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terça-feira, 19 de maio de 2020

Programas de transplante sofrem dificuldades em meio à pandemia

Atualmente, 45.636 pessoas estão na lista de espera para transplantes no País

Pacientes também demonstram receio de se submeter a um procedimento cirúrgico nesse período

Pacientes também demonstram receio de se submeter a um procedimento cirúrgico nesse período | Foto: Divulgação / CP

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Manter os programas de transplante ativos em vigência de pandemia viral tem sido extremamente desafiador aos países. Conforme o Ministério da Saúde, no mundo inteiro e no Brasil tem sido observada uma queda nas doações e nos transplantes. Atualmente, 45.636 pessoas estão na lista de espera para transplantes no País. Em março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a Covid-19 como uma pandemia, foi possível observar uma queda significativa no número de transplantes no Brasil.
Em março, os transplantes de rim, por exemplo, foram 510 em 2019 e, este ano, foram 477, ou seja, 33 a menos. No caso dos transplantes de coração, o número passou de 37 para 25. De acordo com o Ministério da Saúde, tem sido possível observar a postergação dos transplantes de pacientes mais estáveis, que toleram aguardar a melhora da situação de pandemia.
Além disso, os serviços de saúde também têm considerado o receio do paciente em se submeter a procedimento cirúrgico nesse período, além da cautela das equipes na avaliação de risco e benefício para cada paciente, principalmente pelos riscos de contaminação do paciente e equipe, o que pode levar a desfecho desfavorável pela condição clínica do paciente e internação hospitalar. O Ministério da Saúde destaca que deve ser observado que o sistema imunológico do paciente é bloqueado pelas medicações necessárias no transplante, impedindo que o corpo combata ativamente e eficazmente uma possível infecção. Outras condições desfavoráveis são as visitas frequentes a unidade hospitalar necessária em pós transplante imediato.
O Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiram nota técnica direcionada aos estados e municípios, em que consta a recomendação de não realizar transplantes de falecidos com a Covid-19. No caso dos transplantes de órgãos sólidos, a nota traz recomendações de procedimentos para dar segurança ao procedimento, neste período de pandemia com atenção aos riscos, desde a triagem de doadores e receptores, uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI), ao acompanhamento do paciente transplantado e principalmente a medicação imunossupressora a ser usada.
O Ministério da Saúde reforça que está trabalhando com ações focadas na segurança dos profissionais e dos pacientes, como aumento na disponibilidade de exames de diagnóstico rápido para possibilitar maior segurança às doações e transplantes e disponibilização de formulário online para a notificação de doadores e ou receptores com Covid-19. As pessoas que contraíram a doença e tenham necessidade de um transplante deverão entrar na lista para transplantes, após avaliação médica.
Segundo o Ministério da Saúde, é importante lembrar que para ser elegível a uma doação o paciente deve preencher uma série de requisitos (marcadores de saúde positivos) para ser colocado na lista de espera por um transplante. No Rio Grande do Sul, a Central de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde (SES), informou que segue as normas e cuidados preconizados pelo sistema Nacional de Transplantes. "Nesta época de pandemia os cuidados estão redobrados com os doadores. É realizado um histórico clínico e epidemiológico do doador com morte encefálica para avaliar a existência de sintomas relacionados à Covid-19 e também são realizados testes que assegurem se são doadores seguros".
De janeiro a abril deste ano a Central de Transplantes da SES no Estado não registrou alterações significativas no número de notificações de doadores com morte encefálica: foram 51 notificações em janeiro, 43 em fevereiro, 47 em março e 54 em abril. O número de doadores efetivos no RS, conforme a Central, também não apresentou alterações significativas: 23 em janeiro, 16 em fevereiro, 19 em março e 18 doadores efetivos em abril.
A lista de espera continua similar ao ano passado. Atualmente, segundo a Central, entre os receptores em lista de espera, estão: 15 pessoas aguardam coração; 162 fígado; 80 pulmão; 1.104 rins e 97 córneas. "A Central de Transplante do Estado não parou. Tem utilizado como pré-requisito a realização do teste PCR para Covid-19 para garantir segurança no processo de doação", reiterou a SES.
De acordo com a médica e coordenadora da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, Sandra Coccaro, há uma variação no número de doadores e de transplantes, mas o RS está mantendo uma média. “Temos que ser muito rigorosos na triagem dos doadores, existe uma estimativa de que no RS possa aumentar o número de pessoas com a Covid-19, claro que sabemos que isso vai repercutir de certa forma nos nossos doadores”, explica.
No ano passado foram 52 transplantes de rim em março e 30 em abril, este ano, foram 45 e 26, respectivamente. Já com relação aos transplantes de fígado, ano passado foram 15 em março e 7 em abril, este ano foram 16 em março e 10 em abril.
Conforme Sandra, todos os doadores são testados antes de se fazer a doação do órgão, seguindo a nota técnica do Ministério da Saúde e da Anvisa. “Agora além de analisarmos a história epidemiológica, temos que fazer o teste PCR”, reitera. Entre os doadores testados para a Covid-19 no Estado, havia oito casos suspeitos, que não tiveram confirmação e apenas um diagnóstico positivo.
Algumas dificuldades, no entanto, podem ser enfrentadas pela Central. Quando um possível doador é de Passo Fundo, por exemplo, a situação pode ser mais complicada por conta do tempo para efetuar o teste e também para que o resultado seja conhecido. “Fica muito difícil preencher um protocolo de no mínimo 48h fazendo todos os testes necessários colhendo o PCR na primeira parte do teste e trazendo para de Passo Fundo até Porto Alegre, sendo que leva de 12h a 48h para fazer o exame, às vezes fica inviável. Isso são coisas que realmente colaboram para diminuir o número de transplantes”, destaca.
Sandra enfatiza que o Rio Grande do Sul está em uma situação diferente de alguns outros estados, porque ainda temos uma população livre da doença. “Estamos trabalhando de uma forma muito tranquila, segura, isso é o mais importante, estamos conseguindo fazer os testes para validar os doadores e os nossos médicos têm bastante contato com as equipes transplantadoras, fazemos a doação do órgão e temos um feedback de como foi transplantado e se ocorreu bem, nós estamos trabalhando bem e nos comunicamos muito”, declara.



Correio do Povo

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