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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Dólar fecha em R$ 5,62 em terceiro dia consecutivo de alta

 Ibovespa acompanha aversão ao risco no exterior e opera em queda


Após subir nos negócios da manhã desta quinta-feira, quando encostou em R$ 5,65, o dólar operou com oscilações discretas boa parte da tarde, se firmando em alta perto do fechamento. A falta de definições sobre temas monitorados de perto pelo mercado internacional - o pacote de estímulos americanos, o acordo do pós-Brexit entre Reino Unido e União Europeia e se haverá mais medidas de restrição na Europa - deixou os investidores na defensiva, procurando refúgio na moeda americana, que subiu ante divisas fortes, de emergentes e exportadores de commodities. No mercado doméstico, investidores seguiram monitorando a questão fiscal e a volta da discussão de um imposto sobre transações financeiras ajudou a pressionar o câmbio.

No fechamento, o dólar à vista terminou com alta de 0,46%, cotado em R$ 5,6245. Foi o terceiro dia seguido de avanço. No mercado futuro, o dólar para novembro subia 0,60%, cotado em R$ 5,6290 às 17h.

A expectativa é que no curto prazo haja "volatilidade e incerteza", até que o cenário esteja mais claro, no mercado doméstico e no exterior, avalia o estrategista-chefe da TAG Investimentos, Dan Kawa. Nas próximas semanas, o quadro pode melhorar, com as eleições para presidente dos EUA chegando ao final, uma decisão sobre que caminho irá tomar o fiscal no Brasil e como irá se desenvolver a pandemia e uma potencial vacina, destaca Kawa.

Na questão fiscal, persiste a incerteza sobre como o governo vai arcar com mais gastos. Ontem, o ministro da Economia Paulo Guedes voltou a falar em um imposto sobre transações financeiras, mas na tarde de hoje negou esta possibilidade.

O economista da Advanced Corretora de Câmbio, Alessandro Faganello, observa que, no mercado doméstico, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) veio bem, sobretudo com revisões para cima nos dados de junho e julho, mas o noticiário foi novamente ofuscado pelo exterior negativo. Faganello destaca que o clima chegou a melhorar um pouco após o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, garantir que o governo não vai desistir das negociações de um pacote de estímulos, apesar de reconhecer que será difícil antes da eleição. O temor com os casos de coronavírus nos países europeus também teve peso decisivo para a fuga de ativos de risco. "Na europa, seguem preocupações com a onda de novas infecções do coronavírus e seus reflexos na demanda e no crescimento."

O economista sênior para a zona do euro do grupo financeiro holandês ING, Bert Colijn, afirma em áudio a clientes que as medidas adicionais de distanciamento social adotadas por países europeus devem fazer a retomada da atividade, que já vem se enfraquecendo, perder fôlego no quarto trimestre. "Vão ter impacto adicional negativo nas perspectivas de recuperação da região", disse ele, destacando que os governos têm mostrado certa relutância em adotar medidas radicais, mas vêm adotando restrições. O risco é que estas restrições coloquem a zona do euro em nova recessão.

Ibovespa

A aversão ao risco no mercado internacional afeta fortemente as bolsas de valores na manhã desta quinta-feira e o que se vê são quedas expressivas na Europa, Estados Unidos e também no Brasil. Por aqui, o Índice Bovespa opera com queda em torno de 1% nesta primeira hora de negociação, depois de dois pregões consecutivos de alta, mesmo com o cenário internacional já deteriorado.

Os mercados seguem refletindo temores relacionados ao repique dos casos de Covid-19 na Europa, o fim do prazo para um acordo no Brexit e o impasse em torno do pacote estímulos nos Estados Unidos. Por aqui, o clima é de compasso de espera por definições na esfera fiscal e por notícias no cenário político.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro buscou capitalizar para seu governo a ação da Polícia Federal que encontrou dinheiro na residência e na cueca do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), vice-líder do governo no Senado. "A investigação de ontem é um exemplo típico de que no meu governo não há corrupção", afirmou o presidente, acrescentando que a operação da PF é razão de orgulho para seu governo. Enquanto isso, pesquisa XP Ipespe mostrou estabilidade na aprovação de Bolsonaro, em 39%.

Às 10h40 desta quinta, o Índice Bovespa tinha queda de 1,09%, aos 98.254,94 pontos, puxado principalmente pelas ações da Petrobras, que recuam mais de 2%, acompanhando as perdas do petróleo no exterior, superiores a 3%. Em Nova Iorque, as bolsas começam o dia com perdas também superiores a 1%. Além das questões envolvendo a Covid-19 e o impasse no pacote de estímulos fiscais, o mercado americano repercute negativamente os dados semanais de novos pedidos de auxílio-desemprego, que subiram a 898 mil na semana encerrada em 10 de outubro. O resultado frustrou as previsões de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam queda a 830 mil pedidos.

Taxas de juros

O mercado de juros devolveu hoje praticamente toda a queda acumulada desde a última quinta-feira, com as taxas percorrendo a sessão em alta. O dia já começou mal com a forte aversão ao risco no exterior e a pressão cresceu após o anúncio da oferta do Tesouro para o leilão no meio da manhã, com lote grande na LTN mais longa e oferta turbinada em LFT após a mudança no cronograma anunciada pela instituição na sexta-feira. Tal combinação acabou por puxar uma realização de lucros, uma vez que a falta de definição no cenário fiscal permanece como pano de fundo negativo para os ativos de renda fixa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 4,555% ontem para 4,69%, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 7,53%, de 7,364% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2022 subiu de 3,194% para 3,31%. O DI para janeiro de 2024 terminou com taxa de 5,83%, de 5,67%.

Diferentemente do padrão, as taxas continuaram avançando mesmo passado o leilão do Tesouro, que, em termos de risco (DV01) nos papéis prefixados, cerca de R$ 4 milhões, foi maior do que o da semana passada, cerca de R$ 3,5 milhões, embora as quantidades tenham sido menores. A oferta de LTN foi de 28,5 milhões, com venda de 28,090 milhões, ante 31,5 milhões na operação anterior, e a de NTN-F caiu de 1,5 milhão para 300 mil, com venda de 280.850. Num ambiente permeado pelo mau humor nos mercados internacionais, o Tesouro continuou pagando prêmios elevados, mas as taxas ao menos saíram pouco abaixo do consenso.

O leilão de LFT foi considerado frustrante. O Tesouro catapultou a oferta de até 100 mil na semana passada para até 1 milhão hoje, talvez apostando numa maior demanda após ter encurtado ainda mais a LTN curta, ofertando 1/3/2022 em vez da 1/3/2023. Na prática, a venda foi de pouco mais de 380 mil papéis.

Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, diz que o mercado de juros "está difícil". "Apesar de ter cedido bem nos últimos dias, há pouco apetite para ficar vendido em pré", afirmou. Na sua avaliação, alguns players que esperavam alta da Selic só em 2022 podem já estar antecipando em suas posições o risco de aperto no ano que vem, quando a atividade já deve estar em melhor forma, ou mesmo pelo aumento do risco fiscal.

Na avaliação da XP Investimentos, caso a perspectiva fiscal se deteriore significativamente, o Copom pode optar por a elevar a Selic mais cedo. A projeção é de que, dada a sinalização do Copom e a hipótese de manutenção do teto de gastos para 2021, a taxa permanecerá em 2,00% até o segundo semestre de 2021 e subirá, gradualmente, até 3,00% no final do ano. A empresa pondera que, na hipótese de alguma deterioração fiscal que gere uma depreciação 10% no câmbio frente ao seu cenário base, a "nossa estimativa de regra de Taylor aponta para uma Selic em 3,50% no final de 2021, com o Copom iniciando o ciclo de alta já no primeiro semestre".


Agência Estado e Correio do Povo

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