Durante o Iluminismo, surgiu uma série de mitos sobre a Idade Média que tentou reduzir esse período à maior pestilência moral da história. Cintos de castidade, que nunca existiram; a queima de bruxas, feita por protestantes no século XVI; e outra série de mitos, como o direito da primeira noite, foram distorcidos para desacreditar a nobreza e a Igreja. A literatura e o cinema, mais interessados em satisfazer o imaginário popular do que na fidelidade histórica, perpetuaram essas imagens estereotipadas ao longo de um período que durou quase mil anos.
É um absurdo pensar que nossos ancestrais medievais não preservaram os antigos saberes botânicos, principalmente os relacionados à limpeza do corpo, pois é ridículo pensar que as mulheres, as principais responsáveis por esses hábitos domésticos, fossem incapazes de realizar essas tarefas.
Pessoas em contato direto com os ensinamentos do Cristianismo não negligenciaram algo tão básico. Pentear o cabelo e lavar os pés faziam parte do ritual litúrgico. Os mosteiros tinham salões de banho. Na Bíblia existem vários versículos onde se fala da limpeza corporal, visto que o corpo é um reflexo da alma. Durante as peregrinações, os banhos, além de tirar o pó da estrada, eram um sinal de purificação e renovação batismal. Outro exemplo interessante é encontrado nas regras dos Templários:
« Quem serve a Deus é necessário que seja limpo por dentro e por fora, pois assim diz o Senhor: sê limpo, porque eu sou. »
Talvez seja nossa superioridade tecnológica e nossas obsessões higiênicas que nos levem a crer que, sem torneira, chuveiro ou aspirador de pó, a vida de nossos ancestrais passava-se em sujeira.
-Os banhos (de origem romana, alguns dizem bizantina, que por sua vez imitavam os gregos):
Desde a Idade Média, os banhos serviam não apenas para lavar o corpo e receber esfoliantes, mas também para embelezar e, acima de tudo, por motivos de saúde (banhos medicinais e curativos). Nos tratados de medicina medievais se recomendava o banho, o que se fazia com regularidade, tanto nos banhos públicos, nos rios e em casa. Os banhos públicos também eram utilizados como atividade social: as pessoas conversavam, brincavam, faziam negócios. Se o tempo o permitisse, poderiam tomar banho (lazer) em rios, lagos, etc.
Sabe-se da existência de inúmeras "casas de banhos", sendo necessárias no mundo urbano, dando-lhe também prestígio. As cartas municipais indicam o uso habitual dessas instalações.
-Limpeza diária: O procedimento básico consistia lavar as partes mais suscetíveis a manchas: rosto, mãos, axilas, pés (e partes íntimas). Algo que deveria ser feito após o trabalho ou antes de ir para a cama para não manchar a cama.
Um trapo (pano) e o uso de detergente orgânico ou sabonete (sim, existia) bastariam para essa limpeza diária.
Os recipientes utilizados seriam: bacias e jarros, bacias, caldeirões, baldes, bacias (mesmo com pernas de ferro que os sustentavam, e mesmo algumas que mantinham a água quente e outras para água fria), banheiras de madeira de diversos tamanhos (algumas destas banheiras com um pano colocado como uma tenda).
Como não havia local específico para o banho nas residências, a banheira era colocada no quarto ou na cozinha (próximo ao fogo para poder esquentar a água com mais facilidade no inverno) e depois eram retiradas.
No século 12, lemos receitas para fazer sabão em barra . Serão as mulheres que transmitirão essas receitas por via oral, além de perfumes, pomadas e cosméticos. Cuidaram também de transmitir conhecimentos de higiene em geral, oral, capilar e depilação.
O texto é baseado em artigos da estudiosa espanhola de costumes medievais, Consuelo Sanz de Bremond Lloret.
Para saber mais:
María de las Nieves Fresneda González: Atuendo, aderezo, pócimas y ungüentos femeninos en la Corona de Castilla, (siglos XIII y XIV)
Gabriela Fernanda Canavese: Ética y estética de la civilidad barroca. Coacción exterior y gobierno de la imagen en la primera modernidad hispánica.
Penélope Stavrianopulu Boyatzi: los baños en bizancio: arquitectura, medicina y literatura.
Luís Lobera de Ávila: El vanquete de nobles cavalleros (1530).
Luis Lobera de Ávila: Régimen de la Salud (1551)
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