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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Exportações de milho têm salto superior a 100%

 Efeitos de conflito no Leste Europeu, câmbio favorável e bons preços da commodity explicam maior procura pelo cereal brasileiro em julho

Patrícia Feiten (com Agência Estado)

A guerra entre Rússia e Ucrânia, o câmbio favorável para transações no exterior e as boas cotações do milho vêm turbinando a procura pelo produto brasileiro. Em julho, o Brasil exportou 4,124 milhões de toneladas de milho, mais do que o dobro do volume embarcado no mesmo mês de 2021, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. Fontes do Executivo confirmaram também a possibilidade de o Brasil embarcar o primeiro lote do grão para a China ainda neste ano. A certeza veio após reunião do governo com representantes do país asiático na última sexta-feira, na qual foram apresentados os protocolos sanitários dos embarques, para os quais já estão emitidas, inclusive, as licenças chinesas. As empresas brasileiras têm até o dia 19 para manifestar interesse na operação ao Ministério da Agricultura (Mapa), que concederá as habilitações.

O cenário para os próximos meses dependerá da demanda interna e do desempenho da safra norte-americana, que começa a ser colhida em setembro, avaliam consultores em agronegócio. O diretor da consultoria AgResource, Raphael Mandarino, atribui o salto de julho ao temor de que a Ucrânia, um dos maiores exportadores do cereal, não consiga honrar suas entregas. Desde o início da guerra, o país do Leste Europeu teve suas rotas de comércio bloqueadas pela Rússia. Na quarta-feira, após um acordo entre as duas nações, um navio com 26 mil toneladas de milho partiu do porto ucraniano de Odessa. A liberação ocorreu após acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) para aliviar uma possível crise global de fome. Mas ainda há dúvidas sobre a retomada dos embarques de grãos através do Mar Negro. “Temos um cenário geopolítico que está fazendo com que Europa e outros países já garantam esse milho do Brasil”, afirma Mandarino.

Para o consultor Paulo Molinari, da Safras & Mercado, o volume exportado em julho não é “excepcional”, pois reflete uma base de comparação fraca. Ele observa que, no ano passado, problemas climáticos impactaram a produção do milho segunda safra na região Centro-Sul, o que desencadeou uma onda de “washouts” (rompimento de contratos de exportação) para atender à demanda doméstica. “Não há escassez de mercado interno, estamos em plena colheita de uma safrinha recorde. O ritmo (atual) é bom, mas está impulsionado por um preço externo ainda forte e um câmbio ainda desvalorizado”, avalia Molinari.

Na Bolsa de Chicago, os contratos futuros de milho para entrega de setembro a dezembro vêm sendo fechados em torno de 6 dólares por bushel. Por outro lado, o retorno do dólar a patamares acima de R$ 5 torna os produtos brasileiros mais competitivos para os importadores. “Há demanda mundial para milho brasileiro. Os preços no Mar Negro já voltaram, para o trigo e o milho, aos níveis anteriores à guerra”, diz Molinari.

O analista da AgResource destaca que o clima desfavorável atrasou o plantio de milho nos EUA. A expectativa é que o relatório do Departamento de Agricultura do país (USDA, na sigla em inglês) a ser divulgado no próximo dia 12 reduza as estimativas de produção, apertando o quadro de oferta e demanda global. Baseado em dados de line-up (programação de chegada e partida de navios) nos portos brasileiros, Mandarino estima que as exportações continuem em alta. “Para agosto, já temos 5,514 milhões de toneladas a serem embarcadas”, afirma.

A maior demanda internacional, porém, não deve afetar o suprimento interno, acredita o analista da Safras & Mercado. “O Brasil importou no primeiro semestre, período mais crítico de abastecimento. Poderá exportar 37 milhões de toneladas no ano que ainda teremos 10 milhões em estoques para 2023”, avalia Molinari.


Agência Estado e Correio do Povo

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