Durante a manhã, a luminosidade na serra gaúcha também ficou reduzida, devido a fumaça na atmosfera
Chuva em Porto AlegreO Rio Grande do Sul sofre há dias com a presença da fumaça em sua atmosfera como efeito das queimadas no Brasil e países vizinhos como Paraguai e Bolívia. No meio da tarde desta sexta-feira, o dia virou noite na Capital. Foram cerca de 10 minutos. Durante a manhã, a luminosidade na serra gaúcha também ficou reduzida, devido a fumaça na atmosfera.
Os dias acinzentados em Porto Alegre e a qualidade do ar no Estado foram destaques durante esta semana. O pior índice foi registrado na quarta-feira, com marcas que indicaram a qualidade do ar muito ruim com IQA (índice de qualidade do ar) acima de 160 pela alta presença de material particulado fino (MP 2,5) devido à fumaça. Na quinta-feira, a chuva fina em Porto Alegre reduziu levemente os índices de qualidade, mas na madrugada desta sexta-feira a qualidade do ar no Vale dos Sinos registrava índice de 151, o que gera risco para a população em geral, especialmente em grupos sensíveis.
A interação da fumaça das queimadas com a atmosfera pode gerar a chamada chuva preta. Sobre uma possível contaminação da água em Porto Alegre, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informa que o fenômeno não impacta na qualidade da água distribuída na cidade. Visto que antes de chegar às torneiras, o líquido passa por diversas etapas de tratamento e controle analítico, incluindo 2,4 mil análises diárias em 350 pontos da rede, que garantem segurança para o consumo.
Céu azul deve aparecer na próxima semana
A previsão da Metsul para o final de semana é que com o ingresso de uma massa de ar frio, o ar mais limpo de Sul vai ingressar. Ainda são esperadas nuvens, mas podem ocorrer aberturas de sol no Rio Grande do Sul. O tempo mais aberto é esperado para a próxima semana, com dias de sol e nuvens esparsas. Nevoeiro e neblina são prováveis no começo do dia em diferentes pontos.
Recorde de queimadas em agosto
O pesquisador do MapBiomas Eduardo Vélez destaca que recorde de queimadas observado entre 2019 e 2024, no mês de agosto no Rio Grande do Sul tem razões distintas do que o observado nas regiões sudeste, centro-oeste e norte do Brasil. “Trata-se de uma ingrata coincidência já que os dois eventos de queimadas recordes em agosto tiveram um efeito aditivo no acúmulo nocivo de fumaça que atingiu o Estado”.
Ele explica que o clima gaúcho não tem favorecido a ocorrência e propagação das queimadas e que de janeiro a julho, a área queimada foi muito pequena em todo o Estado quando comparado com anos anteriores. Mas observa que o alto índice em agosto ocorreu devido a prática anual das queimadas dos campos nativos na região dos Campos de Cima da Serra, principalmente como forma de estimular o rebrote da vegetação campestre no início da primavera e aumentar assim a oferta de pasto para o gado.
" Se olharmos no mapa, a maior parte dos 31.404 hectares de área queimada em agosto no RS ocorreram de modo muito concentrado em 5 municípios da região: São Francisco de Paula, Bom Jesus, São José dos Ausentes, Jaquirana e Cambará do Sul. Isso não é uma novidade, vem ocorrendo há décadas em maior ou menor extensão. Em 2019 e 2020, por exemplo, a área queimada no RS em agosto também superou os 30.000 hectares, e salvo períodos atípicos de seca, quando ocorre o fenômeno La Niña, agosto tem sido quase sempre o mês com maior área queimada”.
Vélez sublinha que o recorde no restante do Brasil, no mês de agosto, foi devido a combinação do clima excessivamente seco com ação deliberada de uso indiscriminado e criminoso do fogo. “O que constitui de fato um recorde atípico e sem precedentes no período monitorado desde 2019, com consequências desastrosas para o meio ambiente e a saúde humana”.
A secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, Marjorie Kauffmann observa que o Estado está sofrendo com a fumaça vindo de outros estados, provocados pelos incêndios descontrolados, e ressalta que o Rio Grande do Sul tem um sistema regular de monitoramento de fogo e que os focos são mapeados por satélites. “Nós não identificamos incêndios da magnitude que acontece no centro do país, com fogo descontrolado. Nós encontramos pequenos focos, alguns tem autorização para o uso de manejo agrícola. Nós não temos aqui o que acontece no resto do país”, afirma.
Estado vizinho
O Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina informou que em 2023, no período de 1º de agosto a 30 de setembro, foram registrados 592 ocorrências com incêndio em vegetação. Neste ano, no período de 1º de agosto de a 11 de setembro, 920 ocorrências de incêndio em vegetação já haviam sido registradas. De acordo com o CBMSC, os incêndios ocorrem em vastas extensões arborizadas ou áreas de cultivo agrícola, tipicamente situadas em regiões mais distantes dos centros urbanos, frequentemente envolvem plantações de eucalipto, pinus, e grandes plantações de culturas como soja e milho, além de grandes áreas de vegetação nativa.
Correio do Povo
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