sábado, 5 de julho de 2025

“Isto vai virar um cemitério abandonado”, diz comerciante que reabriu mercado após nova enchente em Eldorado do Sul

 Habitantes do município se dividem entre a angústia e a desolação depois de mais uma inundação devastadora

Comerciantes de Eldorado do Sul sofrem as consequências das repetidas enchentes | Jurema de Fátima Rodrigues tem um comércio no bairro Cidade Verde | Foto: Camila Cunha


Moradores de Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, seguem preocupados e se dizem desassistidos, mesmo após a redução dos níveis do rio Jacuí. No bairro Cidade Verde, que por ora tem a aparência de uma cidade-fantasma, a maioria dos comércios fechou as portas, assim como as residências já não têm mais habitantes.

Um dos poucos mercados restantes da localidade, na rua Lucas Espíndola, reabriu na manhã de sexta-feira apenas parcialmente, à medida que os itens e mobiliários do estabelecimento eram retirados do segundo andar da casa da proprietária, Jurema de Fátima Rodrigues, natural de Porto Alegre e que vive no local há 25 anos. Com os olhos marejados, ela conta que a situação é desesperadora.

“Estou a ponto de desistir de tudo. Estou entrando em um buraco de dívidas do qual não consigo mais sair. Você se endivida para pagar outra, tentando negociar mais prazo com as empresas. Não consigo mais alugar nada”, lamentou ela, que, além do comércio, tem também mais três casas e dois espaços para aluguel de lojas, todos localizados em área conflagrada pelas cheias. Em maio de 2024, a enchente cobriu todo o mercado, mas não chegou ao andar acima, acessível por escadas. Jurema disse que, em todas as ocasiões, precisou recorrer a homens da comunidade para ajudar a subir geladeiras, fardos de bebidas, entre outros itens mais pesados.

Comerciantes de Eldorado do Sul sofrem as consequências das repetidas enchentes Camila Cunha

“Eu pego enchente desde que vim morar aqui, há mais de 20 anos. Minha filha nasceu em 2001, e saí daqui com ela debaixo d’água, com elas nos braços, recém chegada do hospital. Antes dava uma trégua, hoje não dá mais. Isto aqui vai virar um cemitério abandonado”, acrescentou. A comerciante, que por enquanto trabalha no local apenas com uma prima, se diz também desiludida. “Você pinta, arruma, conserta, mas o dinheiro não é suficiente. Consegui o auxílio do Pronampe, porém os juros são muito altos. Sou obrigada a ficar aqui, não tenho condições de pagar aluguel de dois mil, três mil reais. A situação está bem difícil”, disse Jurema.

"Ferida que nunca cicatriza”, diz vice-prefeito

O vice-prefeito e secretário de Saúde de Eldorado do Sul, Giovani Bombeiro, ressalta que a enchente “é uma ferida que nunca cicatriza”. “Sabemos que saímos de uma e entramos na outra. Estamos aguardando a boa notícia do tão sonhado dique para os próximos dias, esperando o governador Eduardo Leite anunciar para realmente seguir com esta licitação. Estamos nesta briga há 20 anos. Agora há o recurso, porém existe este entrave. Não apenas ele é importante, mas também outras obras para deixar a população mais segura”, ressaltou Giovani. A licitação do dique, que em tese deve proteger Eldorado do Sul de novas inundações, está suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), devido a uma necessidade de atualização da forma de contratação, algo contestado pelo governo do Estado.

Correio do Povo

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