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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Ministério das Relações Exteriores aponta alta de 16% no total de brasileiros no exterior entre 2018 e 2020; são mais de 4 milhões

 


O sonho de uma vida melhor no exterior – e fugir do Brasil, marcado por longa crise econômica, violência urbana e fases de descontrole da pandemia – atrai cada vez mais gente. Não são apenas trabalhadores mais simples, nem só a fuga de cérebros, dos que vão ocupar um emprego de ponta. São brasileiros de classe média, escolarizados, que cruzam a fronteira em busca de novas chances.

Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, houve alta de 16% no total de brasileiros no exterior entre 2018 e o ano passado: de 3,6 milhões para 4,2 milhões. Em uma década, o número aumentou 36%. Especialistas dizem ser difícil comparar o movimento dos últimos anos com períodos anteriores, mas veem aumento fora da curva.

“Esse movimento nos últimos anos é inédito e, de fato, representa a maior diáspora da história brasileira para os nossos padrões, um país que, historicamente, sempre recebeu imigrantes”, avalia Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Levantamento do Colégio Notarial do Brasil (CNB), que reúne os cartórios, indica alta de 67% nos apostilamentos no 2º semestre deste ano. Esse é o serviço de validação internacional de documentos pessoais, escolares e de dupla cidadania requeridos por quem vai morar fora. De junho a novembro, foram cerca de 912 mil apostilamentos, ante 544 mil no mesmo período de 2020.

Se analisar apenas as solicitações de visto para estudos ou abertura de processos de dupla cidadania, o salto é ainda maior: de 299,5 mil no 2º semestre do ano passado para 693 mil no mesmo período deste ano. Para Giselle Oliveira de Barros, presidente do CNB, os dados expõem essa saída de mão de obra mais qualificada.

Perfis

Consultora especializada em imigração, a advogada Isabel Nardon diz que a reabertura de fronteiras causada pelo avanço da vacinação (agora abalada com a variante ômicron, mais contagiosa) elevou a procura para Portugal. Segundo ela, o perfil dos que miram a residência lusa é de pessoas com poder aquisitivo: investidores e aposentados que têm como comprovar renda no Brasil, mas temem pelo futuro aqui.

A debandada aparece também no movimento de remessas financeiras. Só na corretora de câmbio B&T, que tem mais de 200 pontos e atua em mais de 180 países, dados apontam aumento da movimentação no exterior. Conforme registros da empresa até outubro, o volume de operações de transferências de moeda de Portugal para o Brasil, por exemplo, mais do que quadruplicou em 2021 ante o ano anterior.

Professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que estuda migrações, Ana Maria Carneiro vê dois perfis principais. “Se a pessoa vai trabalhar numa entidade, numa universidade, se é empreendedora ou exportadora e se faz parceria de pesquisa, com certeza estará com a situação regularizada”, diz.

“Por outro lado, pode ter gente qualificada, com graduação, que na literatura é considerada um talento, mas que estaria migrando de forma ilegal e vai atuar em profissões que não demandam a qualificação profissional que tem no Brasil.” Segundo ela, parte desse grupo ocupa até postos que não exigem qualificação formal, como os setores de limpeza, transporte ou de alimentos.

Fluxo

O médico Carlos Eduardo Siqueira, professor da Universidade de Massachusetts, de Boston, diz que há migração significativa, mas acredita que os dados do Itamaraty são superestimados. Nos Estados Unidos, pelos dados oficiais, há 1,7 milhão de brasileiros – 360 mil estão em Boston, atrás de Nova York (450 mil) e Miami (410 mil).

Siqueira, porém, estima que a comunidade brasileira em Boston não supere 100 mil. “A imigração brasileira para os EUA é contínua, mas não é constante.” Para ele, o Brasil viveu fase similar de desalento e migrações na gestão Fernando Collor (1990-1992).

Já para Guilherme Otero, do programa da Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas, os dados do Itamaraty podem estar subestimados. Ele diz que muita gente sai de forma irregular. Ou vai para o exterior para ficar seis meses regulares, como no caso dos EUA, mas não retorna. Além disso, destaca, há brasileiros com dupla cidadania que, quando migram, preferem o direito de usar o passaporte da outra nacionalidade.

Para Pedro Brites, da FGV, o dinheiro escasso está por trás do êxodo. “A questão econômica é o fator propulsor para qualquer tomada de decisão desse tipo, e o Brasil não atravessa um período exitoso há alguns anos. Isso efetivamente tira a perspectiva de oportunidades para boa parte da população.”

As sucessivas crises políticas – agravadas desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018 – também pesam. “Essa turbulência afasta parte da população de nosso País”, afirma Brites, que aponta a falta de segurança pública como outro acelerador de despedidas.

O Sul

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