uma resposta diplomática urgente do governo brasileiro para não inviabilizar a presença nacional no mercado daquele país.

“Seremos obrigados a encontrar outros mercados ou vamos ter problemas. A produção terá que reduzir na proporção do que se perdeu em virtude dos seus custos e das margens das indústrias”, finalizou.

Dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE) apontam que as exportações do agro gaúcho para os Estados Unidos representaram, em 2024, 41,9% do total dos embarques. No primeiro trimestre de 2025, o percentual subiu para 44,3%.

Exportações para os Estados Unidos. Arte em 10 de julho de 2025 | Foto: Leandro Maciel


Correio do Povo

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