Enquanto presidente do Uruguai, Pepe fez duas visitas ao Estado, e retornou outras vezes, inclusive para receber títulos de Doutor Honoris Causa
O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, que faleceu nesta terça-feira, aos 89 anos, em decorrência de um câncer, teve uma relação próxima com o vizinho Rio Grande do Sul. Durante seu mandato, ele esteve duas vezes no Estado, em 2011, participando de um encontro empresarial com lideranças gaúchas e uruguaias, e em 2014, em uma agenda que incluiu visita a uma cooperativa de catadores de Novo Hamburgo, ao então governador e seu amigo Tarso Genro, no Palácio Piratini, e encerrou com uma palestra na Universidade Federal do RS (Ufrgs).
O ex-guerrilheiro participou da conferência de abertura do Seminário Internacional Universidade, Sociedade, Estado, e falou, de forma informal e afetiva, sobre paz, liberdade, solidariedade e felicidade. Ele criticou a cultura consumista e a civilização do desperdício, defendendo o respeito à vida.
“Defender minha liberdade é ter tempo, é viver a serviço do meu sonho”, disse.
Tempo para a liberdade
Convidado a deixar uma mensagem no Livro Ouro da Ufrgs, Mujica escreveu: “Meu coração de camponês se regozija olhando a grande ‘semeadura’ desta casa”. A relação com universidade gaúchas rendeu outra visita ao Estado. Em 2017, o uruguaio foi a Santana do Livramento, na Fronteira, receber o primeiro título de Doutor Honoris Causa concedido pela Unipampa. A concessão da honraria levou em consideração sua representatividade como cidadão latino-americano. Em seu discurso de agradecimento, ele defendeu a democratização do ensino superior, a responsabilidade solidária de universitários com a sociedade e uma “cultura que garanta tempo para a liberdade”.
“Nada vale mais que a vida, é um milagre estar vivo. Por tanto temos que festejar estarmos vivos, lutar pela vida, por questões materiais, pois para comer há que trabalhar. Mas a vida humana é mais que trabalhar e esta é a contradição do nosso tempo. A gente se vê obrigado pelo seu íntimo interior a viver no consumismo e não sobra tempo para de fato viver. A vida humana significa ter tempo livre para os afetos, então, que se tenha tempo livre.”
Em homenagem a seu doutor, a Unipampa inaugurou em 2022 uma estátua de Mujica, no Campus Bagé. Feita em bronze, a obra representa a figura do ex-presidente em pé com uma garrafa térmica e uma cuia de chimarrão.
Já em 2023, o uruguaio foi agraciado com outro título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Porém, a entrega do diploma só ocorreria no ano seguinte, em Rivera, cidade uruguaia vizinha de Santana do Livramento, a pedido de Mujica. Seu discurso de agradecimento versou sobre a natureza humana, a luta pela sobrevivência, organização social e o egoísmo que, segundo ele, impede que as civilizações se unam por um bem comum. “Sigo confiando nos homens, apesar de que todos os dias eles me deconcertam.”
Manifestações de pesar
Unimpampa e UFPel lamentaram a morte de seu Doutor Honoris Causa. “Pepe Mujica será sempre lembrado não apenas como um líder visionário, mas como um exemplo de simplicidade, coerência e compromisso com o bem comum e com a educação. Sua mensagem de ética, respeito à diversidade e responsabilidade com o planeta ecoará nas futuras gerações”, diz a nota da Unipampa. A UFPel se solidarizou “com o povo uruguaio, com os familiares, amigos e com todos aqueles que foram tocados pelo exemplo e pela história de Pepe Mujica”.
Políticos gaúchos também lamentaram a morte do uruguaio. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se manifestou nas redes sociais, saudando a simplicidade do ex-presidente, que “nunca precisou de pompa para ser grande”. “Governou com espírito de conciliação. Em tempos de extremos, foi ponte. O Rio Grande do Sul se despede com respeito de um vizinho que fez da política um gesto de humanidade”, escreveu.
O ex-governador gaúcho Tarso Genro se despediu do amigo, com uma foto e um texto de despedida publicados em rede social. “Lá se foi o nosso amigo. Digno, inteligente, revolucionário e profundamente democrático. A ditadura civico-militar uruguaia enterrou-lhe numa ‘cova’ prisional por 12 anos, de onde ele saiu mais forte e mais lúcido”, apontou.
Correio do Povo
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