Estudos mostram que rios como Guaíba, Jacuí e Taquari não apresentam bloqueios ou elevações significativas que impactem na vazão do sistema
A partir de avaliações do comportamento da cheia de junho de 2025 no Guaíba e no delta do Jacuí, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em colaboração com o Programa de Gestão Ambiental Portuária do Porto de Porto Alegre (PGA POA), consideram que não há evidências de que um assoreamento generalizado no Guaíba ou em rios como o Jacuí e o Taquari tenha provocado elevação adicional nos níveis de cheia.
Em nota técnica divulgada nesta quinta-feira, 3, os cientistas afirmam que não foi detectada alteração significativa na resposta do Guaíba às chuvas nos últimos anos.
“Os perfis batimétricos analisados corroboram essa avaliação, mostrando que as variações observadas no leito são compatíveis com processos naturais de erosão e deposição associados a eventos extremos, sem indicar bloqueios ou elevações relevantes que impactem significativamente a vazão do sistema. Em muitos locais do canal de escoamento, como destacado, foi observada inclusive erosão. É sempre preciso considerar os custos de execução e de oportunidade, além da eficácia e eficiência, das dragagens e outras possibilidades de enfrentamento das cheias.”, diz trecho do documento.
Vazão de água
Os níveis de água registrados no Guaíba durante esses eventos foram compatíveis com os volumes de precipitação, com pequenas variações devido à distribuição espacial e temporal das chuvas e ao efeito dos ventos.
Embora a vazão em 2025 (12.941 m³/s) tenha sido muito menor que o recorde de 2024 (35.736 m³/s), ela ainda representou uma vazão de 6 a 12 vezes maior que o habitual (1.000 a 2.000 m³/s), evidenciando a grande quantidade de água que passou pelo sistema.
Como funcionam os estudos
As chuvas que causaram as cheias de setembro de 2023, novembro de 2023, abril-maio de 2024 e junho de 2025 no Rio Grande do Sul foram analisadas com base nos registros de mais de 200 postos de medição da Rede Hidrometeorológica Nacional, coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA),
Batimetria: alterações no leito do rio
Para entender melhor a circulação da água e os impactos das cheias no leito do rio, foram realizados levantamentos batimétricos (medições de profundidade e forma do fundo) na área portuária de Porto Alegre e nos canais ao redor do Delta do Jacuí. Esses levantamentos aconteceram em 26 de dezembro de 2024.
Os dados obtidos em campo foram comparados com a base anterior utilizada nas cartas náuticas (Navionics), permitindo identificar mudanças na forma do fundo ao longo de três perfis batimétricos.
Estudos futuros e importância dos resultados
Os pesquisadores destacam a importância de estudos complementares que contribuam para responder de forma definitiva a questões específicas relacionadas a possíveis impactados detalhados de erosão e assoreamentos ou intervenções no leito.
Devem ser realizados mapeamentos periódicos e mais abrangentes de batimetria, estudos hidráulicos e hidrossedimentológicos. Além disso, é importante ter acesso ao resultado de levantamentos batimétricos anteriores, feitos por órgãos estaduais e federais, para uma avaliação mais completa das mudanças no leito.
Esses esforços técnicos e científicos são essenciais para fortalecer o planejamento, proteger a população e preservar as atividades econômicas e ambientais que dependem do Guaíba e de sua bacia hidrográfica.
Correio do Povo
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