Encontro permitiu o esboço de uma dinâmica que deverá se manter no domingo em reuniões bilaterais
Representantes de dezenas de países se reuniram na Arábia SauditaRepresentantes de dezenas de países se reuniram neste sábado (5) na Arábia Saudita para buscar saídas diplomáticas para a guerra entre Rússia e Ucrânia, uma iniciativa que demonstrou o ímpeto diplomático do reino, ainda que o encontro não tenha obtido avanços imediatos.
A reunião, na cidade portuária de Jidá, sobre o mar Vermelho, contou com a presença de quase 40 delegações, entre elas a da Ucrânia, mas não da Rússia, que não foi convidada, segundo diplomatas conhecedores dos preparativos.
Apesar de não ter simbolizado avanços concretos, a reunião permitiu o esboço de uma dinâmica que deverá se manter no domingo em reuniões bilaterais, apontaram os participantes.
A reunião também gerou expectativas pela presença dos quatro parceiros da Rússia no Brics (Brasil, Índia, China e África do Sul), que não tomaram partido da Ucrânia ainda que também não apoiem a invasão russa.
Celso Amorim, assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, destacou que "qualquer negociação real" deveria "incluir todas as partes".
"Ainda que a Ucrânia seja a maior vítima, se realmente queremos a paz temos que envolver Moscou de alguma forma neste processo", insistiu, segundo uma cópia de sua declaração enviada à AFP.
A Ucrânia previa tensões entre os participantes.
"Penso que a conversa não será fácil, mas a verdade está do nosso lado", disse na sexta-feira Andrii Yermak, chefe de gabinete da presidência da Ucrânia.
"Nossa tarefa é unir todos ao redor da Ucrânia", acrescentou.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022. O país fracassou na tentativa de tomar Kiev, a capital, mas assumiu o controle de amplas regiões do leste. As tropas ucranianas lançaram uma contraofensiva em junho, com equipamento militar e apoio financeiro das potências ocidentais.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou durante a semana que os debates de Jidá seriam dominados por seu plano de paz de 10 pontos, que inclui a retirada total das tropas russas do território da ex-república soviética.
Também exige a restituição à Ucrânia da península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
A Rússia afirma desde o início da guerra que qualquer negociação deve levar em consideração as "novas realidades territoriais".
O momento dos Brics?
Vários países já haviam celebrado em junho em Copenhague um encontro informal sobre a guerra na Ucrânia.
Fontes diplomáticas afirmaram que a Ucrânia tem expectativas sobre o papel que outros países podiam desempenhar, em particular os quatro sócios da Rússia no grupo Brics.
E de fato, esses quatro países enviaram delegações à cúpula.
A da China era liderada pelo enviado especial de Pequim para a Eurásia, Li Hui.
A delegação americana, por sua vez, estava sob o comando do secretário de Segurança Nacional, Jake Sullivan.
Zelensky celebrou na sexta-feira a participação nas negociações de países em desenvolvimento, muito afetados pelo aumento dos preços dos alimentos provocado pela guerra.
Equilíbrio saudita
A Arábia Saudita, que como maior exportador de petróleo do mundo trabalha em estreita colaboração com a Rússia na política de combustíveis, mantém contatos com os dois lados e se apresenta como possível mediador.
"Ao receber esta cúpula, a Arábia Saudita quer reforçar sua ambição de virar uma potência intermediária, capaz de mediar conflitos", disse Joost Hiltermann, diretor para o Oriente Médio da ONG International Crisis Group.
Riad "quer se ver ao lado da Índia ou do Brasil, porque somente como um grupo estas potências intermediárias podem aspirar ter um impacto", acrescentou.
AFP e Correio do Povo
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