quinta-feira, 30 de maio de 2024

PEC que “privatiza” praias é alvo de polêmica

 Sob relatoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), proposta quer transferir os terrenos que são da Marinha

Brasil tem uma das maiores costas litorâneas do mundo, com cerca de 7.500 km 

Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que poderia abrir um precedente para a privatização das praias brasileiras vem causando indignação de ambientalistas e cidadãos, orgulhosos do acesso livre a seu litoral.

O Brasil tem uma das maiores costas litorâneas do mundo, com cerca de 7.500 km. Por lei, as praias são terrenos de marinha e pertencem à União. Elas são, em grande parte, imaculadas, sem os condomínios e hotéis de grande porte de resorts à beira-mar comuns em outros países.

No entanto, a PEC que propõe transferir os terrenos de marinha sob responsabilidade da União vem avançando no Congresso, sob relatoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

A ideia consiste na transferência de propriedade dos terrenos de marinha para estados, municípios e ocupantes particulares, que os críticos dizem que poderia prejudicar os esforços de proteção ambiental e bloquear o acesso à praia.

Uma audiência pública realizada no Senado na segunda-feira (27) gerou uma onda de indignação nas redes sociais.

"Vamos PRESSIONAR OS SENADORES a votarem contra!", disse a atriz e ativista ambiental Laila Zaid em um vídeo no Instagram com quase um milhão se visualizações.

O caso chega no momento em que o país enfrenta enchentes históricas no Rio Grande do Sul, que especialistas atribuem às mudanças climáticas.

Letícia Camargo, coordenadora do Grupo de Trabalho para Uso e Conservação Marinha (GT-Mar) no Congresso, disse à AFP que a proposta pode "levar a uma maior ocupação dessas áreas de terreno de marinha, bem no momento em que as mudanças climáticas vão tornar as ressacas e a erosão costeira cada vez mais frequentes".

Ela acrescentou que a PEC também poderia "abrir uma possibilidade real de pressão de grandes, grandíssimos interesses imobiliários".

A proposta já passou pela Câmara, e a ativista assinalou que ela provavelmente seria aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde a oposição de direita tem maioria.

Depois, o projeto seguirá para votação em plenário do Senado.

Letícia Camargo, no entanto, acredita que a pressão da opinião pública poderia deter essa mudança.

Segundo informações que circularam na imprensa, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deve segurar a PEC e não vai pautá-la imediatamente para votação.

Flávio Bolsonaro, por sua vez, escreveu na rede social X que "falar em 'privatização das praias' é FAKE NEWS".

Daniel Capecchi, professor de direito constitucional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que, se a PEC for levada à votação, existe "probabilidade considerável" de que seja aprovada.

Contudo, ele apontou que, se estudos provarem que a mudança terá impactos ambientais severos, ela pode ser questionada na Justiça como uma "violação ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que representaria [...] violação de cláusula pétrea" da Constituição.

Para Letícia Camargo, a forte reação da opinião pública mostra que, "se você mexe com a cultura do brasileiro de maneira tão séria", como o acesso e o uso da praia, "você mexeu com um assunto sério, entendeu?".

AFP e Correio do Povo

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