Segundo o bloco de oposição ao governo Melo na Câmara de Porto Alegre, uma concessão faria aumentar o valor da tarifa: “quem vai pagar a conta será o cidadão”
"Será um trabalho fácil para o líder do governo", brincou Idenir Cecchin (MDB), líder do governo Sebastião Melo (MDB) na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, dando tapinhas amigáveis nas costas do prefeito, após o protocolo do projeto de concessão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). Ao que apontou a reunião (e discursos de aliados), a matéria tem coesão dentro da base aliada.
Vera Armando (PP) também entende que “o projeto é fundamental para o cidadão porto-alegrense” e reafirmou o seu compromisso com o governo: “sempre fomos base”. José Freitas (Republicanos), por sua vez, admitiu a preocupação da bancada com as tarifas e os servidores da autarquia, porém se disse tranquilo com os termos apresentados pelo projeto: “Algumas dúvidas vamos tirando pelo caminho.”
Notou-se, porém, que os vereadores do Novo não se juntaram à mesa com os demais governistas. Questionado a respeito, Ramiro Rosário (Novo) pacificou: "apenas me atrasei para a sessão". Em sequência, o parlamentar manifestou seu apoio e satisfação para com o projeto protocolado.
Oposição promete reação
Na oposição, o clima é diferente. "De início, a tarifa de água vai aumentar 34%", afirmou Jonas Reis (PT), líder do bloco. O petista se refere aos impostos que a autarquia – por ser pública – é isenta e, em virtude da mudança, começaria a pagar.
"No fim, quem vai pagar a conta do projeto será o cidadão”, continuou. O vereador fundamentou a sua argumentação em municípios que passaram por experiências semelhantes (Berlim, Atlanta, Paris). “Todas as tentativas de privatizar o saneamento deram errado, pois privilegiaram o lucro dos acionistas. Resultado: foram reestatizadas”.
Pedro Ruas, líder do PSol na Câmara, seguiu uma linha semelhante. “É da natureza do setor privado buscar o lucro”. Segundo ele, o prefeito não pode garantir a manutenção das taxas populares em virtude da lógica pela qual o mercado opera.
“A bancada do PCdoB defende que a população seja ouvida e participe do processo de decisão”, disse Giovani Culau, líder do PCdoB na Casa. Para o parlamentar, o projeto, antes de tudo, deveria passar por um plebiscito popular. “Porque é ela (população) que sente na pele as consequências da privatização”, justificou.
Já Edson Zomar, membro da diretoria do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), afirma que o debate em torno da concessão é fruto de uma precarização proposital do Dmae. O sindicalista entende que a aparente ineficiência da autarquia faz parte de um projeto político. “Por que o Dmae não consegue fazer? Porque faltam servidores, equipamentos e uma gestão comprometida”, afirmou.
Reação
Paralelamente, o bloco opositor decidiu dar uma resposta à Prefeitura. Durante a sessão plenária desta quarta-feira, foi divulgada a data de instalação da CPI do Dmae: 5 de junho.
A iniciativa foi protocolada no dia 2 de abril e pretende investigar as acusações de corrupção, omissão e sucateamento do Dmae. Os doze integrantes do grupo já foram designados por seus respectivos partidos e aguardam o início das atividades.
Natasha Ferreira (PT) – a proponente da comissão – ressaltou as críticas colocadas pelos demais colegas. "O projeto prevê a concessão da parte do Dmae que dá lucro."
Para além da questão ideológica, a vereadora contestou a forma como o protesto tem sido conduzido internamente. "O prefeito apresentou o projeto à portas fechadas. Não fomos convidados", revelou. Para Natasha, a proposta deveria ter sido explicada em plenário, com a presença de Melo para sanar eventuais dúvidas.
Correio do Povo


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