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terça-feira, 21 de março de 2023

Doentes

 "Os doentes são o maior perigo para os sãos; não é dos mais fortes que vem o infortúnio dos fortes, e sim dos mais fracos. Isto é sabido?

Os "doentios" são o grande perigo do homem: não os maus, não os "animais de rapina".
Aqueles já de início desgraçados, destroçados, vencidos - são eles, são os "mais fracos" os que mais corroem a vida entre os homens, os que mais perigosamente envenenam e questionam nossa confiança na vida, no homem, em nós.
Onde se poderia escapar a ele, àquele olhar voltado para trás do homem deformado na origem, que revela como tal homem fala consigo mesmo - "Quisera ser outra pessoa, mas não há esperança. Eu sou o que sou: como me livraria de mim mesmo? E no entanto - estou farto de mim!"...
Neste solo de autodesprezo, verdadeiro terreno pantanoso, cresce toda erva ruim, e tudo tão pequeno, tão insincero, tão adocicado. Aqui pululam os vermes da vingança e do rancor; aqui o ar fede a segredos e coisas inconfessáveis; aqui se tece continuamente a rede da mais malévola conspiração - a conspiração dos sofredores contra os bem logrados e vitoriosos, aqui a simples vista do vitorioso é odiada. E que mendacidade para não admitir esse ódio como ódio! Que ostentação de grandes palavras e atitudes, que arte de calúnia "honrada"! Esses malogrados: que nobre eloquência flui de seus lábios! Quanta resignação humilde, viscosa, açucarada, flutua em seus olhos! Que desejam realmente? Ao menos "representar" o amor, a justiça, a superioridade, a sabedoria - eis a ambição desses enfermos! Eles agora monopolizaram inteiramente a virtude, esses fracos e doentes sem cura: "nós somente somos os bons, os justos", dizem eles. Eles rondam entre nós como censuras vivas - como se saúde, boa constituição, força, orgulho, sentimento de força fossem em si coisas viciosas, as quais um dia se devesse pagar, e pagar amargamente: oh, como eles mesmos estão no fundo disposto a fazer pagar, como anseiam ser carrascos! Entre eles encontra-se em abundância os vingativos mascarados de juízes, que permanentemente levam na boca, como baba venenosa, a palavra "justiça" e andam sempre de lábios em bico, prontos a cuspir em todo aquele que siga seu caminho de ânimo tranquilo. Entre eles não falta igualmente a mais nojenta espécie de vaidosos, os monstros de mendacidade que buscam aparecer como "almas belas" e exibem no mercado, como "pureza do coração" sua sensualidade estropiada. A vontade dos enfermos de representar uma forma qualquer de superioridade, seu instinto para vias esquivas que conduzam a um tirania sobre os sãos - onde não seria encontrada, essa vontade de poder precisamente dos mais fracos!
Esses são todos homens do ressentimento, estes fisiologicamente desgraçados e carcomidos, todo um mundo fremente de subterrânea vingança, inesgotável, insaciável em irrupções contra os felizes, e também em mascaramentos de vingança.
Mas não poderia haver erro mais fatal do que os felizes, os bem logrados, os poderosos de corpo e alma começarem a duvidar assim do seu direito à felicidade! Fora com esse mundo ao avesso!
Que os doentes não tornem os sadios doentes e isso requer, acima de tudo, que os sadios permaneçam apartados dos doentes, guardados inclusive da vista dos doentes, para que não se confundam com os doentes.
O superior não deve rebaixar-se a instrumento do inferior.
Ar puro, portanto!
E afastamento de todos os hospícios e hospitais da cultura!
E portanto boa companhia, a nossa companhia!
Ou solidão, se tiver de ser!
NIetzsche


Fonte: https://www.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid0tX7E3tFHoR5kZAcTwrvhX5M9p7VJcUj4ckqGQc7XxuW7PwzCwgFM1SAxYXMHbwGXl&id=100001275065317

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