Aparelhos estavam programados e continham materiais explosivos inseridos junto à bateria
Ao menos 20 pessoas morreram e 450 ficaram feridas nesta quarta-feira (18) em explosões de walkie-talkies do Hezbollah no Líbano, aumentando o temor de uma guerra regional total, um dia após explosões de pagers pertencentes a membros do movimento islamita pró-Irã matarem 12 pessoas.
Em dois dias, essas explosões, atribuídas pelo Hezbollah a Israel, deixaram 32 mortos e mais de 3 mil feridos, segundo balanços oficiais libaneses. Uma fonte próxima do Hezbollah informou hoje que aparelhos de comunicação “explodiram no subúrbio ao sul de Beirute”, um dos seus redutos, enquanto veículos de comunicação estatais anunciaram explosões no sul e leste do país.
"A onda de explosões inimigas dirigidas contra walkie-talkies matou 20 pessoas e feriu mais de 450”, informou o Ministério da Saúde libanês. A AFPTV registrou imagens de pessoas correndo para se proteger, após uma explosão ocorrida durante o funeral de quatro militantes do Hezbollah mortos ontem na primeira onda de explosões de aparelhos de comunicação no subúrbio de Beirute.
Esse ataque, no qual centenas de pagers usados pelo Hezbollah explodiram, deixou 12 mortos e 2.800 feridos, centenas deles membros do grupo pró-iraniano, que prometeu um "castigo justo”. Segundo uma fonte da segurança libanesa, uma investigação preliminar apontou que os pagers “estavam programados para explodir e continham materiais explosivos inseridos junto à bateria”.
Os pagers são aparelhos de troca de mensagens e localização de pequeno porte, que não precisam de cartão SIM, nem conexão com a internet. No hospital Hôtel-Dieu de Beirute, a socorrista Joelle Khadra relatou que a maioria dos feridos apresentava ferimentos nos olhos e mãos, com amputações de dedos e alguns casos de perda de visão.
Deslocamento do conflito
Israel não fez qualquer comentários sobre estas explosões. A primeira ocorreu horas depois de Israel anunciar a extensão para sua fronteira com o Líbano dos objetivos da guerra que trava há mais de 11 meses com o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse hoje que "o centro de gravidade” do conflito “se desloca para o norte”, e que “uma nova fase” se inicia. O Hamas condenou “energicamente a agressão sionista contra o povo irmão libanês” e ressaltou que essas operações “ameaçam a segurança e estabilidade” da região.
O chanceler libanês, Abdallah Bou Habib, advertiu que "o ataque flagrante à soberania e segurança do Líbano pode ser o indício de uma guerra mais ampla”. Os Estados Unidos alertaram para uma “escalada” e vão se reunir amanhã em Paris com países europeus para discutir as negociações de trégua na Faixa de Gaza e a situação no Líbano, segundo fontes diplomáticas, antes de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU prevista para sexta-feira.
A Assembleia Geral da ONU pediu o fim da ocupação israelense dos territórios palestinos em um prazo de 12 meses, em uma resolução não vinculante denunciada por Israel.
Revés
Os ataques representaram um duro revés para o Hezbollah, já preocupado com a segurança de suas comunicações, após perder comandantes em ataques aéreos seletivos nos últimos meses. Segundo uma fonte próxima do grupo, esse foi "o maior golpe já desferido contra a formação” por Israel. O chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fará um pronunciamento público amanhã.
Desde o começo do conflito em Gaza, a fronteira com o Líbano tornou-se cenário de confrontos de artilharia quase diários entre o Exército israelense e o Hezbollah, o que causou o deslocamento de dezenas de milhares de civis em ambos os países.O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o ataque de terça-feira ocorreu em um "momento extremamente instável” e considerou “inaceitável” seu impacto na população civil.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, ressaltou que "objetos civis” não deveriam ser transformados em armas. O conflito em Gaza foi desencadeado pela incursão letal de comandos do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro, que provocou a morte de 1.205 pessoas, em sua maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Dos 251 sequestrados durante a incursão, 97 continuam retidos em Gaza, dos quais 33 foram declarados mortos pelo Exército israelense. Os bombardeios e operações terrestres israelenses destruíram o território palestino e causaram a morte de pelo menos 41.272 palestinos, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.
AFP e Correio do Povo
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