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sábado, 21 de novembro de 2020

Bolsa fecha em baixa de 0,59% e dólar aproxima-se de R$ 5,40

 A moeda americana no mercado à vista encerrou o dia cotada a R$ 5,3858, em alta de 1,35%


Apesar do ajuste nesta última sessão, abatida por convergência negativa entre o doméstico e o exterior, o Ibovespa emendou a terceira semana de ganhos, que elevam a 12,87% a recuperação observada no mês, após o revés colhido no intervalo entre agosto e outubro. Faltando seis sessões para o fechamento de novembro, o avanço supera até aqui, com certa folga, o desempenho de abril quando, vindo da queda livre de 29,90% em março, o Ibovespa subiu 10,25%.

Hoje, o índice bambeou mas, ao final, conseguiu sustentar no fechamento a linha de 106 mil pontos, marca acima da qual se manteve nos últimos cinco encerramentos, vindo de 104.723,00 na semana passada. Nesta sexta-feira, terminou em baixa de 0,59%, aos 106.042,48, com máxima na sessão a 106.763,96 pontos. Na semana, experimentou os 107.248,63 no encerramento do dia 17, em seu melhor nível desde 21 de fevereiro, véspera da correção posterior ao carnaval. No ano, o Ibovespa cede agora 8,30%, após avanço de 1,26% nesta semana, o terceiro consecutivo, estendendo ganho de 3,76% e 7,42% nas anteriores.

Bem mais fraco do que os extraordinários volumes observados no mês - em duas ocasiões acima de R$ 50 bilhões -, o giro financeiro ficou limitado hoje a R$ 24,4 bilhões, em conformidade ao padrão da B3. Na mínima do dia, o índice caiu a 105.680,28 pontos, refletindo, assim como o dólar e os juros futuros, a piora da percepção sobre a situação fiscal do País, após o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter levantado na noite de ontem, em apresentação a investidores, a possibilidade de vender reservas para abater dívida.

Os efeitos da fala foram mitigados nesta tarde pelo secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, ao observar que a gestão das reservas cabe ao Banco Central. "A fala do ministro Guedes entrou em contexto de uma gestão macroeconômica mais integrada e melhor desenhada. É esse o entendimento que temos", justificou. Ainda assim, Waldery confirmou que, caso o BC decida de fato tomar ações nessa direção, haverá um impacto positivo importante sobre a dívida bruta. "Sobre a venda de reservas quem fala é o BC, e sobre ficar atento ao nível de endividamento se expressa o Ministério da Economia", concluiu.

Permanece, contudo, a sensação de que a equipe econômica, no debate público, busca testar reações a caminhos possíveis para 2021, ano em que a trajetória da dívida continuará a ser ponto central na gestão das expectativas sobre as contas públicas, e no qual a concessão de auxílios e estímulos ainda permanecerá essencial à sustentação da atividade e do consumo.

Para piorar, a falta de diálogo entre o governo Trump e a oposição democrata, a dois meses da transferência de poder nos EUA, contribui para a cautela neste fechamento de semana, moderadamente negativo em Wall Street. As notícias positivas que emergiram nas últimas duas semanas, sobre as vacinas em desenvolvimento avançado, deram fôlego ao apetite por risco, mas tal movimento começa a dar sinais de cansaço ante a realidade imediata, de retomada de distanciamento social na Europa e de falta de controle sobre a progressão da pandemia nos EUA - com sinais de recrudescimento também no Brasil.

"Os mercados estão tentando descobrir se a incerteza de curto prazo produzirá retração significativa nas ações. A escalada da pandemia está pressionando o Congresso (americano) a aprovar pacote de estímulo com benefícios federais a desempregados e ajuda a pequenas empresas. O pedido incomum do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, para que o Fed devolvesse algum dinheiro surpreendeu a todos", escreve em nota Edward Moya, analista da OANDA em Nova York, comparando a posição de Mnuchin ao personagem "Grinch", uma criatura verde que odeia o espírito natalino. "Algumas partes do país estão prestes a ver o pior da Covid-19 e agora não parece ser o momento de retirar suporte", diz o analista.

Apesar da moderação na euforia, o mercado está mais otimista sobre o desempenho do Ibovespa no curtíssimo prazo. O entusiasmo imediato tem relação com o fluxo estrangeiro, que ganhou empuxo desde a eleição americana, no início do mês. Após ter se mantido acima de R$ 2 bilhões em cinco sessões de novembro, a série de aportes prosseguiu ainda sem interrupções no mês, anteontem, de acordo com os mais recentes dados, divulgados hoje pela B3. Na quarta-feira, 18, os estrangeiros colocaram, em termos líquidos, mais R$ 965 milhões no mercado à vista - o 12º saldo diário positivo seguido. No entanto, foi a primeira sessão desde o último dia 6 em que o ingresso estrangeiro ficou abaixo de R$ 1 bilhão.

Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, observa que o superávit estrangeiro na B3 em novembro, agora a R$ 25,726 bilhões, supera o saldo negativo, de R$ 24,2 bilhões, registrado no auge da crise, em março - e é também o maior da série histórica mensal, que retroage a 1995. Tal fluxo comprador contribui para manter viva a possibilidade de o Ibovespa recuperar, em breve, a linha de 110 mil pontos, acrescenta o analista, apesar das dificuldades internas, "sem solução efetiva do governo para o quadro fiscal".

Após um avanço de 29,24% ontem, quando foi impulsionada pela aquisição de parcela de dois campos no pré-sal, as ações da PetroRio devolveram hoje parte do ganho, ao fechar em baixa de 6,07%, na ponta negativa do Ibovespa na sessão, à frente de Gol (-3,91%) e Ecorodovias (-3,44%). As ações da Petrobras tiveram desempenho moderadamente negativo (PN -0,71% e ON -0,61%), enquanto Vale ON obteve ganho de 1,06% na sessão. Os bancos fecharam em baixa, com perdas que chegaram a 3,30% (Santander) nesta sexta-feira. Na face positiva do Ibovespa, destaque para Pão de Açúcar (+4,55%), IRB (+4,34%) e Cielo (+3,45%).

DÓLAR

A posição defensiva tomada pelos investidores foi preponderante durante a sessão de negócios desta sexta-feira, 20, sendo pautada pelo recrudescimento das preocupações com a questão fiscal e, agora, sobre quais caminhos o governo deve adotar para tentar domar a expansão da dívida pública após o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dito que é possível vender reservas para abater parte do endividamento que deve encerrar 2020 muito perto de 100% do Produto Interno Bruto (PIB). A moeda americana no mercado à vista encerrou o dia cotada a R$ 5,3858, em alta de 1,35%. No acumulado da semana, a variação ainda foi negativa em 1,64%.

Na noite desta quinta, 19, Guedes afirmou que fará "o que for necessário" para reduzir a dívida e citou, entre o cardápio de medidas para atingir esse objetivo, a possibilidade de "até vender um pouco de reservas". O barulho do mercado de câmbio levou, inclusive, o secretário especial da pasta, Waldery Rodrigues, a se explicar hoje: "A fala do ministro Guedes entrou em um contexto de uma gestão macroeconômica mais integrada e melhor desenhada. É esse o entendimento que temos", respondeu. Ainda assim, Waldery confirmou que, caso o BC decida de fato tomar ações nessa direção, haverá um impacto positivo importante sobre a dívida bruta. Ele lembrou que isso já foi feito no ano passado.

Uma das leituras feitas por integrantes do mercado é a de que, no ato da venda das reservas, de fato, o real se valoriza. No entanto, no minuto seguinte, ficará mais fraco porque a situação externa do país ficará mais suscetível. "O Brasil estaria em situação muito mais crítica, também do ponto de vista da nota soberana de crédito, se não tivesse esse colchão das reservas internacionais", diz Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimento.

Nesta semana, em relatório no qual manteve o rating (BB-) e a perspectiva negativa inalterados, a agência de classificação de risco Fitch Ratings reforçou que o setor externo segue sendo a fortaleza do país. "Até porque, para abater a dívida, não deverá ser um volume muito pequeno. O mercado já enxerga adiante, pensando que vai enfraquecer em um dos pontos mais fortes das contas do país".

JUROS

Os juros fecharam em alta nesta sexta-feira, 20, junto com a piora do dólar, batendo máximas à tarde quando a moeda voltou a se aproximar dos R$ 5,40. Os vértices intermediários e longos foram destaque e a curva ganhou inclinação não somente em relação a ontem como também no balanço da semana. A leitura negativa das declarações do ministro Paulo Guedes, ontem à noite, sobre a possibilidade de usar reservas para abater dívida e de que vai retomar a discussão sobre aumento de impostos depois das eleições, continuou pesando nos negócios na etapa vespertina, num contexto de piora na credibilidade do governo quanto às ações para resolver a questão das contas públicas. As taxas longas, mais sensíveis ao risco fiscal, encerraram no maior patamar desde o período entre abril e maio.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou a sessão regular e a estendida em 3,36%, de 3,295% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,986% para 5,12% (regular) e 5,11% (estendida). O DI para janeiro de 2025 fechou a regular com taxa de 6,95% e a estendida em 6,96%, de (6,805% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 7,604% para 7,74% (regular) e 7,76% (estendida).

A abertura do mercado até que foi "tranquila", com juros acompanhando a reação inicial do dólar em queda à fala de Guedes sobre o uso das reservas, mas depois ambos entraram em trajetória ascendente, com os analistas fazendo diversas leituras negativas das declarações. Uma delas é que, diante da dificuldade em resolver a questão fiscal com instrumentos tradicionais, como reformas e corte de gastos, o governo estaria apelando para ferramentas heterodoxas. "Esta não pode ser uma estratégia visando à redução da dívida, cuja trajetória precisa ser revertida por uma mudança da própria dinâmica fiscal", afirmou o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto, para quem a venda do estoque das reservas traria apenas alívio temporário.

A declaração também foi vista como mais uma intervenção verbal para encobrir a falta de medidas concretas, uma vez que as matérias, mesmo as menos complicadas que as reformas, não avançam no Congresso. "É o tipo de coisa que não se avisa antes, vai lá e faz. Isso acaba minando a confiança do mercado", disse o estrategista-chefe do CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.

Sobre a retomada da discussão de aumento de imposto pós-eleições colocada pelo ministro, Caramaschi vê um desgaste desnecessário, dada a conhecida resistência do Congresso. "Retomar esse assunto é extemporâneo. Tem de se concentrar no que já está lá. Isso sim ajudaria a desfazer o mal-estar", disse. A semana termina sem a discussão na Câmara dos projetos que estão parados na Casa, como o de autonomia do Banco Central aprovado no Senado e da navegação de cabotagem, como havia prometido o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR) na semana passada.


Agência Estado e Correio do Povo

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