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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Destinatário errado

 Guilherme Baumhardt

“Ah, se arrependimento matasse...”. É o que deve passar neste momento na cabeça de alguns dos fiadores da campanha lulista ao Palácio do Planalto. Gente que escolheu o picolé errado (“ain, mas eu não gosto de limão”, como diz o meme) e que, agora, de um jeito ou de outro tenta consertar a besteira que ajudou a construir, emprestando reputação e credibilidade a um sujeito cujas ideias não valem um tostão furado.

Preocupados com os sinais emitidos por Lula, Pedro Malan, Edmar Bacha e Armínio Fraga resolveram escrever uma cartinha. Para que Lula abra os olhos, para que Lula entenda que responsabilidade fiscal é importante, para que Lula, quem sabe, mude de ideia sobre a PEC do Estouro (ou PEC Argentina, como vem sendo chamada), que prevê um rombo nas contas públicas, nos próximos anos. Em que mundo essa gente vive?!

Em linhas que beiram o “tatibitate”, como se estivessem tratando com bebês que balbuciam as primeiras sílabas e palavras, o trio de valentes tenta mostrar por A mais B que a irresponsabilidade defendida pelo petista e seus asseclas é ruim para o futuro do Brasil. É enxugar gelo, é perda de tempo e de saliva. Se os ilustres estão arrependidos, as baterias deveriam ser voltadas para outro endereço. O endereço da tal carta é o Congresso, para deputados e senadores. São eles que decidirão sobre a bomba. Ou seja, nem mesmo o destinatário o trio de ases conseguiu acertar.

Para nós que pagaremos a conta (caso ela seja aprovada), fica o lamento. É impressionante como o Brasil tem a capacidade de retroceder. Para cada passo dado para frente, a muito custo, conseguimos pouco tempo depois engatar uma marcha a ré e retroceder quilômetros. Um dos poucos avanços reais conquistados ao longo dos últimos anos foi o teto de gastos, que agora começa a ser desmanchado.

Enquanto parcela significativa da população, aquela que paga a conta e que não é beneficiada pela gastança desmedida, não entender que não existe almoço grátis, que dinheiro não dá em árvore, estamos fadados a cair no conto do populismo barato, de que o Estado é provedor, quando na verdade é quem mais nos saqueia, todos os dias. Em momentos assim lembro das palavras ditas inúmeras vezes por Ronald Reagan. “O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito”. Ou ainda: “Não espere que a solução dos seus problemas venha do Estado. O Estado é o problema”.

Bem-feito
Copa do Mundo! E a polêmica mais recente dá conta de que o Qatar não autorizou o que estava previsto em relação ao consumo de cerveja durante o mundial. Um dos principais patrocinadores do evento é, justamente, uma fabricante de cervejas. O país tem restrições a bebidas alcóolicas. O que eu acho? Bem-feito. Todos sabiam que o risco existia. Havia alternativa. A Austrália, uma nação muito mais livre do que o Qatar, era também candidata a sediar o evento e foi preterida.

Escolhas erradas
Problema semelhante enfrentou a Fórmula 1 ao longo dos últimos anos. Por priorizar a verba de países ricos, mas com zero tradição no esporte, as corridas começaram a perder audiência. Pilotos e carros disputavam o campeonato em pistas sem qualquer atrativo ou história e que substituíram “templos do automobilismo”. Resultado? A audiência caiu e o negócio começou a fazer água. Hoje a categoria (a mais importante do automobilismo mundial) é gerida por uma empresa norte-americana, que parece ter entendido os erros cometidos pelos antigos administradores.

Mais do...
A COP-27 encerra no Egito repetindo o que ocorre há anos em eventos do tipo – o Brasil viveu algo parecido com a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro. Em resumo: discutiu-se muito, debateu-se tudo e nada foi resolvido. Normal. Este tipo de encontro tem apenas uma finalidade: renovar a ameaça de uma espada de Dâmocles sobre a cabeça de países menos desenvolvidos. Nações ricas que temem a concorrência de produtos melhores e mais baratos vindos de concorrentes menos prósperos impõem a eles regras ambientais duras, sob risco de duras sanções econômicas.

... mesmo
Não há lógica alguma que sustente restrições ao Brasil, por exemplo. Mas somos obrigados todos os anos a dar explicações sobre a Amazônia (onde estão as florestas da Europa?), pedir desculpas por queimadas (como se elas só ocorressem aqui) e somos cobrados a reduzir emissões de carbono (nossa matriz energética está entre as mais limpas do mundo). Até hoje, por exemplo, esperamos o dinheiro que chegaria aos cofres brasileiros em função do Protocolo de Kyoto. Por aqui, a esquerda – sempre a vanguarda do atraso – bate palmas para quem impõe o atraso ao país.


Correio do Povo

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