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quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Ibovespa fecha o pregão em queda e dólar sobe 0,57%

Com mal-estar causado pela declaração de Alcolumbre, moeda americana fechou o dia a R$ 4,16

Com tensões políticas, Ibovespa fechou abaixo dos 107 mil pontos

Com tensões políticas, Ibovespa fechou abaixo dos 107 mil pontos | Foto: Marcos Santos / USP Imagens / Divulgação / CP

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As tensões políticas internas e na América Latina deixaram os investidores ressabiados na sessão de negócios desta terça-feira do mercado acionário brasileiro e resultaram em disparada nas ordens de venda dos ativos em carteiras. O Ibovespa encerrou o dia em baixa de 1,49%, aos 106.751,11 pontos, voltando próximo ao fechamento de 24 de outubro.

"De uma hora para outra apareceram muitas nuvens e as pessoas correram para baixo da marquise. Mas acho que é só chuva, não é um tsunami", afirmou Alexandre Espirito Santo, economista da Órama. Na avaliação de Espirito Santo, esse humor mais azedo dos investidores reflete um pouco a situação atual na América Latina, com os movimentos políticos no Chile - onde o dólar chegou a superar a marca de 800,10 pesos chilenos, recorde histórico, em dia de greve geral no país e em meio a avanços nas discussões sobre uma nova Constituição - e na Bolívia. "Não são questões para dar de ombros", ressalta.

Internamente, o rearranjo partidário do presidente Jair Bolsonaro, que anunciou sua saída do PSL para a criação da Aliança pelo Brasil, é um elemento que traz incerteza a partir da leitura de que poderá haver uma remodelação de forças no Congresso Nacional. Muito embora o presidente nacional do partido, Luciano Bivar (SP), que ocupa a segunda vice-presidência da Câmara, tenha declarado que o partido não vai barrar projetos do governo.

A sessão também foi marcada por uma realização natural após ter prevalecido nas últimas semanas renovação de máximas históricas que levaram o Ibovespa acima dos 109 mil pontos, e que resultou no pregão desta terça-feira em uma correção mais significativa, na avaliação de um analista do mercado.

O dia começou positivo especialmente na Europa, com a melhora do índice de confiança da Alemanha e a expectativa de que o presidente americano Donald Trump anunciasse adiamento de sobretaxas sobre as montadoras do continente, o que acabou não se confirmando. Em Nova York, o dia foi de leves variações, fraco de novidades, proporcionando menos impulso do que parecia antecipar o mercado.

Dólar

O dólar voltou a subir, após a trégua de segunda, e chegou a superar os R$ 4,18 ao longo dos negócios, batendo nos níveis mais altos desde 25 de setembro. A alta generalizada da moeda americana no mercado internacional contribuiu para a pressão, em dia de preocupações dos investidores com o Chile, em terça-feira marcada por greve geral no país. No Brasil, as mesas de câmbio monitoraram ainda os eventos em Brasília e causou mal-estar a declaração do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), sobre a possibilidade de realizar nova Assembleia Constituinte. O dólar à vista fechou em alta de 0,57%, a R$ 4,1665.

O dólar chegou a subir 5% no Chile pela manhã, batendo máximas históricas em Santiago. No período da tarde, o ritmo de valorização diminuiu para a casa dos 2,5%, mas o peso chileno seguiu no posto de moeda com pior desempenho ante a divisa dos EUA em uma cesta de 34 moedas internacionais. Incertezas sobre uma nova constituição no país e uma greve geral acabaram contaminando os ativos brasileiros e outras moedas de emergentes, que perderam valor de forma generalizada ante a divisa dos EUA. Entre as maiores altas, o dólar subiu 2,1% na Colômbia e 1,1% no México.

Para o gestor da RB Investimentos, Daniel Linger, em um ambiente de maior risco, investidores usam o dólar para se proteger, por exemplo, de investimentos em outros ativos brasileiros, como a bolsa. Outro fator que pressiona o câmbio é que quando há piora da situação em um país vizinho, caso do Chile e Bolívia agora, o investidor se desfaz de ativos no Brasil, mercado mais líquido, para buscar caixa e tentar minimizar perdas. Esse movimento também acaba pressionando o câmbio.

Linger ressalta que além do aumento da incerteza política na América do Sul, questões domésticas também contribuem para o clima de maior cautela. Uma delas é se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá força para influenciar o ambiente político em Brasília. Para o gestor, a recente "ebulição de conflitos políticos na América Latina" aliada a incertezas internas acaba levando o investidor a buscar proteção na moeda americana.

Pesquisa do Bank of America Merrill Lynch com gestores de fundos de América Latina mostra que a maioria deles (73%) vê a moeda americana terminando o ano entre R$ 3,80 e R$ 4,00. Não há gestores prevendo o dólar abaixo de R$ 3,80 nem acima de R$ 4,20 no final de 2019.

Taxas de juros

O agravamento do quadro político na América do Sul penalizou os ativos da região e não poupou o mercado de renda fixa local. Os juros futuros subiram de forma generalizada, mas com mais força na ponta longa, que melhor reflete o humor dos investidores estrangeiros. Em meio à ainda indefinida situação política na Bolívia, o Chile espalhou cautela no segmento de moedas emergentes, em especial as latino-americanas, provocando inclinação da curva a termo. Internamente, os ruídos políticos também aumentaram, contribuindo para a postura defensiva dos investidores.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou com taxa de 4,57% tanto a sessão regular quanto a estendida, de 4,519% na segunda no ajuste. A do DI para janeiro de 2023 subiu de 5,581% para 5,70% (regular) e 5,71% (estendida). O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 6,35% (regular) e 6,34% (estendida), de 6,201%, e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 6,69% (regular) e 6,68% (estendida), de 6,541%.

A questão do Chile foi o principal "driver" do mercado e pautou os negócios durante o dia todo, com a tese do "contágio" para o Brasil ganhando força, por mais que a perspectiva de reformas possa diferenciar a economia local. As taxas já estavam em alta pela manhã, pressionadas pela desvalorização do câmbio em meio ainda a uma reação à Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que mostrou que o volume de serviços prestados em setembro (1,2%) ante agosto subiu acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (1,10%). Durante a tarde, porém, esse impacto se dissipou, até porque não houve mudança no quadro de apostas para a Selic.

"A pressão sobre a moeda do Chile acabou contaminando todo o resto", resumiu um gestor, explicando que como os ativos brasileiros têm maior liquidez, acabam sendo os principais alvos de liquidação em momentos de estresse. Pela manhã, a moeda americana atingiu patamar recorde de 800,10 pesos.

O Chile entrou no 26º dia de protestos contra o governo, com grande manifestação em Santiago e uma greve geral que paralisa as atividades na cidade costeira de Valparaíso e em outras partes do país. Os atos pedem reformas sociais e uma nova Constituição, enquanto agentes revisam para baixo projeções econômicas para o país.

Ainda que nesse contexto sul-americano o Brasil seja visto como o "caso mais leve" depois da soltura do ex-presidente Lula na sexta-feira, declarações como a do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), cogitando a possibilidade de debate sobre uma "nova Constituinte", não ajudam. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a fala de Alcolumbre é uma sinalização "ruim" e pode gerar "insegurança" jurídica no País.


Agência Estado e Correio do Povo

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