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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

LIBERAL POR CONVENIÊNCIA? NÃO, OBRIGADO!

Por Roberto Rachewsky

 

Existem dois tipos de liberais. O liberal por princípio e o liberal por conveniência. O primeiro, chamado também de liberal-raiz é moralista ao extremo, radicaliza na defesa de uma ética individualista que olha o ser humano como algo munido de características únicas entre os seres vivos que fazem com que ele precise para viver de um ambiente adequado para que possa criar, produzir, manter e consumir as coisas que o irão manter.

 

    Criar, produzir, manter e consumir são ações individuais que visam prover valor para usufruto do próprio ator com o propósito deste de realizar as coisas que deseja para si ou para os seus. O liberal-raiz não responde pelos outros as inevitáveis perguntas: - "Esse bem, esse produto, esse serviço, tem valor para quem e para o quê?". O liberal-raiz permite. Ou melhor, defende, luta, para que cada indivíduo responda tais perguntas para que possa exercer o que a sua natureza, o que o seu ser exige moralmente, a liberdade e a responsabilidade de prover para si, com o próprio esforço, aquilo que o permitirá, no mínimo, existir e, no máximo, ser feliz por mérito próprio.

 

    O liberal por conveniência é utilitarista. Defende a liberdade porque entende que ela é um meio justificável, não por causalidade intrínseca, mas pelos fins que se pretende atingir. O liberal por conveniência é pragmático, tudo que tiver que ser feito para atingir os objetivos aos quais ele se dedica, deve ser feito, independentemente de qualquer princípio. O princípio do pragmático é não ter qualquer outro princípio que não esse. Para o pragmático, para quem e para o quê serve determinado valor a ser criado, produzido, mantido e consumido não é respondido individualmente pelo ator, mas sim por ele, que se vê na condição de um grande regente da vida em sociedade. Para o pragmático, o objetivo é satisfazer a vontade do maior número de pessoas da melhor forma possível, independentemente dos sacrifícios que ele tiver que causar a quem quer que seja. Menos a ele, é óbvio.

 

    Quando eu digo que há liberais por conveniência, eu quero dizer que esses não são a favor da liberdade incondicionalmente. Volúveis, acreditam que há circunstâncias nas quais a liberdade é inconveniente, mesmo sendo o seu exercício ou a sua defesa moralmente justificados. O liberal por conveniência se molda às circunstâncias como um Zelig do Woody Allen, cuja aparência e comportamento se moldam ao ambiente em que estão inseridos, não como forma de reconhecimento da realidade mas porque tolerar o intolerável é mais confortável. O liberal por conveniència, se tiver que se tornar seu oposto, não hesita nem um pouco, se adapta pragmaticamente e achará justificativas razoáveis para defender seu ponto.

 

    Há várias escolas de pensamento liberal, entre elas aquela criada por Ayn Rand que colocou de pé uma filosofia própria, baseada em pensadores clássicos como Aristóteles. Ayn Rand foi descrita por Milton Friedman, pai de outra escola de pensamento liberal, como uma radical, extremista e intolerante. Não apenas ela, mas Ludwig von Mises, outro liberal por princípio, foi por taxado de inflexível.

 

    Ayn Rand dizia que a pior filosofia que há é o pragmatismo. Para ela, e para mim também, o pragmatismo não apenas abre mão de princípios, mas subverte também o que faz com que sejamos diferentes dos outros animais, a capacidade única e indispensável de fazermos abstrações.

 

    Na política, os pragmáticos tendem ao autoritarismo. Para satisfazer o maior número possível de pessoas, não se importam de violar os direitos individuais de ninguém. Dizem saber o que é melhor para a maioria do povo e para não sofrer oposição, quando não usam de coerção exacerbada, cultuam o relativismo moral e o subjetivismo conceitual, sem deixarem de monopolizar as virtudes e as verdades sofismando para aqueles que tiveram sua capacidade de pensar tolhida com a corrupção da linguagem, tática que permite a perversão dos conceitos, a inversão dos valores e a destruição da capacidade de abstração que faz com que os seres humanos possam criar e produzir os valores necessários para civilizarem-se.

 

    Liberais por conveniência são o elo fraco dessa espécie rara. Sua falta de convicção principiológica é que transforma a luta para a implementação do capitalismo laissez faire, o sistema social onde os direitos individuais são considerados inalienáveis, numa guerra inglória. A defesa do capitalismo não pode ser utilitarista, isso seria contraditório. Nem pode se dar por mera conveniência. Não é porque o capitalismo oferece melhores condições sócio-econômicas para as sociedades, que ele deve ser defendido. O capitalismo é o melhor sistema porque é o únicoo que reconhece que o ser humano é racional e, para viver como tal, precisa necessariamente do direito à liberdade e à propriedade para realizar seus sonhos na busca incessante pela felicidade.

 

    O capitalismo não é o sistema no qual os indivíduos se associam e interagem com o objetivo de servir a sociedade. O capitalismo é o sistema social que reconhece que cada indíduo é um fim em si mesmo e sua liberdade e propriedade tem uma razão só de ser defendida, a própria felicidade de quem pensa e age livremente para usufruir dos frutos do seu trabalho.

 

    Uma sociedade é próspera no capitalismo porque toda sociedade é copmposta de indivíduos e se os indivíduos conseguem florescer e prosperar, é fácil constar que a sociedade por eles formada floresceu e prosperou. Nenhuma sociedade prospera à revelia dos indivíduos que dela fazem parte. Isso, nenhum liberal por conveniência dirá, porque pode não ser suficientemente conveniente dizer.

 

    Como eu sou um liberal-raiz, eu digo com convicção e com intrangigência que sociedades planejadas centralmente, onde economias mistas proliferam, onde os governos são imbuídos de fazer pelos indivíduos, o que estes deveriam fazer para si, não tem nada de capitalismo porque a ética do coletivismo estatista sufoca o indivíduo que se vê como um fim em si mesmo.


Pontocritico.com

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