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sábado, 21 de novembro de 2020

Morte no Carrefour repercute entre candidatos à prefeitura

 Desfecho da abordagem alavanca debate sobre racismo e violência na reta final da campanha


A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, na noite de quinta-feira, após ter sido espancado por seguranças no estacionamento do Carrefour no bairro Passo D’Areia, repercutiu quase que imediatamente nas campanhas dos dois candidatos que disputam a prefeitura de Porto Alegre. Manuela D’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB) foram informados sobre a morte por suas assessorias assim que saíram do debate no qual participavam, na TV Bandeirantes. E, durante o qual, abordaram o tema do racismo e se comprometeram a tratar a questão do combate a violência como uma prioridade da administração municipal.  

Manuela foi a primeira a se manifestar no twitter, logo após o término do debate, com duas postagens. “Estava no debate da Band e na saída soube do assassinato de um homem negro pela abordagem violenta dos seguranças do estacionamento do Carrefour. Sei que já há pedido de investigação sendo feito por parlamentares e pela bancada antirracista recém eleita. Mas as imagens dizem muito.”

Na sequência, a candidata seguiu: “O racismo que estrutura as relações de nossa sociedade precisa ser enfrentado de frente. As mulheres e homens brancos precisam assumir sua responsabilidade na luta antirracista. Quantos Betos? Qual pessoa branca você viu ser vítima dessa violência?” Ela fixou as postagens também no instagram e no facebook.

Uma hora mais tarde das manifestações da candidata, Melo também foi ao twitter. “Acabo de saber da morte de um homem negro por seguranças do Carrefour da zona norte aqui de Porto Alegre. Um absurdo! As cenas são chocantes. Justamente no dia Nacional de luta contra o racismo. Medidas rigorosas devem ser tomadas imediatamente!”

Na manhã desta sexta, o candidato postou no twitter um card sobre racismo e em alusão ao Dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro. “Acabar com o racismo e a desigualdade é fazer do mundo um lugar melhor.” Na metade da manhã, colocou no facebook e no instagram um vídeo com uma breve manifestação sua sobre o 20 de novembro, a ser incluído na propaganda na TV, que também tem início nesta sexta. Até às 10h o candidato não havia feito referência à morte no instagram ou no facebook.

Os cinco integrantes da recém-eleita bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre se mobilizaram ainda durante a madrugada e organizam um ato em frente ao supermercado, que ocorrerá a partir das 18h. Manuela incluiu a participação na manifestação em sua agenda desta sexta. O estabelecimento amanheceu fechado. Entre os cinco vereadores, duas são do PCdoB, partido de Manuela; uma do PT, partido do seu candidato a vice, e dois do PSol, que apoia a candidata neste segundo turno. Antes da manifestação às 18h há a expectativa sobre pronunciamento da candidata e Manuela durante sua participação em um ato pela consciência negra que ocorrerá a partir das 12h, na Praça do Tambor, no Centro. O ato já estava marcado anteriormente, como parte das atividades alusivas ao 20 de novembro.

Enquanto os desdobramentos públicos ganham força, nos comandos das duas campanhas é feita a avaliação sobre qual o impacto do assassinato e seu contexto poderá ocorrer sobre a disputa eleitoral em Porto Alegre. As semelhanças com o caso de George Floyd nos Estados Unidos, o turbilhão de protestos que ele desencadeou, e o impacto sobre a política são alguns dos fatores levados em conta. A ‘luta antirracista’ é uma das bandeiras de campanha de Manuela e seus apoiadores. Melo, por sua vez, tem parte dos apoiadores alinhados aos discursos dos presidentes norte-americano, Donald Trump, e brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido). Esses grupos não dão destaque ao termo antirracista, ao qual costumam fazer um contraponto com o slogan ‘lei e ordem’. Ciente da diferença entre as bandeiras, a campanha de Melo já se movimenta. Faltavam poucos minutos para as 11h nesta manhã quando a coligação que ele encabeça divulgou uma nota de pesar. Na sequência, o candidato alterou a agenda, incluindo uma ação que não estava prevista na original. Um ato contra o racismo na praça Brigadeiro Sampaio, também no Centro, às 13h. No início da tarde, nova alteração: a coligação cancelou todas as atividades externas desta sexta, mantendo apenas a contra o racismo.

A campanha de Manuela já vem vinculando Melo a Bolsonaro. No debate de ontem, a candidata repetiu, em mais de uma ocasião, que o emedebista é apoiado pelo presidente. Ele negou, afirmando que são apoiadores de Bolsonaro que estão com ele, mas não o presidente. E tentou estabelecer um contraponto, respondendo que Manuela é apoiada pelo ex-presidente Lula. Ela não negou. Nesta sexta, enquanto os protestos se multiplicam não apenas em Porto Alegre, mas também pelo país, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) cumpre atividades que já estavam marcadas no RS. Pela manhã, ele esteve em agenda vinculada ao armamentismo na Capital. "...em Porto Alegre recebendo demandas e analisando o cenário das armas", postou no twitter às 14h.

Na quarta-feira chegaram a circular informações de que Eduardo Bolsonaro participaria em Porto Alegre da campanha de Melo. A informação foi citada na mensagem enviada pelo presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, a integrantes do partido no RS também na quarta, em meio a disputa interna sobre se a sigla apoiaria Manuela ou Melo no segundo turno. A assessoria de comunicação da campanha do emedebista, contudo, refutou a possibilidade, informando que não seria realizada nenhuma agenda ou encontro entre o candidato e o deputado paulista.

Correio do Povo

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