quinta-feira, 6 de junho de 2024

Reunião aborda situação de famílias que invadiram antigo hotel em Porto Alegre

 Grupo deve reunir assinaturas que serão encaminhadas ao Judiciário e tentará com o Governo Federal a aquisição do prédio no Centro Histórico de Porto Alegre

Reunião foi realizada na Câmara com a presença de autoridades e das famílias que invadiram o espaço 

Uma reunião realizada na tarde desta quarta-feira, na Câmara de Vereadores, discutiu o futuro de 45 famílias que invadiram um antigo hotel abandonado na rua Coronel Fernando Machado, no Centro Histórico de Porto Alegre. Essas famílias, provenientes principalmente da zona Norte da capital, de bairros como Humaitá e Sarandi, foram deslocadas devido às recentes enchentes e encontram-se no local há mais de 10 dias.

Com a presença de autoridades políticas e judiciárias, além de associações e dos próprios abrigados, ficou definido o encaminhamento de um documento ao judiciário, após o recolhimento de assinatura de autoridades, organizações e apoiadores. Uma das hipóteses abordada é a venda do hotel e, por isso, a ideia é que ocorra uma nova reunião com o ministro Paulo Pimenta, já que o Governo Federal afirmou que vai garantir moradia para todos que perderam casas. Desta forma, seria possível a aquisição do imóvel para manutenção destas famílias no local.

Durante a reunião, a defensora pública e dirigente do núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, Gizane Mendina, explicou que a Defensoria atua desde a última sexta-feira, indo ao local para conversar com os moradores para analisar a situação. Ela observou que, no dia da tentativa de execução da reintegração de posse, a Defensoria Pública tentou intermediar para evitar que as pessoas fossem colocadas na rua, pois não havia um plano para realocá-las.

Gizane também mencionou a sua atuação em abrigos da Capital e os problemas enfrentados lá, como a falta de privacidade. Apesar da tentativa de encontrar uma solução extrajudicial, a atuação está focada em conter danos e garantir os direitos humanos dos invasores. “Nos dirigimos ao local para tentar intermediar a situação, para que não fosse concretizado naquele momento, um momento de absoluta catástrofe climática a desocupação do prédio, a colocação das pessoas na rua. O que a gente verificou é que, na verdade, não havia nenhum tipo de planejamento contra a destinação das pessoas que estavam ali. Não havia sequer um caminhão, um ônibus para que fosse possível essas pessoas se deslocarem para algum lugar”, explicou.

A vice-presidente da Associação dos Abrigados da Enchente, Natally Martins, destacou a necessidade de organização e dignidade para os afetados pelo desastre. Apesar das limitações, ela disse que todos os abrigados estão com comida, espaço e privacidade, algo que o governo não tem condições de oferecer nos abrigos. Ela afirmou que o grupo busca informações corretas e lutam por seus direitos, incluindo acesso a moradias dignas.

Outra integrante do grupo, Maelia Alexandra disse que os questionamentos surgiram porque muitos os invasores são da periferia. Ela afirmou que todo o grupo foi muito bem recebido pelos vizinhos. “Eles falaram que a nossa presença ali melhorou o ambiente”, relatou. “A gente procura dignidade. Quando saiu aquele projeto, de as pessoas serem levadas para o Porto Seco, já deu outro desespero, porque o projeto não leva em consideração a guerra entre facções e colocaria as famílias lá dentro”, acrescentou.

Maelia também ressaltou a importância de levar em consideração o emocional de todas vítimas da enchente. “Além de termos pedidos tudo, a nossa saúde mental foi muito afetadas. Nós não estamos nos sentindo acolhidos pelas propostas que estão sendo feitas”, declarou.

Patrícia Unuane Dias é moradora do Centro Histórico e estava na reunião em apoio aos moradores que estão no prédio. Ela revelou que a sua casa também foi atingida pela enchente e precisa de uma grande reforma estrutural para poder voltar à residência. “Eu moro no centro há 14 anos e aquele prédio sempre foi abandonado. Foi com muita alegria que a gente viu que as pessoas foram morar lá em busca das suas dignidades. Nós achamos que é o momento de nós apoiarmos”, disse.

Entre as autoridades que participaram da reunião, o vereador Roberto Robaina defendeu a comunidade que ocupou o espaço. “Um hotel abandonado há mais de 10 anos, com dívidas com a Prefeitura e sem cumprir nenhuma função social, não pode continuar nessa situação quando temos milhares de pessoas sem teto em função das enchentes. Deve servir de moradia provisória”, disse.

Colaborou: Paula Maia



Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário